quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A "saidinha" que saiu de cena

 


Toda inovação, para funcionar a contento, precisa ser bem planejada.
No Brasil essa condição é difícil de materializar-se.
Daí que, infelizmente, poucas são as inovações que prosperam por aqui.
Quando os legisladores, no passado, entenderam que as “saidinhas” de presidiários era uma condição importante no processo de ressocialização dos mesmos, não enxergaram que não bastava a “saidinha” para se atingir esse objetivo.
Todo o sistema prisional precisaria de uma revisão geral para adequação a um projeto de ressocialização.
Que não houve.
Tudo é feito pela metade.
Depois, na aplicação do beneficio, não foram cumpridos, com rigor, os requisitos técnicos para contemplar os beneficiados.
O resultado foi que as “saidinhas” se prestavam a novas investidas criminais de alguns detentos contemplados.
Aquilo que seria um avanço humanitário acabou por tornar-se motivo de criticas da sociedade, que passou a ver a “saidinha” como um mal que deveria ser extinto.
Isso fez com que o Congresso reagisse, no sentido contrario ao que foi aprovado anteriormente, e votasse o fim da “saidinha”.
Como sempre, parecemos caranguejos.
Vamos para frente e vamos para trás.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Na corda bamba

 


Nós brasileiros temos uma característica marcante.
Vamos do 8 ao 80 com uma rapidez inacreditável.
Esse nosso voluntarismo, na politica, mostrou-nos que num momento idolatramos um mito, outra característica nossa, de criar mitos, e depois o defenestramos.
Como fizemos com Lula.
Votamos nele por duas vezes, elegemos sua sucessora Dilma, por duas vezes, ate atingirmos repugnância contra Lula, Dilma e ao PT, pela descoberta de mensalão e petrolão.
Ai, graças a Lava Jato, Lula foi processado, julgado e preso, como aconteceu com vários corruptos políticos e empresários.
Sentimos uma satisfação por isso, com exceção dos petistas e aliados ao PT.
Ate o momento em que Lula foi reabilitado pelo Supremo.
Ai, como num passe de magica, esquecemos tudo que ele fez e elegemos Lula presidente.
Agora acontece o mesmo com Bolsonaro, semelhante ao que aconteceu com Lula na Lava-Jato.
Tudo começou pelo fato de que Bolsonaro fez um governo cheio de desacertos, que demonstraram um certo amadorismo.
Isso, para alguns, era esperado.
Afinal Bolsonaro nunca teve uma carreira idealizada para ser presidente, como aconteceu com Lula, que desde 1989 tentou se eleger presidente, conseguindo só em 2002.
Além do fato de Lula ter um partido politico leal a ele desde sempre.
Já Bolsonaro, para começar, nunca teve um partido que o apoiasse e servisse para o eleger.
Ele que se servia do partido para poder se eleger como deputado. 
Depois descartava e trocava de partido.
Bolsonaro vivia no limbo da politica nacional. 
De repente, graças a repugnância que adquirimos contra Lula e o PT, ele surgiu como a alternativa contra Lula e o PT e conseguiu se eleger presidente.
Na presidência, Bolsonaro mostrou-se mais interessado em se manter no poder do que governar.
Afinal, Bolsonaro nunca teve um programa de governo.
Usava a imagem de Paulo Guedes, que vendia como o resolvedor de todos os problemas do governo. 
O resultado é que não conseguiu ser reeleito.
Parte dos eleitores que votaram nele contra o PT na eleição que o elegeu, agora estavam contra ele.
Ainda que a margem de diferença entre ele e Lula tenha sido pequena, foi o suficiente para eleger Lula.
Com Bolsonaro fora do poder, começaram a surgir indícios de uma trama que envolvia Bolsonaro numa tentativa de um golpe de estado.
Houve a invasão dos vândalos, que depredaram as instituições em Brasilia, que pretendiam dar suporte a um golpe de estado pelos militares.
O Supremo assumiu a defesa da democracia e agiu rapidamente contra os vândalos, prendendo um grande numero de adeptos.
Na sequencia começou o cerco a Bolsonaro, começando com a descoberta de posses de bens, que pertenciam a união, que estavam na posse dele.
Além de um suposto uso de documento falso, relativo a atestado de vacinação.
Em seguida, o TSE julgou Bolsonaro inelegível por cometer abuso de poder politico e uso indevido dos meios de comunicação.
Com a
 delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, o processo de investigação, pelo Supremo, contra Bolsonaro, a cada dia, foi descobrindo fatos que procuram caracterizar que ele tenha cometido o crime de abolição violenta do Estado democrático de direito e tentativa de golpe de Estado.
Muitos simpatizantes de Bolsonaro entendem que se trata de mais uma perseguição contra o ex-presidente.
Os que ficaram contra Bolsonaro estão sentindo uma satisfação com tudo isso.
Ai surge uma reação contra o Supremo, que ate então, agradava por sua determinação de defender a democracia.
Independentemente de ser a favor ou contra Bolsonaro, as pessoas passaram a ter a percepção de que o Supremo esta agindo além do que determina a Constituição para aquela instituição.  
Muitos congressistas, que se elegeram na esteira do bolsonarismo, começam a se movimentar na tentativa de frear as investidas do Supremo.
Podem não conseguir nada, pois o comando da Senado, no final, é quem decidira que medidas tomar.
O Supremo esta numa corda bamba.
Se prender Bolsonaro, confirmará, para muitos, um abuso de poder.
Se não prender, poderá demonstrar, como no caso da extinção dos processos contra Lula, uma remissão.











segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Bolsonaro sera o novo Tiradentes?


Se é crime ou não, tenho minha duvidas.
Entendo que é uma questão que precisa ser analisada com prudencia e imparcialidade.
O fato é que eu, por vários momentos ao longo de 22, temi por um golpe de estado.
O que mais me marcou foi o 7 de setembro.
Havia por todo o Brasil brasileiros enrolados com a bandeira nacional, manifestando apoio a Bolsonaro.
O que mais me marcou foi o da Avenida Paulista, em São Paulo.
Acompanhando pela TV vi as imagens de uma imensa concentração de apoiadores de Bolsonaro, em grande parte da extensão da avenida, todos ávidos pela iminente chegada de Bolsonaro.
Ali todos estavam prontos para apoiar um golpe de estado.
Naquele momento senti um frio na barriga.
Acreditei que seria dado o golpe.
Bolsonaro subiu o palanque e fez um discurso agressivo.
Fiquei apreensivo ate o final do ato, quando ele se retirou, voltou a Brasilia e tudo continuou normal.
Como de outras vezes, não houve golpe nenhum.
Desta vez, porém, talvez frustado pela falta de coragem em dar o golpe e temeroso de um contragolpe, supostamente pelo Supremo com ordem de prisão contra ele, no dia seguinte, Bolsonaro ligou para o ex-presidente Temer.
Pediu a ele que o mesmo o ajudasse a escrever uma "Declaração à Nação", que foi divulgada no dia 9 de setembro.
Essa declaração dizia que Bolsonaro não tinha tido "intenção de agredir" os poderes da republica.
Para mim, foi sua rendição.
A partir daquele momento, ao contrario de que seus fanáticos seguidores ainda acreditavam, Bolsonaro não teria mais condições de efetivar qualquer golpe.
Apenas como comparação, a Inconfidência Mineira também não chegou a vias de fato com sua revolução.
A Lei da época previa pena de morte contra quem se insurgisse contra a coroa.
Entretanto a rainha de Portugal, Maria I, perdoou todos os inconfidentes, aplicando penas brandas.
A exceção foi para Tiradentes, que nem era o "cabeça" da insurreição, que,
supostamente, metido a herói, não se rendeu aos termos do perdão, e foi morto.
Pela reação de Bolsonaro com sua carta de rendição, parece que não pretende entrar para a historia como o novo Tiradentes.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A novela do golpe



Que Bolsonaro tramou tornar-se um ditador, não resta a menor duvida.
Mas, não basta querer.
Tem que ter competência.
O que ele demonstrou não ter.
Como ficou evidenciado nas investigações, Bolsonaro criou o fantasma das urnas fraudadas para ter um inimigo imaginário para combatê-lo e arregimentar adeptos à sua conspiração.
Técnica conhecida de todo candidato a ditador.
A partir dai com o apoio de uma rede de influenciadores difundiu mentiras, desinformação tudo com o objetivo de criar condições para uma grande indignação da população.
Entretanto, o planejamento não contava com ardilosos estrategistas.
Conseguiu, sim, a simpatia de muitos, mas não a ponto de torna-los revoltosos. 
Nem o próprio Bolsonaro conseguiu o apoio da grande maioria da cúpula das forças armadas.
Um ou outro general, pela proximidade a ele, aceitou participar da insurreição.
A maioria, por conhecer o histórico inábil de Bolsonaro, quando foi militar atuante, não teve suficiente confiança nele quanto ele saber agir corretamente para virar um ditador.
Tiveram prudência para não cair numa cilada.
O fato é que não houve nem tentativa de golpe.
Não houve nenhuma ação deliberadamente tentada, que resultou num fracasso.
Simplesmente ficou na ilação.
Ainda que tenham surgido pequenos exércitos de fanáticos, espalhados pelo Brasil, que acreditavam que Bolsonaro daria um golpe antes das eleições.
Mesmo após elas acontecerem e Bolsonaro não ter sido reeleito, eles continuaram acreditando num golpe.
Mesmo depois que Bolsonaro se auto exilou na Florida, esses fanáticos continuaram acreditando no golpe.
Foram e ficaram às portas dos quartéis, clamando para que as forças armadas participassem de um golpe.
Lula foi empossado e o exercito de fanáticos continuava acreditando que se invadissem os prédios do Congresso, do Supremo e o Palácio do Planalto, as forças armadas se mobilizariam para apoia-los.
O que eles não sabiam é que a maioria dos comandos militares não tinha aderido e nem participariam de um pretenso golpe.
Mesmo assim, sem uma liderança à frente da invasão, comandando um plano de ação pré-estabelecido, que não existia, sem armas para enfrentar uma resistência institucional, sem sequestro de nenhuma autoridade para demonstrara a tomada de poder, acreditaram que dariam um golpe.
Era apenas um grupo de fanáticos imprudentes.
Ali também não houve golpe.
Houve vandalismo e depredação, como fazem todos aqueles revolucionários durante a conquista de poder, para demonstrar a quebra dos valores contestados.
Mas, só isso.
O resultado é que muitos foram presos no ato, alguns já condenados, mas não ficou só nos vândalos.
O Estado decidiu ir atrás daqueles que incitaram os revoltosos.
A novela, que se arrasta há mais de um ano, ontem teve mais um capítulo emocionante, com a apresentação de uma lista de militares, que estão sob investigação.
Por mais que Bolsonaro insista na tese de perseguição politica, o fato é que ele deu causa para essa perseguição. 
Se tivesse agido dentro da legalidade, nada disso teria acontecido.