terça-feira, 1 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XVIII

Capitulo XVIII – Mais um dia de UTI

Naquele dia, tive a sensação de que a UTI não ficava mais dentro do prédio, no segundo andar do hospital. Acreditava que era um anexo e ficava no andar térreo. No andar de cima havia uma casa, que era a residência oficial do responsável pela UTI.
Pensei: Interessante. Nunca tinha percebido que a UTI não ficava dentro do hospital. Quando sair vou ver no google earth onde exatamente ela está.
Ouvi uma conversa entre enfermeiros que Flávio iria vender a UTI. Ele não estava satisfeito com o rendimento.
Fiquei sabendo que ele encontrara alguém que tinha interesse em comprar a UTI. Era uma médica japonesa, casada com um medico de barba que fora ex-marido da Dra. Kátia, que trabalhavam no hospital.
Ouvi uma conversa entre eles. Eles diziam que acreditavam ter feito um bom negócio, mesmo sabendo que o negocio estava dando prejuízo. Acreditavam que dava prejuízo porque tinha uma ma gestão. Eles tinham planos para reestruturar tanto fisicamente como operacionalmente a UTI, para torná-la mai rentável. E precisava dar certo, pois haviam gasto toda a economia que possuíam, além de empréstimos bancários.
Pensei: é sempre assim, o novo adquirente chega cheio de entusiasmo num novo negocio. Quero ver depois, quando se depararem com a realidade. Uma coisa é ser empresário e ter vivencia. Outra é ser empregado.  Mas, torço para que de certo.
Fiquei sabendo que essa médica japonesa acabara de se mudar para a casa que ficava sobre a UTI.
A médica japonesa tinha um filho de outro casamento. 
Hoje ele estava lá. Conversava comigo.
Disse que a mãe dele pretendia fazer uma reforma para melhorar a UTI.
Eu já tinha pensado nisso. Achava que a divisão com cortinas não dava privacidade e segurança contra infecções hospitalares.
Sugeri a ele que fechassem com divisórias envidraçadas. Propus fazer um projeto de execução. Solicitei uma planta do imóvel para pensar em uma nova solução.
Ele achou a idéia boa e foi falar com a mãe. Ela se interessou, mas como já era noite ela pediu para eu fazer os estudos no dia seguinte.
Ela estava inquieta. Subiu para a casa no andar supeiror, mas percebi que ela não dormira.
Eu tampouco estava com sono. Ficava pensando na reforma.
Vi quando ela desceu novamente. Tentei falar com ela, mas ela disse que era para eu dormir.
Eles estavam distantes, mas ouvi que ela e o filho continuaram falando sobre a reforma. Tentei entrar na conversa, mas ela rechaçou.
Ela foi taxativa. Eu disse que era para eu relaxar e dormir.
Fiquei chateado, pois queria participar da conversa, mas dormi.
No dia seguinte ela já tinha um plano de reforma pronto
Logo cedo começaram os serviços de reforma.  Vi latas de tinta e outros materiais de construção espalhados pelo chão.
Pensei: Caramba, essa mulher é ligeira. Nem quis saber do meu projeto. Bem, deixa pra lá. Deve ser muquirana. Quer economizar. Não quis pagar meus honorários.
Dei um sorriso de despreso.
Pensei: É sempre assim. Depois, faz merda...É sempre assim. Essa turma pensa que não contratando um arquiteto ou um engenheiro a obra vai custar mais barato. Pura ilusão. Deixa tudo na mão do empreiteiro, que acaba gastando mais do que o previsto. Além de ficar uma merda.  Bem, isso é problema dela. Eu quis ajudar.
Durante o dia não vi reforma nenhuma. Interditaram umas baias, mas só fizeram uma pequena manutenção aqui e ali. Tudo continuava como estava.
Pensei: ela só quis fazer uma maquiagem. O dinheiro deve ser curto.
Os enfermeiros, quando chegam para cumprir seu turno, fazem uma divisão de responsabilidade. De dia tem mais e a noite tem uma equipe menor. Na divisão, cada um ficava responsável por um determinado numero de pacientes.
Naquela noite, o enfermeiro Claudio, aquele negro simpático que queria que eu fizesse o projeto da casa dele no Rio de Janeiro, foi designado para cuidar de mim e mais dois pacientes.
A médica japonesa estava sentada em um sofá, ali próximo, fazendo contas.  De vez em quando falava ao telefone para acertar agendamentos na UTI.
Uma paciente chamou Claudio, que estava conversando com outros enfermeiros.
A médica percebeu que ele não escutara. Chamou-o  e pediu para cuidar da paciente, que precisava trocar a fralda e se higienizar.
Estava chovendo muito forte lá fora.
De repente, o filho da medica japonesa correu para a outra unidade, que ficava do outro lado do corredor, em frente a minha cama, pois havia afundado uma parte do chão, próximo a um ralo.
Claudio saiu correndo atrás para ajudá-lo.
Voltaram e os vi saindo da UTI.
Foram para a rua.
La fora, eles perceberam que havia um caminhão todo equipado, que fazia a limpeza da canalização do esgoto na rua.
Eles concluíram que esse serviço provocara o afundamento do piso na UTI.
Entravam e saiam sem parar. Olhavam o piso e saiam lá para fora.
Pensei: Não adianta ficar correndo como doidos. Liga para a Sabesp para notificar o problema com o esgoto.
Eles continuavam a entrar e sair.
 Pensei: E esse Claudio, por que não termina o que está fazendo? O que ele tem a haver com o problema do piso? Nada. Ele largou a coitada da paciente no meio da higienização. Ele não vai resolver esse problema do esgoto. Não é da conta dele.
Incomodado com isso, falei para a médica japonesa, referindo-me ao Claudio:
- Esse pessoal é assim mesmo. Não tem foco.
- Não. Não fale assim. Eu não gosto de racismo.
- É verdade!
- Não!
O italiano disse:
- É isso mesmo. Impressionante como não terminam nada que começam.
- Eu estou com vontade de ir ao banheiro. Por favor, chame o Claudio para me levar ao banheiro. – pedi para a médica japonesa.
- Não! Você tem fralda. Use a fralda. – respondeu ela.
- Mas, ele está aqui para me ajudar. Quero ir ao banheiro.
- Você não pode levantar da cama.
- Então, chame o Claudio para trocar a fralda.
Ela não respondeu.
- Não consegui segurar... Já fiz.- disse.
O italiano perguntou:
- Você fez o peso certo?
Olhei para uma balança, que nunca tinha visto antes, mas que agora estava a meu lado e disse:
- Acho que sim, veja a marcação do peso.
Nisso aparece uma garota bonita, na porta da UTI.
Claudio se apressou em falar com ela e em poucos minutos ja estava namorando com ela em uma das baias vizinha à minha, do meu lado direito.
- Claudio, por favor, troca a minha fralda – pedi, implorando.
- Já vou – disse ele.
E continuou namorando.
Comecei a ficar impaciente.
- Claudio, estou sujo. Preciso que você troque a minha fralda. Por favor, meu.
- Já vou. – repetiu ele, um tanto nervoso.
E nada de vir.
Eu continuei chamando-o.
Finalmente ele veio e me trocou.
Não passaram alguns minutos e senti vontade de defecar novamente.
Chamei o Claudio.
Ele disse que acabara de me trocar. Que não acreditava que estivesse sujo novamente.
E continuou seu namoro.
Eu insisti, mas nada adiantou.
O italiano perguntou:
- Você fez de novo?
- Fiz.
- Mas como?
- Sei lá. Estou com o intestino solto.
Olhei para a direita, na direção da baia onde Claudio estava e solicitei:
- Claudio. Vem aqui, por favor.
Ele não respondeu.
O italiano disse:
- Não adianta. Esse é da turma dos preguiçosos. É da raça.
- Não! – disse a japonesa. - Não fale mal de raça na minha frente.
Claudio respondeu rindo que era para eu esperar, pois agora era hora dele namorar. Disse que mais tarde ele me trocaria. Quando tivesse tempo.
Naquela noite defequei mais algumas vezes. Minha fralda ficou cheia de fezes. Eram fezes mal cheirosas e volumosas. Fiquei irritado com o descaso do Claudio.
Pensei: Não faço mais a porra da planta de casa dele. Ele vai ver só.
Acabei dormindo.
Amanheceu.
As luzes da UTI foram acesas.
Começou nova troca de turno.
Claudio apareceu esbaforido para me trocar.
Como estava muito aborrecido com ele, pelo desleixo comigo, disse que não precisava mais.
Ele insistiu, mas eu disse que não precisava mais.
Ele, então, foi embora.
Apareceu um enfermeiro novo, de nome Evandro, forte, com pinta de artista de cinema, com o cabelo com gel e arrepiado. Era o chefe de uma equipe. Ele reclamou do mau cheiro que estava na UTI.
Falei que era eu, pois o Claudio não havia me trocado.
A Dra. Kátia acabara de chegar acompanhada do médico de barbinha, ex-marido dela.
Evandro reclamou com a Dra. Kátia dizendo o que acontecera comigo. Em seguida pediu para uma enfermeira vir me trocar imediatamente.
A enfermeira estava fazendo outra coisa e não veio. Ele insistiu para que ela viesse me atender.
Eu comentei com ele que não era fácil lidar com pessoas. Cada um quer fazer o que quer e no seu tempo. Disse que ele era dedicado, mas tinha um pessoal que tinha uma má vontade. Como a enfermeira que ele chamou.
Finalmente, ela apareceu e fez a minha higiene e trocou a minha fralda.
Na verdade, minha alimentação era através de sonda e soro. Portanto, não deveria ter material para defecar. Mas, havia uma moça que ficava na baia do meu lado direito e que se alimentava normalmente. Quando sai do hospital, minha mulher disse que ela reclamava que muitas vezes não fora devidamente atendida para limpar suas necessidades fisiológicas.

                                      continua no próximo capitulo

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