sexta-feira, 4 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXI

Capitulo XXI – Negociando com a inimiga

Acordei decidido a resolver a questão da Mariana ser minha inimiga.
Pensei: Isso não pode continuar.  Preciso conquista-la. Traze-la para meu lado. Te-la como inimiga esta impedindo minha saída da UTI. Foi ela que impediu a minha saída ontem. Se não fosse por ela, hoje estava em casa. Assim que ela estiver por aqui vou conversar com ela.  Vou dar um jeito nisso.
Passou o dia e ela não apareceu.
No final da tarde apareceu o médico barbudinho, ex-marido da Dra.Kátia. 
Ele sentou-se ao lado dela para conversar. 
Falavam alguma coisa sobre mim. Não conseguia entender.
Em seguida apareceu Mariana, filha deles, que veio ate mim.
- Mariana, olha. – disse para ela. – Você precisa sair da barra da saia da sua mãe. Você já está bem grandinha. Monta um negócio seu.
O pai dela ouviu e gostou da minha conversa. Percebi que ele ficou ouvindo.
- Você não quer ser minha sócia?
- Sócia? Não. Já tenho meu trabalho aqui.
- Sim, eu sei, mas falo de ganhar dinheiro. Aqui você tem um salário e só.
- Não, esta bom assim.
- Mariana, estou falando de sua independência financeira. Um negócio que vai te dar muito dinheiro.
- Como assim? – perguntou ela interessada.
- Deixa eu te contar. Eu trabalhei com regularização fundiária. Vi que tem muita sacanagem nesse meio. O pessoal invade uma área, com o conhecimento do dono. Ele topa porque não consegue aprovar o loteamento nos órgãos públicos, tamanha é a exigência das leis. Depois eles fazem um loteamento popular.
- Não estou entendo. Ganhar dinheiro com invasão de terra?
- Sim.
- Mas como?
- Simples.  A gente encontra uma  área grande que estiver, vamos dizer, assim, abandonada. Reunimos uma turma para invadir. Contrata um topógrafo para demarcar a área em lotes populares, com cento e cinqüenta metros quadrados cada lote. A gente aluga um trator para abrir uma rua. Pronto. Está feito o loteamento. Quando tudo estiver vendido, a gente vai à justiça e faz um acerto com o dono. Pagamos um valor mais baixo, financiado. A gente recebe de um lado e paga do outro. No meio tem o nosso lucro. Entendeu?
- Muito fácil isso. E o dono aceita, assim?
- Claro que sim. O dono tem que aceitar. Afinal, se ele não topar, ele vai acabar morrendo com a área. Não tem alternativa. Isso dá grana. Muita grana. Tem pouco investimento. É lucro na certa.
Pensei: Ela gostou da idéia. Vamos em frente.
- E a prefeitura, deixa? -  ela perguntou.
- Sim. A fiscalização da prefeitura é conivente. Finge que não vê. É invasão. Tem criancinhas. Gente pobre. Ninguém tem coragem de despejar gente pobre com criancinhas. Fica todo mundo com pena.
- É verdade.
- Então, os políticos acham que está fazendo justiça social. Dando terra para o povo. A justiça apóia. É assim que funciona. Todo mundo sai ganhando.
- Muito fácil isso.
- Sim, é. Mas é preciso ter coragem. Não é fácil enfrentar o povão. Muita coragem para dominar o povão. Mas, você tem coragem, pelo seu jeito. Já vi você aqui dentro atuando.
Ela deu um sorriso.
- Você não imagina como está cheio de vereador, deputado que se elege fazendo esses rolos. Eles ganham dinheiro e ainda ficam populares.
- Vou pensar. – disse ela. - Vou consultar uns amigos.
O pai conversou com a Dra. Kátia e pareceu-me que apoiou a idéia. Depois foram todos embora.
- Que é que você está aprontando dessa vez? – perguntou o italiano.
- Eu quero sair daqui. Preciso ter ela como aliada. Ela vai me tirar daqui. Você vai ver só.
- Mas, você já fez esses rolos antes?  
- Que rolo?
- Esses ai que você falou para ela. – perguntou ele.
- Não! Claro que não. Mas, ela não sabe. O importante é que ela escutou. Significa que ela se interessou. Isso é muito bom.
- Como você vai fazer se ela topar?
- Sei lá. Nesse momento o que importa é ela topar. Ela vai topar. É roleira.
- Você não respondeu. E depois, como você vai fazer?
- Vou falar a verdade. Eu não tenho estomago para fazer isso. Não é do meu feitio. Mas, não é porque eu não faço rolo que eu não sei que exista, não é? Eu sei que tem muita gente fazendo isso. Advogados, então, nem se fala.
- Mas, você não é engenheiro?
- Sou. E daí?
- Então? Como você vai fazer depois? Você nem advogado é.
- Não sou, mas estou por dentro. Você sabia que atualmente para se pleitear um usucapião basta você estar na posse só por cinco anos?
- Mas não eram quinze, vinte anos?
- Era. Para áreas urbanas, agora, usucapião basta estar na posse por cinco anos. É lei.
- Estou vendo que você entende mesmo. Mas, como você vai fazer?
- Deixa ela topar. Ela me tira daqui. Ai eu dou um jeito de pular fora. Sabe como é, vão aparecer as dificuldades... Nada é fácil. Dou um tempo e pulo fora. Mas ai, eu vou estar lá fora. Entendeu?
- Entendi. Você é mesmo inteligente! Sabe armar uma estrategia. Não vá esquecer os amigos, né? Me leva junto.
- Claro que sim. Levo você junto. Fique tranquilo. Você sai daqui comigo.  
No dia seguinte, Mariana apareceu junto com uma amiga. Não gostei do jeito dela. Ficava dando muito conselho.
- E ai, Mariana? Pensou? – perguntei.
- Ah, não vou fazer. Perguntei para um dono de uma imobiliária e ele disse que fazer loteamento é muito difícil. Os órgãos do governo não aprovam nada. E quando aprovam demoram muito. Gasta-se muito. Tempo e dinheiro. Precisa ter muito capital. E é demorado.
- Mas, não foi isso que eu disse. Eu falei de loteamento popular. De invasão e regularização. Não tem nada a ver com loteamento certinho.
- Vou conversar com um vereador amigo meu.
- Pode falar. Você vai ver que o negócio é bom. É a sua independência financeira. Vou aguardar sua resposta positiva.
- Não sei. Vamos ver. Ah! Tem outra coisa, O meu pai falou ontem à noite que está querendo comprar a UTI. Ele disse que eu ficaria tomando conta.
- E a sua mãe?
- Ela está querendo parar. Está cansada. São muitos anos de UTI. Eu fico no lugar dela. Eu gosto desse trabalho.
Pensei: Acho que meu plano foi por águas a baixo. Ela vai ficar na UTI.
Anoiteceu.
Havia uma movimentação não comum na UTI.
Os procuradores voltaram.
Dessa vez estavam dispostos a retirar todo mundo.
Começaram a remover alguns pacientes, que estavam em melhor condição. 
Colocaram a minha cama e a do italiano perto da porta de saída da UTI.
Aproximaram-se de mim duas bonitas jovens, vestidas de branco.
Apresentaram- se, uma dizendo que era fonoaudióloga e a outra médica otorrino.
- Senhor José, nós viemos fazer uns exames no senhor.
Pensei: São procuradoras médicas. Que legal!
- Nós vamos examinar sua garganta. Vou introduzir esse aparelho em sua narina.
Vi que tinha na ponta uma luz forte na ponta.
- O que é isso? – perguntei.
- É uma câmera. Vou examinar sua garganta. Fique tranquilo. Não dói. O senhor deixa eu introduzir?
- Sim.
- Então, vamos começar. Relaxe...Não vai doer. Vou colocar devagar.
Ela introduziu um cateter na minha narina.  Não doeu nada.
Após ela realizar o exame ela disse:
- Está tudo bem. Sua garganta está boa.  Que bom, né?
Concordei movimentando a cabeça afirmativamente.
- Agora nós vamos ver como está sua deglutição. Nós vamos dar umas colheradas desse preparado de cor azul, que eu trouxe. É gostoso. Tem gosto e textura de um iorgute. O senhor vai ter que engolir devagarinho. Está preparado?
- Estou...  Estou morrendo de fome. Eu não como desde que eu entrei aqui.
- Com calma, senhor José... Vamos começar?
- Vamos.
Ela me deu uma colher. Que delicia! Saboroso. Enfim estava comendo algo.
- Tem gosto de abacaxi. – disse.
- É isso mesmo.
Ela continuou me dando colheradas e pedindo para deglutir, até acabar.
- Gostoso. Tem mais? – disse.
- Não, senhor José. Por hoje, é só isso... O senhor está deglutindo bem. Isso é muito bom. O senhor vai poder se alimentar em breve. 
- E eu? – perguntou o italiano. - Eu não vou tomar esse iorgute também?
 -  Sim. Já vamos ai. Aguarde um pouco – respondeu a médica.  
 - Senhor José a sua língua está azulada. Vai ficar assim mas logo sai.
Elas foram até o italiano e fizeram o mesmo procedimento.
Pensei: Que maravilha! Agora  que vieram os procuradores as coisas vão mudar. Quando é que o pessoal daqui iria mandar uma médica fazer uma avaliação dessas em mim? Nunca. Só ficam me dando remédios e mais remédios. Ninguém me examina.  
Depois elas foram embora.

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