quarta-feira, 9 de julho de 2025

Assistindo uma nova queda da democracia

 

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Ao longo da minha vida assisti duas grandes rupturas institucionais.
A primeira, com 12 anos, quando, em 1964, os militares assumiram abruptamente o poder no Brasil.
A elite da sociedade brasileira, apavorada com o fantasma do comunismo, considerou normal medidas de restrição de direitos e aceitou, passivamente, a ditadura com poderes excepcionais, que utilizava-se de prisões arbitrarias, torturas e mortes.
Entretanto, essa ditadura não era personalista.
Havia um simulacro de democracia, na medida que os ditadores se revezavam em mandatos presidenciais "eleitos" pelo Congresso, que estava sob seu domínio.
Foi a nossa sorte, pois aos poucos ela foi perdendo força ate que em 1985 fizeram a devolução dos poderes aos civis.
Sessenta anos depois, assisto nos EUA, que para mim e para o mundo, era a expressão máxima da democracia, passar por algo semelhante, após a eleição de Trump.
Mas, a ruptura nos EUA esta com vestimenta nova.
Não aconteceu abruptamente, mas acontece homeopaticamente.
Primeiro, Trump assumiu um discurso deslegitimando as eleições.
Apesar de ter ganho com vantagem a eleição!
Depois, nomeou aliados em postos estratégicos do governo e da alta cúpula do Judiciário e conta com o apoio do Congresso, de maioria republicana.
Com a narrativa de combate ao desperdício do dinheiro publico, demitiu funcionários públicos essenciais para o funcionamento da democracia e esvaziou diversas entidades de apoio social.
Trump também precisava de um inimigo, para ele demonstrar seu patriotismo, dentro do lema "Tornar a América Grande Novamente".
Estabeleceu os imigrantes como o inimigo dos EUA.
Coisa que já havia feito em seu mandato anterior, mas desta vez com um combate com mais enfase.
Mas, não ficou só no âmbito interno.
Também identificou o mundo como inimigo dos EUA!
Impôs, abusivamente, altas taxações de produtos importados de países com quem os EUA mantem ha décadas relações comerciais, provocando instabilidade no mercado de livre comercio. 
A justificativa é que o mundo se locupletava com a facilidade em exportar aos EUA, esquecendo-se que, graças a essa liberdade, o povo americano tirava proveito ao ter acesso do bom e do melhor produzido no mundo, a um preço relativamente baixo. 
E que impondo taxas altas de importação, quem perderá será o povo americano, que poderá ter reduzida a diversidade de produtos e ter seus preços elevados.  
Trump caminha a passos largos para a autocracia, não de esquerda, como aconteceu em diversos países latino americanos, mas de uma direita autoritária, que mesmo empunhando bandeiras liberais de mercado, consegue enganar as pessoas, como se faz com um sapo na água quente, que não se da conta do perigo e morre com a fervura lenta.
Age como se fosse um Imperador Romano, que dominava o mundo Ocidental.
Ao invés de ser um Julio Cezar, parece mais um Nero querendo incendiar o mundo.
A sorte dos americanos é que Trump esta com idade avançada, mas deixara herdeiros que podem sucede-lo e piorar a situação.
Mas, como sempre, tudo é eterno enquanto dura.