Eram os idos anos da década de 90.
Naquelas férias de julho, havia programado levar minha
mulher e filhos para conhecer o México.
Primeiro conhecemos a cidade do México.
Depois de alguns dias voamos para Cancun onde ficamos num
hotel maravilhoso, que se chamava Camino Real.
Hoje tem outro nome.
Localizava-se ao norte, na esquina da ilha de Cancun, na
chamada zona hoteleira.
Depois de alguns dias em Cancun, decidimos conhecer a ilha
de Cozumel.
Fomos ate Playa Del Carmen para fazer a travessia com um
aliscafo.
Aliscafo é um barco que tem asas ligadas ao casco.
Isso permite a emergência da totalidade do casco,
provocando uma redução significativa na fricção com a água e possibilitando
alcançar uma elevada velocidade.
Ficamos por la alguns dias.
No retorno a Cancun, decidi voltar de avião.
Tinha bilhetes da Aero Cozumel.
Chegando ao aeroporto de Cozumel fui até o balcão da
companhia.
A atendente no balcão explicou que o avião disponível era
pequeno e que não haveria lugar para todos naquele dia.
Como já havíamos deixado o hotel, insisti que precisávamos
voltar naquele dia.
Disse que poderia ir na cabine do piloto.
Ela respondeu que não poderia, pois não era piloto.
Respondi que sim, que era piloto.
Não estava mentindo.
Realmente estava em treinamento para ser piloto....de
ultraleve.
Já havia comprado um aparelho da Microleve e tinha tido
algumas aulas de decolagem, navegação e pouso, com meu amigo e instrutor, o
cantor da jovem guarda Dudu França.
Mas, ainda não estava brevetado.
Mas, ainda não estava brevetado.
Soq eu isso eu não revelei.
Ela ficou de verificar a possibilidade.
Voltou em seguida com a informação que poderíamos
embarcar.
Eu iria na cabine do piloto e meu familiares ficariam
junto com os demais passageiros.
Em poucos minutos fomos autorizados a fazer o embarque.
Tivemos que ir caminhando ate a aeronave.
Éramos um total de 10 passageiros e um piloto.
Era um avião antigo, com 3 motores a hélice.
Dois motores ficavam nas asas e um terceiro no leme.
Nunca tinha visto esse tipo de avião.
A entrada era através de portas laterais, como se fosse um
carro.
Ao me aproximar do avião o piloto me chamou para que
embarcasse pela porta que dava acesso a cabine.
Todos acomodados, o avião decolou.
O piloto ate então estava calado, cumprindo o ritual.
De repente, perguntou-me se era piloto.
Respondi com um sim, com a boca seca.
Ele disse, então, para que eu assumisse o controle da
aeronave.
Eu falei no meu portunhol que não conhecia aquela
aeronave.
Mas, ele insistiu, mostrando-me uma determinada direção
para nos dirigirmos ate Cancun.
Aquiesci.
O piloto me orientou que deveria manter a aeronave na
rota.
Assumi o comando.
Estava eufórico!
Agarrei o manche com a mão firme.
Não havia necessidade, pois não havia nada a fazer.
O avião estava estabilizado e na rota.
Durante o vôo não precisei fazer qualquer correção na
rota.
O vôo levou uns quinze minutos.
Foram os mais longos da minha vida.
Foi quando avistei abaixo o aeroporto de Cancun, a minha
direita.
O piloto disse que eu fizesse as manobras para pouso.
Comecei a suar frio.
Disse para o piloto que ele acertasse os manetes do motor
para o pouso, enquanto eu fazia os procedimentos de pouso.
Ele concordou.
Enquanto ele reduzia a potencia dos motores, eu acionei o
manche para a posição de descida e fazia a curva à direita para alinhar o avião
com a pista.
Sabia fazer esses procedimentos.
Foi quando o piloto disse calmamente que estávamos numa
descida muito acentuada.
Eu argumentei que era assim que fazia com o ultraleve,
para forçar o contato com a pista.
Ele disse que se continuasse naquela posição iríamos
chocar no chão.
Meu filho Ro drigo,
que a tudo acompanhava atentamente, ao ouvir isso, ficou assustado.
Pedia que eu não pilotasse mais o avião, dizendo que eu
não era piloto.
Pedi a ele calma, que estava fazendo tudo certo.
Mas, diante da insistência e percebendo o risco que
poderia expor a todos, larguei a mão do manche e pedi ao piloto que assumisse o
comando total.
Mesmo porque estávamos na final do pouso.
Entretanto, com esse meu procedimento, fizemos o pouso
próximo a cabeceira da pista.
O piloto disse que pousamos muito antes do ponto de
contato. Como a pista era longa ele resolveu brincar.
Ao tocar o trem de pouso sob as asas, ele manteve a
aeronave com a bequilha dianteira elevada, sem tocar no chão, puxando o manche.
Enquanto cantava alegremente uma musica cucaracha mexicana.
Ai eu fiquei assustado.
Mas, tudo bem, chegamos tranqüilos.
Porque conto isso?
Porque, diferentemente daquilo que imaginamos, os pilotos
são gente como a gente.
Estão sujeitos a todas as emoções que temos.
No caso, houve sim uma dose dupla de irresponsabilidade.
Minha e dele.
Ele quis testar minhas habilidades.
Embora em momento algum ele tenha solicitado minha
identificação como piloto.
Ate porque não a teria.
Eu quis provar que era piloto, sem o se-lo.
Embora acreditasse que o piloto estivesse o tempo todo
monitorando meus procedimentos, houve um risco.