sexta-feira, 4 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXI

Capitulo XXI – Negociando com a inimiga

Acordei decidido a resolver a questão da Mariana ser minha inimiga.
Pensei: Isso não pode continuar.  Preciso conquista-la. Traze-la para meu lado. Te-la como inimiga esta impedindo minha saída da UTI. Foi ela que impediu a minha saída ontem. Se não fosse por ela, hoje estava em casa. Assim que ela estiver por aqui vou conversar com ela.  Vou dar um jeito nisso.
Passou o dia e ela não apareceu.
No final da tarde apareceu o médico barbudinho, ex-marido da Dra.Kátia. 
Ele sentou-se ao lado dela para conversar. 
Falavam alguma coisa sobre mim. Não conseguia entender.
Em seguida apareceu Mariana, filha deles, que veio ate mim.
- Mariana, olha. – disse para ela. – Você precisa sair da barra da saia da sua mãe. Você já está bem grandinha. Monta um negócio seu.
O pai dela ouviu e gostou da minha conversa. Percebi que ele ficou ouvindo.
- Você não quer ser minha sócia?
- Sócia? Não. Já tenho meu trabalho aqui.
- Sim, eu sei, mas falo de ganhar dinheiro. Aqui você tem um salário e só.
- Não, esta bom assim.
- Mariana, estou falando de sua independência financeira. Um negócio que vai te dar muito dinheiro.
- Como assim? – perguntou ela interessada.
- Deixa eu te contar. Eu trabalhei com regularização fundiária. Vi que tem muita sacanagem nesse meio. O pessoal invade uma área, com o conhecimento do dono. Ele topa porque não consegue aprovar o loteamento nos órgãos públicos, tamanha é a exigência das leis. Depois eles fazem um loteamento popular.
- Não estou entendo. Ganhar dinheiro com invasão de terra?
- Sim.
- Mas como?
- Simples.  A gente encontra uma  área grande que estiver, vamos dizer, assim, abandonada. Reunimos uma turma para invadir. Contrata um topógrafo para demarcar a área em lotes populares, com cento e cinqüenta metros quadrados cada lote. A gente aluga um trator para abrir uma rua. Pronto. Está feito o loteamento. Quando tudo estiver vendido, a gente vai à justiça e faz um acerto com o dono. Pagamos um valor mais baixo, financiado. A gente recebe de um lado e paga do outro. No meio tem o nosso lucro. Entendeu?
- Muito fácil isso. E o dono aceita, assim?
- Claro que sim. O dono tem que aceitar. Afinal, se ele não topar, ele vai acabar morrendo com a área. Não tem alternativa. Isso dá grana. Muita grana. Tem pouco investimento. É lucro na certa.
Pensei: Ela gostou da idéia. Vamos em frente.
- E a prefeitura, deixa? -  ela perguntou.
- Sim. A fiscalização da prefeitura é conivente. Finge que não vê. É invasão. Tem criancinhas. Gente pobre. Ninguém tem coragem de despejar gente pobre com criancinhas. Fica todo mundo com pena.
- É verdade.
- Então, os políticos acham que está fazendo justiça social. Dando terra para o povo. A justiça apóia. É assim que funciona. Todo mundo sai ganhando.
- Muito fácil isso.
- Sim, é. Mas é preciso ter coragem. Não é fácil enfrentar o povão. Muita coragem para dominar o povão. Mas, você tem coragem, pelo seu jeito. Já vi você aqui dentro atuando.
Ela deu um sorriso.
- Você não imagina como está cheio de vereador, deputado que se elege fazendo esses rolos. Eles ganham dinheiro e ainda ficam populares.
- Vou pensar. – disse ela. - Vou consultar uns amigos.
O pai conversou com a Dra. Kátia e pareceu-me que apoiou a idéia. Depois foram todos embora.
- Que é que você está aprontando dessa vez? – perguntou o italiano.
- Eu quero sair daqui. Preciso ter ela como aliada. Ela vai me tirar daqui. Você vai ver só.
- Mas, você já fez esses rolos antes?  
- Que rolo?
- Esses ai que você falou para ela. – perguntou ele.
- Não! Claro que não. Mas, ela não sabe. O importante é que ela escutou. Significa que ela se interessou. Isso é muito bom.
- Como você vai fazer se ela topar?
- Sei lá. Nesse momento o que importa é ela topar. Ela vai topar. É roleira.
- Você não respondeu. E depois, como você vai fazer?
- Vou falar a verdade. Eu não tenho estomago para fazer isso. Não é do meu feitio. Mas, não é porque eu não faço rolo que eu não sei que exista, não é? Eu sei que tem muita gente fazendo isso. Advogados, então, nem se fala.
- Mas, você não é engenheiro?
- Sou. E daí?
- Então? Como você vai fazer depois? Você nem advogado é.
- Não sou, mas estou por dentro. Você sabia que atualmente para se pleitear um usucapião basta você estar na posse só por cinco anos?
- Mas não eram quinze, vinte anos?
- Era. Para áreas urbanas, agora, usucapião basta estar na posse por cinco anos. É lei.
- Estou vendo que você entende mesmo. Mas, como você vai fazer?
- Deixa ela topar. Ela me tira daqui. Ai eu dou um jeito de pular fora. Sabe como é, vão aparecer as dificuldades... Nada é fácil. Dou um tempo e pulo fora. Mas ai, eu vou estar lá fora. Entendeu?
- Entendi. Você é mesmo inteligente! Sabe armar uma estrategia. Não vá esquecer os amigos, né? Me leva junto.
- Claro que sim. Levo você junto. Fique tranquilo. Você sai daqui comigo.  
No dia seguinte, Mariana apareceu junto com uma amiga. Não gostei do jeito dela. Ficava dando muito conselho.
- E ai, Mariana? Pensou? – perguntei.
- Ah, não vou fazer. Perguntei para um dono de uma imobiliária e ele disse que fazer loteamento é muito difícil. Os órgãos do governo não aprovam nada. E quando aprovam demoram muito. Gasta-se muito. Tempo e dinheiro. Precisa ter muito capital. E é demorado.
- Mas, não foi isso que eu disse. Eu falei de loteamento popular. De invasão e regularização. Não tem nada a ver com loteamento certinho.
- Vou conversar com um vereador amigo meu.
- Pode falar. Você vai ver que o negócio é bom. É a sua independência financeira. Vou aguardar sua resposta positiva.
- Não sei. Vamos ver. Ah! Tem outra coisa, O meu pai falou ontem à noite que está querendo comprar a UTI. Ele disse que eu ficaria tomando conta.
- E a sua mãe?
- Ela está querendo parar. Está cansada. São muitos anos de UTI. Eu fico no lugar dela. Eu gosto desse trabalho.
Pensei: Acho que meu plano foi por águas a baixo. Ela vai ficar na UTI.
Anoiteceu.
Havia uma movimentação não comum na UTI.
Os procuradores voltaram.
Dessa vez estavam dispostos a retirar todo mundo.
Começaram a remover alguns pacientes, que estavam em melhor condição. 
Colocaram a minha cama e a do italiano perto da porta de saída da UTI.
Aproximaram-se de mim duas bonitas jovens, vestidas de branco.
Apresentaram- se, uma dizendo que era fonoaudióloga e a outra médica otorrino.
- Senhor José, nós viemos fazer uns exames no senhor.
Pensei: São procuradoras médicas. Que legal!
- Nós vamos examinar sua garganta. Vou introduzir esse aparelho em sua narina.
Vi que tinha na ponta uma luz forte na ponta.
- O que é isso? – perguntei.
- É uma câmera. Vou examinar sua garganta. Fique tranquilo. Não dói. O senhor deixa eu introduzir?
- Sim.
- Então, vamos começar. Relaxe...Não vai doer. Vou colocar devagar.
Ela introduziu um cateter na minha narina.  Não doeu nada.
Após ela realizar o exame ela disse:
- Está tudo bem. Sua garganta está boa.  Que bom, né?
Concordei movimentando a cabeça afirmativamente.
- Agora nós vamos ver como está sua deglutição. Nós vamos dar umas colheradas desse preparado de cor azul, que eu trouxe. É gostoso. Tem gosto e textura de um iorgute. O senhor vai ter que engolir devagarinho. Está preparado?
- Estou...  Estou morrendo de fome. Eu não como desde que eu entrei aqui.
- Com calma, senhor José... Vamos começar?
- Vamos.
Ela me deu uma colher. Que delicia! Saboroso. Enfim estava comendo algo.
- Tem gosto de abacaxi. – disse.
- É isso mesmo.
Ela continuou me dando colheradas e pedindo para deglutir, até acabar.
- Gostoso. Tem mais? – disse.
- Não, senhor José. Por hoje, é só isso... O senhor está deglutindo bem. Isso é muito bom. O senhor vai poder se alimentar em breve. 
- E eu? – perguntou o italiano. - Eu não vou tomar esse iorgute também?
 -  Sim. Já vamos ai. Aguarde um pouco – respondeu a médica.  
 - Senhor José a sua língua está azulada. Vai ficar assim mas logo sai.
Elas foram até o italiano e fizeram o mesmo procedimento.
Pensei: Que maravilha! Agora  que vieram os procuradores as coisas vão mudar. Quando é que o pessoal daqui iria mandar uma médica fazer uma avaliação dessas em mim? Nunca. Só ficam me dando remédios e mais remédios. Ninguém me examina.  
Depois elas foram embora.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XX

Capitulo XX – Nova tentativa de resgate

Era final de tarde.
Tudo estava tranquilo.
Dra. Kátia estava trabalhando em seu pequeno lap top branco.
Vi entrar na UTI um jovem mirrado, de terno. Caminhou até Dra. Kátia.
Curioso, fiquei observando.
Escutei a conversa.  Ele se apresentou como advogada jovem. Disse que estava com uma importância  de dinheiro em espécie para entregar para ela. Mas que só entregaria com a condição de me levar embora, junto com ele. Estranhei. Eu nunca o tinha visto antes. Aos poucos fiquei sabendo que ele foi enviada pela minha cunhada Marilu, que tinha dado o dinheiro para que ela viesse me tirar do hospital.
Pensei: Que atitude legal da Marilu. Ela esta preocupada comigo e decidiu me ajudar.  Assim que eu gosto. Vai la e toma uma atitude, Não fica preocupada e não faz nada.Vou ficar devendo essa para ela.
Mariana estava próxima. Ouviu a conversa e se aproximou.
Disse que não concordava com minha saída. Mas, a Dra. Kátia ponderou que se queriam me tirar da UTI, que pelo menos ela ganhasse algum dinheiro com isso. Então ele aceitou a proposta.
Dra. Kátia pegou o envelope, enfiou no bolso do avental. Disse ao advogado que enquanto a equipe dela estivesse me preparando para sair que ela iria mostrar as dependências da UTI para que ele visse com os próprios olhos que ali era um local adequado para minha permanência, mas que se queriam que eu fosse embora ela não iria causar nenhum obstáculo.
Pensei: Não doutor, não vá. Ela vai enrolar você. Conheço a doutora Kátia. Por favor, tire eu daqui agora. E rápido, antes que ela mude idéia.
Mas, ele não captou meus pensamentos. Não teve jeito. A Dra. Kátia tinha uma lábia e tanto. Enrolou a advogada. Saíram caminhando pela UTI, enquanto ela ia mostrando os equipamentos e explicando sua utilização.
Quando voltaram do tour pela UTI, estava tarde. Já era começo de noite.
Dra. Kátia lamentou e disse que não podia dar alta á noite. Protocolo do hospital.  Concluiu dizendo que só poderia sair no dia seguinte, pela manhã.
O advogado aceitou as explicações e começou a se retirar da UTI, quando eu disse:
- Doutora Kátia... Doutora Kátia e o dinheiro? A senhora tem que devolver.
Ela ouviu o que eu disse. Imediatamente chamou uma  enfermeira e disse:.
- Maria, corre lá. Toma. Entrega esse dinheiro para a advogada. Aquele ali. Corre ele está indo embora. Corre lá.
Virou-se para mim  e disse:
 - Estava me esquecendo. Já devolvi. Quanto ao senhor, você continua conosco, ouviu senhor José Geraldo?
Pensei: Essa mulher é impossível. Ela não me deixa sair. Será que ela ganha uma porcentagem do que gastam comigo? Só pode ser. Ela deve ganhar comissão. Por isso ela me entope de remédios e não me deixa sair. Ela ganha com isso. Tenho certeza.
No dia seguinte o advogado retornou.
Enquanto a Dra. Kátia conversava com o advogado e eu aguardava minha saída, aproximou-se de mim um enfermeiro portando uma seringa com uma agulha curta e me aplicou uma injeção na coxa direita.
Perguntei para ele o que era. Ele respondeu:
- São bactérias.
- Como assim?
- Para você pegar infecção hospitalar.
- Não! O que é isso?. Eu não posso pegar nenhuma doença. Eu vou sair daqui hoje.
- Foi a doutora Kátia quem mandou.
- Suspende – gritou a Dra. Kátia.
O enfermeiro me aplicou uma outra injeção dizendo que era antídoto da anterior.
Passaram-se uns minutos e a Dra. Kátia ordenou:
- Aplica de novo.
E o enfermeiro me aplicou novamente a injeção contendo uma bactéria.
Essa situação de aplicar a injeção e depois aplicar o antídoto ficou por um bom tempo.
Como elas estavam negociando minha saída, quando parecia que eu ia sair, ela mandava aplicar a injeção. Quando parecia o contrario ela mandava dar o antídoto.
No corredor que ficava na frente da minha cama e ligava a outra unidade de UTI observei que havia uma faxineira parada há algum tempo. Estava encostada em um carrinho de lixo, segurando uma vassoura.  Olhava para o nada  absorta.. Quieta. Tinha ficado naquela posição a noite inteira.
Pensei: Coitada. Essa não descansa nunca. Que vida.
De repente ela veio em direção á minha cama e jogou todo o lixo que havia no carrinho. Ficou muito lixo espalhado em volta da minha cama.
Pensei: Eles querem me matar de infecção hospitalar! Primeiro a injeção, agora o lixo.
Perguntei para o enfermeiro:
- Porque isso?
- Se o senhor sair, sai infeccionado. Se ficar, não. – disse ele.
- Doutora Kátia. Por favor, doutora Kátia.
- Pois não.
- Eu não posso sair com infecção hospitalar. – disse.
- Pois então, senhor José Geraldo, é justamente isso que eu tenho dito sempre. Que o senhor não pode sair assim. Precisa se tratar.
- Mas foram vocês que provocaram a doença.
- Que é isso, senhor José? Nós estamos aqui tratando do senhor. Não fale assim da gente.
- Mas, é verdade.
- Olha, se o senhor continuar falando desse jeito, as coisas vão piorar. Afinal. o senhor quer ou não quer sair?
Pensei: O importante é eu sair daqui o quanto antes. Não vou continuar  reclamando. Não adianta. O importante é eu sair daqui. Depois eu vou a um outro hospital e me trato da infecção hospitalar. É isso ai
- Lógico que quero.
- Está certo. Já combinei com a advogada. O senhor vai sair. – disse a Dra. Kátia,.
Em seguida ela mandou as enfermeiras me prepararem para eu sair.
Mariana não concordava com a minha saída. Alegava uma série de coisas para demover a mãe, mas acabou cedendo.
Pensei: É a filha que não quer me deixar ir. Mas, por quê sera?
Mariana pegou o aparelho de ventilação mecânica, colocou a máscara em meu rosto e falou para mim:
- Bem, senhor José, já que o senhor  vai embora, precisa antes receber oxigênio.
O vento que soprava da mascara era tão forte que fazia minha bochecha tremular.
 Pensei: Vou ficar quieto, pois é a ultima vez que ela me coloca essa porcaria!
- Limpem já essa sujeira aqui ao lado do senhor José. Vai vir gente da diretoria aqui – disse a Dra. Kátia.
A mesma faxineira que havia jogado o lixo catou tudo e colocou novamente no carrinho. E saiu da UTI.
Pensei: Essa faxineira não deve estar entendo nada. Uma hora mandam ela sujar. Na outra mandam ela limpar. Deve ficar confusa. Coitada.
Apareceu na UTI o Dr. Fernando Mauro Filho, que veio visitar um paciente amigo dele. Ao passar por mim, pois era o caminho para chegar a seu amigo, chamei-o e perguntei:
- Fernandinho, olha só o meu estado!
- Você está bem, Zé.
- Fernandinho, por favor, de uma olhada se o vento do aparelho não está muito forte?
Ele tirou a mascara do meu rosto, sentiu o vento, concordou comigo e regulou o aparelho para uma velocidade menor.
- Não falei que estava forte? O doutor Fernando...ele é meu amigo, ouviu? É...ele constatou que estava forte e diminuiu a velocidade. Eu falei que estava forte. – disse para Mariana.
Pensei: Ela sabendo que o Fernandinho é meu amigo vai obedecer.
Ela aguardou o Dr. Fernando se retirar, quieta.
Voltou-se para mim, aumentou a velocidade novamente e disse:
- Precisa ser forte.
Como o Dr. Fernando tinha ido embora, não teve jeito, tive que aguentar.
Pensei: Tenho que aguentar só mais um pouquinho. Vou ficar quieto. Paciência.
- Quem vai levar o senhor José embora? – perguntou Mariana para a mãe.
- A família dele.... Eles devem estar ai fora, esperando – respondeu Dra. Kátia, descontraída.
- Não! Quem vai levar é nosso amigo da policia.
- Não entendi. Como assim?– quis saber a Dra. Kátia.
- Deixa comigo, mãe. A família dele não vai levar, não. É a policia que vai levar ele. – disse ela rindo.
Pegou o telefone e ligou para um amigo dela, pedindo para vir me remover.
Pensei: Que é que essa mulher está armando? Carro de policia me levando para casa? Se fosse ambulância, tudo bem. Mas, carro de policia? Por quê?... Ah! É isso! Ela quer me matar! O motorista vai sair guiando como um louco, na velocidade máxima. Vai fazer curvas, de um lado para outro. Ai ele capota o carro e me mata. Depois diz que foi um acidente. É isso que essa filha da puta assassina esta tramando!
- Não, doutora Kátia. Quero ir com minha família. – disse, apavorado.
- Olha, senhor José, não pode. É um caso especial, tem que ser do nosso jeito.
Pensei: E agora? O que é que eu faço? Já sei! Aqui todo mundo é corrupto. Antes de o motorista sair desembestado, vou propor um valor para ele. Claro que ele vai topar. A Dra. Kátia deve pagar bem menos para ele me matar. É isso ai! Sou mais esperto que ela e a Mariana juntas.
Qual não foi minha surpresa, quando vi que o motorista da policia entrou na UTI e deu um beijo na boca da Mariana.  Era o namorado dela.
Pensei: Puta que pariu! Fodeu! Com essa não esperava. Que é que eu faço agora?
 - Doutora Kátia. Oi doutora Kátia. Então, pensei aqui comigo. Decidi que não quero mais sair. A senhora tem razão. É melhor, primeiro, eu ficar bom. Ai eu saio.
- Senhor José, o senhor precisa decidir. O que senhor quer? Uma hora quer sair... Depois não quer. Isso está ficando uma palhaçada. Afinal, o que o senhor quer?
- Quero ficar. Decidi
Pensei: Aqui pelo menos eu ganho um tempo para pensar em outra saída.
            O italiano que a tudo assistia disse:
- Fez muito bem.


                                      continua no próximo capitulo

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XIX

Capitulo XIX – O sequestro do meu filho

Quando da venda da UTI para  a medica japonesa tinha entendido que haveria uma reformulação geral, inclusive com a saída da Dra. Kátia. Estranhei a presença dela..
Discretamente perguntei para a enfermeira se a Dra. Kátia não havia deixado de trabalhar na UTI. Ela me respondeu que não.
Insatisfeito com a resposta, perguntei se não havia tido mudanças na UTI. Ela respondeu que não, que tudo estava igual. Não havia mudanças.
Pensei: A médica deve ter desistido do negocio. Viu que não era fácil.
Fiquei sabendo que a Dra. Kátia fora casada com o médico de barba que participou daquela conversa entre a Dra. Kátia e a procuradora, que tinha vindo me resgatar. Eles tiveram uma filha de nome Mariana, que era fisioterapeuta.
Isso era o que acreditava.
Na verdade, as pessoas existiam, mas a relação entre elas nunca existiu. Dra. Kátia era solteira e não tinha filhos.
Mariana era um pouco dentuça, gordinha, cabelos lisos, compridos e alourados. Veio até mim toda sorridente. Ela colocou em meu rosto uma máscara “CPAP”, de ventilação forçada com oxigenio.
A máscara provocava um vento muito forte, impedindo que eu respirasse normalmente.
Tentei afastar a máscara do meu rosto. Mariana impediu. 
Ela disse que eu precisava usar aquele aparelho para aumentar a ventilação dos meus pulmões.
Respondi que estava muito forte.
Ela disse que era assim mesmo.
Irritado, arranquei a máscara e gritei:
- Vou chamar a policia. Você tem que me respeitar. Não sou moleque. Estou dizendo que está muito forte. Quem você pensa que é?
Ela ficou me olhando espantada.
O pai dela, o médico de barbinha, olhou para mim. Movimentou a cabeça , devagar, para cima e para baixo, como a concordar com minha atitude.
Dra. Kátia escutou tudo, continuou mexendo em seu computador e não se manifestou.
Outros enfermeiros aparecerem para ver o que estava acontecendo
O médico de barbinha, então, movimentando uma das mãos para cima e para baixo, sinalizou para eu parar.
Entendi o recado e fiquei quieto.
Dra. Kátia levantou-se veio até mim. Pediu para me acalmar.
Estava cercado de pessoas.
Nisso se aproximou Evandro, portando uma seringa.
Disse algumas palavras para me tranquilizar.
Pensei: acho que exagerei. Bom, já foi. Agora é melhor ficar calmo, senão ele vão me amarrar novamente.  Isso eu não quero. Aqui não adianta ficar nervoso. Eles dominam a situação, Não tenho como reagir. Melhor eu entrar na dele.
Evandro, calmamente, me explicou sobre o porque de ter que usar o aparelho de respiração, enquanto o colocava novamente em mim.
Disse que iria me aplicar um calmante leve, para que eu ficasse mais calmo, enquanto já aplicava em minha coxa uma injeção.
Aceitei sem reagir.
Começou a me dar um sono e dormi.
Sonhei que estava em uma montanha bem alta e íngreme.
Via luzes de diversas cores, que piscavam. Parecia  reflexo de espelhos que estavam nas encostas com neve das montanhas que cercavam o local.
Estava  dirigindo um carro numa estrada estreita e perigosa, que beirava um abismo.
Sentia dificuldade para manobrar o carro, pois deslizava no gelo.
Consegui descer a ladeira e lá embaixo haviam hotéis, mas não conseguia entrar em nenhum, pois estavam lotados.
Era um sonho muito confuso.
Havia muito brilho.
Voltava para o lugar onde começara o sonho e tinha que descer.
Isso se repetiu várias vezes.   
Quando acordei estava cansado.
Olhei para  frente e vi Mariana, a fisioterapeuta com quem eu discutido, sentada na mesa da chefe da UTI.
Apurei meu ouvido e ouvi  ela reclamar para duas outras enfermeiras sobre meu comportamento. Dizia que eu era grosseiro e aquelas coisas todas. E concluiu dizendo que ela tinha ficado ofendida comigo.
Não gostei do jeito delas. Elas tinham um jeito de puxa-saco.
Uma delas disse para a Mariana:
- A sua mãe não é amiga da policia?
- É.
- Então... Manda prender o filho dele. Assim ele aprende a respeitar você.
Pensei: O que é que fui falar para essa turma que eu tinha filho. Dei o nome, disse onde trabalhava. Que língua comprida a minha. Agora eles sabem tudo da minha vida.
  - É isso ai. Vamos sumir com o garoto. – concordou Mariana.
 - Fala para prender e mudar para uma outra cidade. Assim, eles não vão achar o garoto nunca. – disse rindo a enfermeira que havia sugerido a idéia.
Mariana pegou o telefone e ligou para alguém conhecido dela da policia civil. Fez a solicitação sugerida.
Depois saíram da UTI rindo.
Fiquei apavorado. Imaginei o quanto a policia poderia fazer de barbaridades com meu filho e as dificuldades que imporiam para não o localizarmos. Não sabia o que fazer. Meu coração disparou.
Apareceu minha mulher para mais uma sessão de visita.
Nem bem ela se aproximou de mim, disse aflito:
- Liga já para o Ro.
- Como assim? Por quê?
- Cris, liga para o Ro, agora. – insisti nervoso por ela não entender o que se passava.
- Ge, não posso ligar daqui. É proibido.
- Cris, eles vão prender o Ro.
- Ge – disse minha mulher sorrindo – o Rodrigo está no trabalho dele.
- Eles vão prender ele lá no trabalho.
- Não, Ge, está tudo bem com ele.
- Cris, por favor, liga para ele. Já.
- Ge, é proibido ligar de celular na UTI. Se me pegarem não deixam mais eu entrar.  Para ligar vou ter que sair. Depois, não sei se vão me deixar entrar de novo. Eles são chatos.
- Saia e volte.
- E se depois eu não puder voltar?
- Não importa. É a vida do Ro que esta em jogo. Liga para ele, por favor. Avisa ele para se esconder por uns dias.
- Esconder de quem?
- Cris, eles vão prender ele. Eu ouvi tudo.
- Quem vai prender, Ge?
- A policia, Cris.
- Mas que policia. Por que?
- Os amigos da doutora Kátia..
- Esta bem, Ge, fique calmo que vamos dar um jeito. – disse Cris.
Ela saiu e voltou em seguida.
- Pronto. Falei com ele. Está tudo bem. Agora fique calmo.
- Falou para ele se esconder?
- Sim, falei.
            Pela reação senti que minha mulher havia entendido o meu desespero. Estava solidaria. Isso me tranquilizou um pouco, pois meu filho já estava avisado e saberia como se defender. 
- Cuidado você também, Cris. Eles podem prender você.
- Ge, está tudo bem. Fique calmo. Você está muito agitado.
- Cuidado. Vai embora. Fuja.
Estava muito inquieto e sonolento. Dormi.
Mais tarde, ainda preocupado com meu filho, ouvi a enfermeira, que havia dado a idéia de prender meu filho, comentar com Mariana que a policia tinha prendido uma outra pessoa por engano. Haviam confundido meu filho com outra pessoa.
- Não tem problema – falou a Mariana. – valeu o susto. Deixa para lá.
Fiquei aliviado pelo fato de não terem prendido meu filho, mas preocupado com a sorte do outro rapaz que fora preso.
- Parece que o rapaz que prenderam era bandido. – disse a enfermeira.
Pensei: Menos mal.
Ouvi as enfermeiras puxa-sacos comentarem que havia um rapaz preso no quarto da semi-UTI.
Soube que ele havia tentado estuprar uma enfermeira, de noite, na saída de serviço do hospital. Mas foi contido pelos seguranças. Foi anestesiado e preso no quarto.
Chegaram uns policiais militares para averiguação do caso.
Os policiais perguntaram quem havia tentado estuprar a enfermeira que foi atacada. A enfermeira puxa saco apontou para o italiano, que sem titubear disse:
- Eu não fui. Cortaram meu pênis. Como poderia estuprar? Não tenho pênis.
Ele quis mostrar que não tinha pênis, mas o policial disse que não precisava, pois ele era muito velho.
Não gostei da atitude dela.
Pensei: Que mulherzinha! Acusar o coitado do italiano. Só falta agora ela dizer que sou eu. Não quero nem pensar para não acontecer.
Pois não é que ela começou a insinuar que fui eu.
Pensei: Essa mulher é uma crápula. Quis prender meu filho e agora quer me prender. Como vou me defender?
Foi quando apareceu outra enfermeira que disse que eu não poderia ter sido o autor, pois estava acamado há muitos dias. Disse que, apesar de eu não aparentar a idade que tenho, quem atacou a enfermeira era uma pessoa bem mais jovem do que eu.
Respirei aliviado.
A enfermeira puxa saco não gostou.
Os policiais entraram no quartinho para ver o garoto. Ele estava inconsciente e dopado. Ficaram pouco tempo e foram-se embora.
Isso foi a minha realidade naquele momento.
De fato concreto, que só fiquei sabendo quando sai da UTI, é que quem estava naquele quarto da semi UTI era um rapaz chamado Christian. Ele tinha feito uma cirurgia de lipo aspiração mal sucedida. Como consequência, houve a perfuração do intestino e outros órgãos do abdômen dele. Ele era filho daquela senhora, que eu achava que tinha matado o marido. Daí a mulher ficar chorando todos os dias. Os policiais que estavam lá eram amigos dele. 

                                      continua no próximo capitulo

terça-feira, 1 de julho de 2014

União Brasileira Socialista Soviética



Como sou admirador do pensamento lucido do Pondé e concordo plenamente com o texto, transcrevo aqui para compartilhar com quem não teve a oportunidade de ler

União Brasileira Socialista Soviética. - Luiz Pondé

Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado invisível no Brasil.
O leitor e a leitora já estão a par do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.
Esse decreto é um golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil. Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida sendo profissional militante.
Quando você acordar, já era, leis serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.
Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".
Mas a verdade é que a maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não é profissional da revolução.
Tais movimentos que se dizem sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles acham que o Brasil deve ser.
Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais dos sindicatos. Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e sustentada de alguma forma.
Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST e descobrir de onde vem a grana deles?Quem banca toda essa estrutura militante? Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles.
Uma das grandes mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.
Quem sofre com esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero.
É diarista, empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para infernizar a vida dos colegas.
É médico que tem três empregos, é dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo".
Os movimentos sociais têm demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus comitês, que aparelharão os poderes da República.
Se não bastasse isso tudo, vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar que somos idiotas. Veja o que aconteceu na Argentina.

Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap.

Originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 16 de Junho de 2014.


Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XVIII

Capitulo XVIII – Mais um dia de UTI

Naquele dia, tive a sensação de que a UTI não ficava mais dentro do prédio, no segundo andar do hospital. Acreditava que era um anexo e ficava no andar térreo. No andar de cima havia uma casa, que era a residência oficial do responsável pela UTI.
Pensei: Interessante. Nunca tinha percebido que a UTI não ficava dentro do hospital. Quando sair vou ver no google earth onde exatamente ela está.
Ouvi uma conversa entre enfermeiros que Flávio iria vender a UTI. Ele não estava satisfeito com o rendimento.
Fiquei sabendo que ele encontrara alguém que tinha interesse em comprar a UTI. Era uma médica japonesa, casada com um medico de barba que fora ex-marido da Dra. Kátia, que trabalhavam no hospital.
Ouvi uma conversa entre eles. Eles diziam que acreditavam ter feito um bom negócio, mesmo sabendo que o negocio estava dando prejuízo. Acreditavam que dava prejuízo porque tinha uma ma gestão. Eles tinham planos para reestruturar tanto fisicamente como operacionalmente a UTI, para torná-la mai rentável. E precisava dar certo, pois haviam gasto toda a economia que possuíam, além de empréstimos bancários.
Pensei: é sempre assim, o novo adquirente chega cheio de entusiasmo num novo negocio. Quero ver depois, quando se depararem com a realidade. Uma coisa é ser empresário e ter vivencia. Outra é ser empregado.  Mas, torço para que de certo.
Fiquei sabendo que essa médica japonesa acabara de se mudar para a casa que ficava sobre a UTI.
A médica japonesa tinha um filho de outro casamento. 
Hoje ele estava lá. Conversava comigo.
Disse que a mãe dele pretendia fazer uma reforma para melhorar a UTI.
Eu já tinha pensado nisso. Achava que a divisão com cortinas não dava privacidade e segurança contra infecções hospitalares.
Sugeri a ele que fechassem com divisórias envidraçadas. Propus fazer um projeto de execução. Solicitei uma planta do imóvel para pensar em uma nova solução.
Ele achou a idéia boa e foi falar com a mãe. Ela se interessou, mas como já era noite ela pediu para eu fazer os estudos no dia seguinte.
Ela estava inquieta. Subiu para a casa no andar supeiror, mas percebi que ela não dormira.
Eu tampouco estava com sono. Ficava pensando na reforma.
Vi quando ela desceu novamente. Tentei falar com ela, mas ela disse que era para eu dormir.
Eles estavam distantes, mas ouvi que ela e o filho continuaram falando sobre a reforma. Tentei entrar na conversa, mas ela rechaçou.
Ela foi taxativa. Eu disse que era para eu relaxar e dormir.
Fiquei chateado, pois queria participar da conversa, mas dormi.
No dia seguinte ela já tinha um plano de reforma pronto
Logo cedo começaram os serviços de reforma.  Vi latas de tinta e outros materiais de construção espalhados pelo chão.
Pensei: Caramba, essa mulher é ligeira. Nem quis saber do meu projeto. Bem, deixa pra lá. Deve ser muquirana. Quer economizar. Não quis pagar meus honorários.
Dei um sorriso de despreso.
Pensei: É sempre assim. Depois, faz merda...É sempre assim. Essa turma pensa que não contratando um arquiteto ou um engenheiro a obra vai custar mais barato. Pura ilusão. Deixa tudo na mão do empreiteiro, que acaba gastando mais do que o previsto. Além de ficar uma merda.  Bem, isso é problema dela. Eu quis ajudar.
Durante o dia não vi reforma nenhuma. Interditaram umas baias, mas só fizeram uma pequena manutenção aqui e ali. Tudo continuava como estava.
Pensei: ela só quis fazer uma maquiagem. O dinheiro deve ser curto.
Os enfermeiros, quando chegam para cumprir seu turno, fazem uma divisão de responsabilidade. De dia tem mais e a noite tem uma equipe menor. Na divisão, cada um ficava responsável por um determinado numero de pacientes.
Naquela noite, o enfermeiro Claudio, aquele negro simpático que queria que eu fizesse o projeto da casa dele no Rio de Janeiro, foi designado para cuidar de mim e mais dois pacientes.
A médica japonesa estava sentada em um sofá, ali próximo, fazendo contas.  De vez em quando falava ao telefone para acertar agendamentos na UTI.
Uma paciente chamou Claudio, que estava conversando com outros enfermeiros.
A médica percebeu que ele não escutara. Chamou-o  e pediu para cuidar da paciente, que precisava trocar a fralda e se higienizar.
Estava chovendo muito forte lá fora.
De repente, o filho da medica japonesa correu para a outra unidade, que ficava do outro lado do corredor, em frente a minha cama, pois havia afundado uma parte do chão, próximo a um ralo.
Claudio saiu correndo atrás para ajudá-lo.
Voltaram e os vi saindo da UTI.
Foram para a rua.
La fora, eles perceberam que havia um caminhão todo equipado, que fazia a limpeza da canalização do esgoto na rua.
Eles concluíram que esse serviço provocara o afundamento do piso na UTI.
Entravam e saiam sem parar. Olhavam o piso e saiam lá para fora.
Pensei: Não adianta ficar correndo como doidos. Liga para a Sabesp para notificar o problema com o esgoto.
Eles continuavam a entrar e sair.
 Pensei: E esse Claudio, por que não termina o que está fazendo? O que ele tem a haver com o problema do piso? Nada. Ele largou a coitada da paciente no meio da higienização. Ele não vai resolver esse problema do esgoto. Não é da conta dele.
Incomodado com isso, falei para a médica japonesa, referindo-me ao Claudio:
- Esse pessoal é assim mesmo. Não tem foco.
- Não. Não fale assim. Eu não gosto de racismo.
- É verdade!
- Não!
O italiano disse:
- É isso mesmo. Impressionante como não terminam nada que começam.
- Eu estou com vontade de ir ao banheiro. Por favor, chame o Claudio para me levar ao banheiro. – pedi para a médica japonesa.
- Não! Você tem fralda. Use a fralda. – respondeu ela.
- Mas, ele está aqui para me ajudar. Quero ir ao banheiro.
- Você não pode levantar da cama.
- Então, chame o Claudio para trocar a fralda.
Ela não respondeu.
- Não consegui segurar... Já fiz.- disse.
O italiano perguntou:
- Você fez o peso certo?
Olhei para uma balança, que nunca tinha visto antes, mas que agora estava a meu lado e disse:
- Acho que sim, veja a marcação do peso.
Nisso aparece uma garota bonita, na porta da UTI.
Claudio se apressou em falar com ela e em poucos minutos ja estava namorando com ela em uma das baias vizinha à minha, do meu lado direito.
- Claudio, por favor, troca a minha fralda – pedi, implorando.
- Já vou – disse ele.
E continuou namorando.
Comecei a ficar impaciente.
- Claudio, estou sujo. Preciso que você troque a minha fralda. Por favor, meu.
- Já vou. – repetiu ele, um tanto nervoso.
E nada de vir.
Eu continuei chamando-o.
Finalmente ele veio e me trocou.
Não passaram alguns minutos e senti vontade de defecar novamente.
Chamei o Claudio.
Ele disse que acabara de me trocar. Que não acreditava que estivesse sujo novamente.
E continuou seu namoro.
Eu insisti, mas nada adiantou.
O italiano perguntou:
- Você fez de novo?
- Fiz.
- Mas como?
- Sei lá. Estou com o intestino solto.
Olhei para a direita, na direção da baia onde Claudio estava e solicitei:
- Claudio. Vem aqui, por favor.
Ele não respondeu.
O italiano disse:
- Não adianta. Esse é da turma dos preguiçosos. É da raça.
- Não! – disse a japonesa. - Não fale mal de raça na minha frente.
Claudio respondeu rindo que era para eu esperar, pois agora era hora dele namorar. Disse que mais tarde ele me trocaria. Quando tivesse tempo.
Naquela noite defequei mais algumas vezes. Minha fralda ficou cheia de fezes. Eram fezes mal cheirosas e volumosas. Fiquei irritado com o descaso do Claudio.
Pensei: Não faço mais a porra da planta de casa dele. Ele vai ver só.
Acabei dormindo.
Amanheceu.
As luzes da UTI foram acesas.
Começou nova troca de turno.
Claudio apareceu esbaforido para me trocar.
Como estava muito aborrecido com ele, pelo desleixo comigo, disse que não precisava mais.
Ele insistiu, mas eu disse que não precisava mais.
Ele, então, foi embora.
Apareceu um enfermeiro novo, de nome Evandro, forte, com pinta de artista de cinema, com o cabelo com gel e arrepiado. Era o chefe de uma equipe. Ele reclamou do mau cheiro que estava na UTI.
Falei que era eu, pois o Claudio não havia me trocado.
A Dra. Kátia acabara de chegar acompanhada do médico de barbinha, ex-marido dela.
Evandro reclamou com a Dra. Kátia dizendo o que acontecera comigo. Em seguida pediu para uma enfermeira vir me trocar imediatamente.
A enfermeira estava fazendo outra coisa e não veio. Ele insistiu para que ela viesse me atender.
Eu comentei com ele que não era fácil lidar com pessoas. Cada um quer fazer o que quer e no seu tempo. Disse que ele era dedicado, mas tinha um pessoal que tinha uma má vontade. Como a enfermeira que ele chamou.
Finalmente, ela apareceu e fez a minha higiene e trocou a minha fralda.
Na verdade, minha alimentação era através de sonda e soro. Portanto, não deveria ter material para defecar. Mas, havia uma moça que ficava na baia do meu lado direito e que se alimentava normalmente. Quando sai do hospital, minha mulher disse que ela reclamava que muitas vezes não fora devidamente atendida para limpar suas necessidades fisiológicas.

                                      continua no próximo capitulo