Sou a favor da descriminalização do aborto de
um feto.
Essa questão de vida e morte deveria ser
problema para mim, que sou ateu.
Sim pois para um ateu, ao morrer encerra tudo.
A morte poderia ser um problema
existencial para mim.
Mas, não é.
Encaro essa questão de vida e morte com muita
naturalidade.
Já começa que não tenho aspirações de
eternidade, nem de longevidade.
Também não tenho idéias suicidas.
Luto para viver, como qualquer ser vivo.
Ate quando viver.
Enquanto isso, vou simplesmente vivendo.
Se tivesse sido abortado, nada mudaria.
Não estaria escrevendo sobre o assunto, é certo.
E tudo no infinito continuaria acontecendo,
sem que se desse conta disso.
Já para quem acredita que existe vida apos a
morte, então não deveria se preocupar, mesmo.
Afinal, segundo a teoria da existência apos a
morte, volta-se para de onde se veio.
Então, a vida deveria ser encarada como nada
mais do que uma passagem e a morte apenas como um meio de retorno.
Não entendo esse apego a vida, já que segundo
a teoria do após a morte, tudo é eterno.
Ouvi dizer que ate seria uma existência melhor....
Mas, ninguém que ir conferir!
Deixando de lado as crenças e refletindo dentro do pensamento social.
Acredito que não cabe ao estado decidir sobre
esse assunto.
Antes de tudo, sou um liberal.
Entendo que a presença do estado, em decisões
de foro intimo, diz respeito ao estado apenas quando atingir terceiros.
Sei que muitos argumentarão que feto tem
vida.
E tendo vida é um terceiro.
E abortar seria atentar contra a vida de um
terceiro, justificando que o estado deva intervir.
Discordo disso.
Essa questão de que feto é vida e, portanto,
é um terceiro, tenho entendimento diferente.
Explico.
Partindo do conceito de vida, dentro do mesmo
âmbito, então um espermatozoide
tem vida.
Ainda que não seja um ser humano, um espermatozoide tem vida, sim.
E evitar que o mesmo se una a um ovulo, não é
atentar contra a vida dele?
Ou, no limite, toda mulher, ao ovular, não deveria
obrigatoriamente engravidar, para não encerrar o processo natural de vida?
Exatamente como fazem os animais no cio, que
se acasalam em obediência a determinação genética de se reproduzirem.
Felizmente, estamos distantes dessa época.
Temos conhecimento para decidir quando e se
queremos reproduzir.
Tem filhos quem quer.
Não tem quem não quiser.
Ter filhos é um direito.
Não é mais uma obrigação biológica.
Quanto mais querer que seja uma obrigação
legal!
Não cabe ao estado interferir sobre a decisão
de uma mulher sobre esse assunto.
Meu entendimento é de que o feto faz parte de um processo denominado gravidez.
Esse processo se inicia com a união de
um espermatozoide vivo com um ovulo vivo.
Termina com o nascimento
de um ser humano vivo.
Nesse processo compete à mulher abrigar esse
feto dentro do ventre dela, por nove meses.
Alem disso, deve alimentá-lo durante
todo o processo, sob pena de se não o fizer o feto não resiste e morre, como
tudo que tem vida.
Concluo que o feto não tem existência própria
e ainda não é um ser humano.
Só o terá após nascer, quando encerrar o
processo da gravidez.
Então, não é um terceiro, tanto quanto um espermatozoide e um ovulo não o são.
Sei que também argumentarão que um bebe também
depende da mãe.
É verdade.
Só que a diferença é que outra mãe pode
adotar um bebe e continuar o processo de desenvolvimento de um ser humano, como
acontece quando, por exemplo, a mãe falece ao dar a luz.
Mas, quando a mãe falece grávida, o feto, em
geral, morre junto.
Só sobrevivera se estiver em estado adiantado de gravidez. E
em condições especiais
Portanto, cabe a mulher decidir se quer ou
não quer prosseguir a gravidez do feto.
E não o estado.