As coisas acontecem aparentemente como se fossem imediatistas.
Mas na verdade são resultado de um processo.
Bolsonaro participou, ainda que sem querer, de um processo que o levou a ser Presidente do Brasil.
Bolsonaro foi por anos deputado federal, do chamado baixo clero, que só serve para votar e não palpitar em nada.
Era inexpressivo e desconhecido.
Desde aquela época Bolsonaro era um defensor ferrenho da ditadura militar de 64 e seus métodos de tortura, mesmo tendo sido afastado da carreira militar por indisciplina.
Tinha, em seu gabinete na Câmara, um poster que dizia "quem procura osso é cachorro", sobre a busca dos desaparecidos no Araguaia.
Falava sobre isso sem cerimonia, com deboche e rindo, quando entrevistado sobre o assunto.
Algumas pessoas saudosas da ditadura militar, por lembrar dos memoráveis momentos de fartura da classe media, com emprego fácil e salários em alta, no governo Médici, identificaram em Bolsonaro a pessoa que poderia resgatar aquela época se chegasse ao poder.
Parecia ser apenas uma percepção fugaz, mas acabou ganhando corpo.
Isso porque havia um descontentamento ao governo PTista, que estava envolvido em corrupção e teve resposta do Supremo Tribunal Federal que julgou e condenou vários integrantes do Congresso, PTistas ou não, pelo crime do Mensalão.
Na sequencia surgiu a Lava Jato, que chegou a condenar e prender Lula.
O cenário estava pronto para ter como protagonista um personagem que fosse a marca do anti Petismo, que estava em desgraça.
Ai surgiu, dentro da Câmara, mais um fato a favor de Bolsonaro.
A deputada Maria do Rosaria, PTista de carteirinha, que, em varias oportunidades, antagonizou com Bolsonaro, em bate bocas com agressões verbais inimagináveis, mas, que o fortaleceu.
As aparições dele nas mídias como o cara capaz de enfrentar o PT sem medo fez com que Bolsonaro fosse visto, por alguns, como o único personagem que poderia enfrentar o PT numa disputa a presidente.
Dai para se tornar candidato a Presidente da Republica e vencer a eleição foi um caminho fácil de percorrer.
A verdade é que ao longo de toda sua trajetória na Câmara Federal, Bolsonaro nunca teve aspiração nenhuma de ser tornar um presidente.
Não fez carreira no Executivo como Prefeito e/ou Governador, para adquirir experiencia em cargos de comando.
Ele virou presidente por acaso.
Se Bolsonaro tivesse alguma intenção de ser Presidente da Republica algum dia teria, no minimo, pensado em elaborar um plano de governo.
Coisa que ate Temer, ainda vice de Dilma, já tinha e o aproveitou quando ela sofreu impeachment e ele virou presidente.
Bolsonaro não tinha nenhum plano.
O máximo que fez foi escolher ministros de alta capacidade, como Paulo Guedes e outros, que, em tese, conduziriam o governo.
Por essas escolhas chegou-se a acreditar que faria um bom governo.
Mas, ao invés disso, Bolsonaro dedicou-se a continuar sua luta, utilizando-se da mentira de que as urna eletrônicas eram fraudadas em favor do PT.
Mesmo ele tendo sido eleito pela apuração delas!
E meteu-se numa guerra declarada contra o TSE, na pessoa de Alexandre de Moares.
Nesse momento começou um novo processo na vida de Bolsonaro.
A derrota eleitoral.
Como Bolsonaro quis se candidatar a reeleição e tendo um inimigo declarado, ele virou alvo desse inimigo para ser derrotado na eleição.
Embora, alguns apoiadores de Bolsonaro acreditavam, e continuam acreditando, que as urnas eletrônicas pudessem ser fraudadas, pelo fato de não serem, como derrotar Bolsonaro?
Bolsonaro, ao longo de seu governo, cometeu várias ações e falas que o desabonaram e o fez perder a aura de ser um bom governante.
Assim, perdeu alguns admiradores, que repensaram e decidiram não reelege-lo.
Não era mais o único invencível contra o PT.
Apesar de ainda ser o mais forte, perante os demais candidatos contra o PT.
Tendo essa visão, o Supremo, em reação às provocações que Bolsonaro fazia contra os membros da instituição, vislumbrou que a unica pessoa que teria alguma chance de vencer Bolsonaro era Lula, que estava preso.
Para viabilizar a candidatura de Lula, o Supremo entendeu que as condenações de Lula tinham erros e as anulou, ressuscitando Lula à vida publica.
E, ainda que por uma estreita margem de votos, Lula foi eleito.
Nessa ocasião, um novo processo de iniciou na vida de Bolsonaro.
O golpe de estado.
Por mais que os seguidores de Bolsonaro neguem os fatos, houve
uma tentativa de golpe, que foi frustada, novamente, pela falta de um plano de ação consistente, que Bolsonaro deixou de fazer.
É bem verdade que nunca teve capacidade para isso.
É só lembrar da tentativa, também frustada, de um levante dentro do exercito, que culminou com seu afastamento.
A percepção dos militares foi a mesma.
De improviso não se faz um golpe.
Finalmente, Bolsonaro iniciou um novo processo.
A derrocada politica.
Como ainda esta em fase de ser levado a um julgamento, pelo Supremo, a liderança de Bolsonaro no golpe frustado, se acontecer, como parece que sera, de Bolsonaro ser condenado e preso, ele voltara para o ostracismo, lugar de onde nunca deveria ter saído.