Capitulo XVIII – Mais um dia de
UTI
Naquele dia, tive a sensação de que a
UTI não ficava mais dentro do prédio, no segundo andar do hospital. Acreditava
que era um anexo e ficava no andar térreo. No andar de cima havia uma casa, que era a
residência oficial do responsável pela UTI.
Pensei: Interessante. Nunca
tinha percebido que a UTI não ficava dentro do hospital. Quando sair vou ver no
google earth onde exatamente ela está.
Ouvi uma conversa entre
enfermeiros que Flávio iria vender a UTI. Ele não estava satisfeito com o
rendimento.
Fiquei sabendo que ele
encontrara alguém que tinha interesse em comprar a UTI. Era uma médica japonesa,
casada com um medico de barba que fora ex-marido da Dra. Kátia, que trabalhavam
no hospital.
Ouvi uma conversa entre eles.
Eles diziam que acreditavam ter feito um bom negócio, mesmo sabendo que o
negocio estava dando prejuízo. Acreditavam que dava prejuízo porque tinha uma
ma gestão. Eles tinham planos para reestruturar tanto fisicamente como
operacionalmente a UTI, para torná-la mai rentável. E precisava dar certo, pois
haviam gasto toda a economia que possuíam, além de empréstimos bancários.
Pensei: é sempre assim, o novo
adquirente chega cheio de entusiasmo num novo negocio. Quero ver depois, quando
se depararem com a realidade. Uma coisa é ser empresário e ter vivencia. Outra
é ser empregado. Mas, torço para que de
certo.
Fiquei sabendo que essa médica
japonesa acabara de se mudar para a casa que ficava sobre a UTI.
A médica japonesa tinha um filho
de outro casamento.
Hoje ele estava lá. Conversava
comigo.
Disse que a mãe dele pretendia
fazer uma reforma para melhorar a UTI.
Eu já tinha pensado nisso.
Achava que a divisão com cortinas não dava privacidade e segurança contra
infecções hospitalares.
Sugeri a ele que fechassem com
divisórias envidraçadas. Propus fazer um projeto de execução. Solicitei uma
planta do imóvel para pensar em uma nova solução.
Ele achou a idéia boa e foi
falar com a mãe. Ela se interessou, mas como já era noite ela pediu para eu
fazer os estudos no dia seguinte.
Ela estava inquieta. Subiu para
a casa no andar supeiror, mas percebi que ela não dormira.
Eu tampouco estava com sono.
Ficava pensando na reforma.
Vi quando ela desceu novamente.
Tentei falar com ela, mas ela disse que era para eu dormir.
Eles estavam distantes, mas ouvi
que ela e o filho continuaram falando sobre a reforma. Tentei entrar na
conversa, mas ela rechaçou.
Ela foi taxativa. Eu disse que
era para eu relaxar e dormir.
Fiquei chateado, pois queria
participar da conversa, mas dormi.
No dia seguinte ela já tinha um
plano de reforma pronto
Logo cedo começaram os serviços
de reforma. Vi latas de tinta e outros
materiais de construção espalhados pelo chão.
Pensei: Caramba, essa mulher é
ligeira. Nem quis saber do meu projeto. Bem, deixa pra lá. Deve ser muquirana. Quer
economizar. Não quis pagar meus honorários.
Dei um sorriso de despreso.
Pensei: É sempre assim. Depois,
faz merda...É sempre assim. Essa turma pensa que não contratando um arquiteto
ou um engenheiro a obra vai custar mais barato. Pura ilusão. Deixa tudo na mão
do empreiteiro, que acaba gastando mais do que o previsto. Além de ficar uma
merda. Bem, isso é problema dela. Eu
quis ajudar.
Durante o dia não vi reforma
nenhuma. Interditaram umas baias, mas só fizeram uma pequena manutenção aqui e
ali. Tudo continuava como estava.
Pensei: ela só quis fazer uma
maquiagem. O dinheiro deve ser curto.
Os enfermeiros, quando chegam
para cumprir seu turno, fazem uma divisão de responsabilidade. De dia tem mais
e a noite tem uma equipe menor. Na divisão, cada um ficava responsável por um
determinado numero de pacientes.
Naquela noite, o enfermeiro
Claudio, aquele negro simpático que queria que eu fizesse o projeto da casa
dele no Rio de Janeiro, foi designado para cuidar de mim e mais dois pacientes.
A médica japonesa estava sentada
em um sofá, ali próximo, fazendo contas. De vez em quando falava ao telefone para
acertar agendamentos na UTI.
Uma paciente chamou Claudio, que
estava conversando com outros enfermeiros.
A médica percebeu que ele não
escutara. Chamou-o e pediu para cuidar da
paciente, que precisava trocar a fralda e se higienizar.
Estava chovendo muito forte lá
fora.
De repente, o filho da medica
japonesa correu para a outra unidade, que ficava do outro lado do corredor, em
frente a minha cama, pois havia afundado uma parte do chão, próximo a um ralo.
Claudio saiu correndo atrás para
ajudá-lo.
Voltaram e os vi saindo da UTI.
Foram para a rua.
La fora, eles perceberam que
havia um caminhão todo equipado, que fazia a limpeza da canalização do esgoto
na rua.
Eles concluíram que esse serviço
provocara o afundamento do piso na UTI.
Entravam e saiam sem parar. Olhavam
o piso e saiam lá para fora.
Pensei: Não adianta ficar
correndo como doidos. Liga para a Sabesp para notificar o problema com o
esgoto.
Eles continuavam a entrar e
sair.
Pensei: E esse Claudio, por que não termina o
que está fazendo? O que ele tem a haver com o problema do piso? Nada. Ele largou
a coitada da paciente no meio da higienização. Ele não vai resolver esse
problema do esgoto. Não é da conta dele.
Incomodado com isso, falei para
a médica japonesa, referindo-me ao Claudio:
- Esse pessoal é assim mesmo.
Não tem foco.
- Não. Não fale assim. Eu não
gosto de racismo.
- É verdade!
- Não!
O italiano disse:
- É isso mesmo. Impressionante
como não terminam nada que começam.
- Eu estou com vontade de ir ao
banheiro. Por favor, chame o Claudio para me levar ao banheiro. – pedi para a médica
japonesa.
- Não! Você tem fralda. Use a
fralda. – respondeu ela.
- Mas, ele está aqui para me
ajudar. Quero ir ao banheiro.
- Você não pode levantar da
cama.
- Então, chame o Claudio para
trocar a fralda.
Ela não respondeu.
- Não consegui segurar... Já
fiz.- disse.
O italiano perguntou:
- Você fez o peso certo?
Olhei para uma balança, que
nunca tinha visto antes, mas que agora estava a meu lado e disse:
- Acho que sim, veja a marcação
do peso.
Nisso aparece uma garota bonita,
na porta da UTI.
Claudio se apressou em falar com
ela e em poucos minutos ja estava namorando com ela em uma das baias vizinha à
minha, do meu lado direito.
- Claudio, por favor, troca a
minha fralda – pedi, implorando.
- Já vou – disse ele.
E continuou namorando.
Comecei a ficar impaciente.
- Claudio, estou sujo. Preciso que
você troque a minha fralda. Por favor, meu.
- Já vou. – repetiu ele, um
tanto nervoso.
E nada de vir.
Eu continuei chamando-o.
Finalmente ele veio e me trocou.
Não passaram alguns minutos e
senti vontade de defecar novamente.
Chamei o Claudio.
Ele disse que acabara de me
trocar. Que não acreditava que estivesse sujo novamente.
E continuou seu namoro.
Eu insisti, mas nada adiantou.
O italiano perguntou:
- Você fez de novo?
- Fiz.
- Mas como?
- Sei lá. Estou com o intestino
solto.
Olhei para a direita, na direção
da baia onde Claudio estava e solicitei:
- Claudio. Vem aqui, por favor.
Ele não respondeu.
O italiano disse:
- Não adianta. Esse é da turma dos
preguiçosos. É da raça.
- Não! – disse a japonesa. - Não
fale mal de raça na minha frente.
Claudio respondeu rindo que era
para eu esperar, pois agora era hora dele namorar. Disse que mais tarde ele me
trocaria. Quando tivesse tempo.
Naquela noite defequei mais
algumas vezes. Minha fralda ficou cheia de fezes. Eram fezes mal cheirosas e
volumosas. Fiquei irritado com o descaso do Claudio.
Pensei: Não faço mais a porra da
planta de casa dele. Ele vai ver só.
Acabei dormindo.
Amanheceu.
As luzes da UTI foram acesas.
Começou nova troca de turno.
Claudio apareceu esbaforido para
me trocar.
Como estava muito aborrecido com
ele, pelo desleixo comigo, disse que não precisava mais.
Ele insistiu, mas eu disse que
não precisava mais.
Ele, então, foi embora.
Apareceu um enfermeiro novo, de
nome Evandro, forte, com pinta de artista de cinema, com o cabelo com gel e
arrepiado. Era o chefe de uma equipe. Ele reclamou do mau cheiro que estava na
UTI.
Falei que era eu, pois o Claudio
não havia me trocado.
A Dra. Kátia acabara de chegar
acompanhada do médico de barbinha, ex-marido dela.
Evandro reclamou com a Dra.
Kátia dizendo o que acontecera comigo. Em seguida pediu para uma enfermeira vir
me trocar imediatamente.
A enfermeira estava fazendo
outra coisa e não veio. Ele insistiu para que ela viesse me atender.
Eu comentei com ele que não era
fácil lidar com pessoas. Cada um quer fazer o que quer e no seu tempo. Disse que
ele era dedicado, mas tinha um pessoal que tinha uma má vontade. Como a
enfermeira que ele chamou.
Finalmente, ela apareceu e fez a
minha higiene e trocou a minha fralda.
Na verdade, minha alimentação
era através de sonda e soro. Portanto, não deveria ter material para defecar. Mas,
havia uma moça que ficava na baia do meu lado direito e que se alimentava
normalmente. Quando sai do hospital, minha mulher disse que ela reclamava que
muitas vezes não fora devidamente atendida para limpar suas necessidades
fisiológicas.
continua no próximo capitulo
continua no próximo capitulo
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