terça-feira, 8 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXV

Capitulo XXV – Retorno à UTI

À noite, apareceu Roberto, o enfermeiro amigo do Flávio.
Pensei: Esse cara está em todo lugar. Ele e os outros trabalham em vários hospitais. Onde arrumam tanto tempo para isso?
Roberto aproximou-se de mim.
Achei estranho, pois ele não era o enfermeiro que estava escalado para cuidar de mim naquela noite.
Ele começou a manipular os frascos de plástico com remédios.
Observei que esses frascos faziam parte da cortina. Ficavam na parte superior e seguravam a parte de baixo. Cada frasco continha um tipo de medicação.
Pensei: Puxa não havia reparado nisso antes. Que prático. O frasco serve tanto para armazenar o remédio e ao mesmo tempo serve para segurar a cortina. Bem bolado.  
Eu não queria mais ser sedado. Minha mulher sempre reclamava que eles me sedavam justamente na hora das visitas e eu não conseguia ficar acordado para vê-la.
Percebi que Roberto aumentara a dosagem de sedativo. Tentei falar para ele não fazer isso, pois depois eu ficava com muito sono. Ele contestou dizendo que seguia a prescrição médica. Contra argumentei dizendo que o Dr. Paulo Renato havia solicitado à enfermagem para diminuir minha sedação. Ele disse que de noite não valia, pois eu tinha que ser sedado para relaxar e dormir.
Pensei: Esse cara é chato. Quer me sedar mesmo. Qual a finalidade dele me sedar?
Começou a sessão de banho na UTI. Começaram pelos pacientes mais distantes a mim.
Estava quase dormindo, quando vi que Roberto se aproximou novamente de mim, portando toda a parafernália para me assear.
Estava muito sonolento.
Ele me segurou colocando um braço nas minhas pernas, na altura do joelho e com o outro segurava minhas costas, na altura do meu pescoço.
Achei estranho essa atitude.
Pensei: O que esse cara esta fazendo?
Ele me conduziu para um canto escuro, onde estava Cláudio, o enfermeiro negro.

- Vamos brincar de trenzinho. Eu fico atrás de você. Você fica atrás do Cláudio. – ele disse.
Fiquei assustado com essa ideia.
Pensei: O que é isso, agora? O que é eu faço? Espera ai. Tenho que ficar calmo. Tenho que ser educado, mas firme.
Senti um calafrio na espinha
Disse calmamente, mas ríspido:
- Eu não gosto disso. Eu não quero. Por favor. Pare.
- Você vai gostar... – respondeu ele.
- Não! Por favor. Eu não quero. Não gosto disso, já disse.
- É só um pouquinho.
- Não! Eu não quero. Por favor. Estou com sonda. Estou me sentindo mal.  Isso só vai me prejudicar. Por favor.
- É verdade. - disse Cláudio. – Melhor não mexer com ele.
 - Vamos nós dois? – propôs Cláudio para o Roberto.
Roberto aceitou e me colocou novamente no berço. Agarrou Cláudio pela cintura e disse:
- Vamos chamar mais gente para a festinha.
E saíram da UTI alegres, carregando a toalha de banho e lençóis que haviam trocado da minha cama.
Pensei: Ufa! Que alivio! Agora acho que posso dormir sossegado.
Dormi.
Quando acordei já era hora da visitação. Vi entrar várias pessoas. No final da turma, apareceu minha esposa e minha filha. Fiquei contente.
Mostrei o vermelhão no braço.
- Puxa pai, o que é isso? – perguntou Michelle assustada.
- Nossa, Gê, o que fizeram com você? – falou Cris, com ar de preocupação.
Tentei explicar como aconteceu, usando mimica. Apontei para uma enfermeira. Minha mulher perguntou:
- Foi ela?
Mexi negativamente com a cabeça.
- Então... Quem foi?
Apontei outra enfermeira. Minha mulher novamente perguntou::
- Foi essa?
Mexi negativamente com a cabeça.
Michelle então falou:
- Foi uma enfermeira, não é, pai?
Respondi afirmativamente com a cabeça.
- Qual delas? – perguntou Michelle.
Puxei os olhos com os dedos para imitar os olhos de um oriental.
- Foi uma japonesa? – perguntou minha mulher.
- Onde ela está? – perguntou Michelle, inquieta e procurando com movimentos de cabeça onde ela estaria.
Mexi com os ombros para cima e para baixo, como se respondesse não sei.
Girei os dedos indicadores um sobre o outro para dizer que foi em outro lugar.
- Como assim, pai, que outro lugar? – perguntou Michelle. – Você não saiu daqui.
Suspirei. Mexi a cabeça negativamente e pensei: Elas não estão entendo nada.
Eu tinha certeza que fora o garrote que a enfermeira oriental da faculdade de medicina da USP tinha colocado em meu braço que causou isso.
Estava ficando impaciente, pois elas não entendiam o que eu queria dizer, pois não podia falar em razão da traqueostomia. Eu bem que tentava, mas a voz não saia.
Fiz tentativas para lessem meus lábios, mas poucas eram as palavras que conseguia comunicar.
A minha mulher pegou uma caneta e um bloco de papel , que ela deixara anteriormente, para que eu escrevesse o que queria dizer.
Tentei escrever.  Mas, eu só escrevia garranchos, que elas não entendiam. Estava com as mãos tremulas, que eu procurava disfarçar. Não tinha força muscular nas mãos, ocasionando uma falta de coordenação motora. Por mais que tentasse escrever legível, ninguém entendia minha letra.
Não sei se foi idéia da minha filha Michele ou da minha esposa Cristina, mas elas montaram uma tabela com todas as letras do alfabeto, para que eu apontasse as letra por letra, formando palavras. Essa seria a forma de me comunicar.        
Usei a tabela alfabética para compor as frases para facilitar o entendimento.
Apontei para as letras da tabela alfabética: U...S...P
- USP? - perguntou Cris.
Respondi afirmativamente com o dedão em riste.
- Gê, o que é que tem na USP?
Com mão fechada e com o indicador em riste, apontei para mim.
- Você...
Respondi com o dedo com um sinal de positivo.
Girei a mão e apontei para a tabela, confirmando o local.
- Pai, você quer dizer que foi na USP? – disse Michelle.
- Não, Gê, você não está na USP. Você está no hospital Alvorada em Moema. – disse Cris.
Respondi negativamente com a cabeça e apontei novamente para a tabela.
- Não, Gê, você não está na USP. Você está em Moema.
Pensei: Eu sei que estou na USP, caramba. Que mania elas tem de me contrariar. Eu sei onde eu estou. Eu vim para cá andando.
- Foi o garrote. – falei sem voz, olhando para ela entender o que dizia.
- Gê, não entendi. Você não consegue falar.
Apontei para as letras da tabela alfabética: G...A...R...R...O..T..E
- Garrote. pai? – perguntou Michelle.
Respondi afirmativamente com a cabeça.
- Pai, que garrote é esse?
Cris, mais preocupada com a vermelhidão do meu braço, disse que fora causada pelo derrame de sangue interno, causado pelo cateter que estava em meu braço.
Eu não aceitei. E continuei insistindo que fora o garrote que me colocaram na faculdade de medicina da USP.
Apontei para o braço.
- Pai, você está querendo dizer que uma enfermeira colocou um garrote em seu braço?
Respondi afirmativamente com a cabeça.
- Não, pai foi o cateter. A mamãe já disse.
- Garrote. – tentava falar.
- Está bem, pai, foi o garrote.
- Prego. – disse sem voz.
- Prego? Que prego, pai?
- Prego no garrote.
- Pai, você quer dizer que uma enfermeira colocou um garrote com prego no seu braço?
- É
- Não Gê, é o cateter.
- Mãe, se ele está dizendo que foi, foi. Não discute, com ele, mãe. – disse Michele.
Pisquei para ela, agradecendo por ela entender e concordar comigo.
- Está certo. Foi o garrote – concordou Cris. – Vamos então tratar.
Minha mulher disse que iria dar um jeito para melhorar a vermelhidão. Passaria hirudoid, uma pomada apropriada para isso.
 Foi em direção a bancada dos enfermeiros e pediu para uma enfermeira arrumar a pomada. A enfermeira prontamente atendeu. Foi  até a farmácia da UTI e trouxe uma bisnaga de hirudoid.
Como sentia uma dor no dedo indicador da mão direita, mostrei o dedo para minha mulher. Ela ficou assustada e disse:
- Gê, o que fizeram com seu dedo? Está muito roxo e inchado. Isso é um absurdo!
Bati com o outro dedo no dedo machucado indicando que eles furavam o dedo para realizar o teste de glicemia.
- Não, Gê não deixa eles furarem esse dedo. Dá outro dedo.
Confirmei com a cabeça. Mas, quando os enfermeiros vinham colher sangue eu não estava acordado. Como poderia impedir?
- Como é possível eles não verem isso. Eles tem obrigação de mudar de dedo. –disse Cris indignada. – Vou falar com a enfermeira já. Eles não podem fazer isso com você. Isso é um absurdo.
Ela chamou uma enfermeira, mostrou o meu dedo e reclamou brava. A enfermeira disse que iria avisar para mudarem de dedo.
Depois, minha mulher ficou espalhando a pomada em meu braço e no meu dedo, fazendo uma massagem gostosa.
- Gê, deixa eu te contar. O doutor Paulo está providenciando uma válvula para você poder falar. Ele esta tentando junto ao hospital. Mas aqui tudo é demorado.
Apontei para as letras da tabela alfabética: Q...U...A...N...D...O
-Quando?- ela perguntou.
Movi a cabeça, afirmativamente.
- Não sei. Depende do hospital ter boa vontade de comprar. Sabe como é aqui.
Apontei novamente para as letras da tabela: A...G...I...T...A
- Gê, fica calmo. O doutor Paulo está fazendo o que pode para o aparelho vir o quanto antes.

                                      continua no próximo capitulo

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Reflexão politica

Tenho acompanhado uma divisão política, que segundo especialistas, esta fatiada em 1/3 para cada parte. Há a fatia dos petistas, a dos não petistas e na terceira fatia há os apolíticos.
Há uma polarização nas discussões entre petistas e não petistas. Os apolíticos, por estarem desacreditados da política, não se manifestam. 
Mas, a discussão fica apenas no campo do voto majoritário do executivo. Seja para presidente, para governador, para prefeito.
Entretanto, ao contrário do que muitos imaginam, um governo não se faz apenas com um presidente, com um governador ou com um prefeito.
Há toda uma estrutura política, para não falar da estrutura da maquina publica, que faz com que as coisas aconteçam.
Talvez pela nossa cultura de endeusar pessoas, acreditamos que o único responsável pelas decisões é um presidente ou um governador ou um prefeito.
As decisões que eles tomam são no âmbito de diretrizes, com um desconhecimento das minúcias.
Eles não são deuses. Não estão em todos os lugares, ao mesmo tempo.
Eles não manipulam como marionetes o que cada componente da estrutura de governo faz.
Cada colaborador pensa e age sob suas próprias convicções e sob os interesses de grupos. Estes, por sua vez, também os influenciam.
Como resultante as decisões dos governantes esta influenciada por todos aqueles que os rodeiam proximamente e, por tabela, por outros que nem imagina poderiam influenciar.
O resultado disso tudo é uma babel de interesses, cada um forçando seu próprio interesse.
            Por outro lado, esquecemos que um governo tem a participação decisiva do legislativo.
            O legislativo, por sua vez, é uma massa disforme, com diversos tentáculos, que se movimenta ao sabor das oportunidades que se apresentam. Tem o poder de influenciar as decisões políticas dos governantes do executivo de maneira quase que chantageadora. O exemplo disso é o ex-presidente Collor, que foi destronado não pelas supostas irregularidades, mas sim porque quis romper com a influência do legislativo.
Onde quero chegar?
Enquanto ficarmos discutindo se A ou B serão os próximos eleitos para o executivo, e continuarmos a descuidar da analise de quem serão aqueles que comporão o legislativo pouco haverá de mudanças na política nacional, por conta do poder que o legislativo tem.
Os deputados e senadores são eleitos de maneira bizarra. Uns caem de pára quedas, graças à visibilidade pessoal que tiveram na mídia. Outros porque detém um curral eleitoral há anos. Seus eleitores votam porque sempre votaram naquele candidato. Outros ainda recebem votos de forma aleatória de eleitores, que por falta de opção, acabam cedendo o voto para ele.
O eleitor da grande maioria eleita, sequer conhece os pensamentos, os projetos, a vida de seu escolhido.
Muitos daqueles que se candidatam para o legislativo nunca poderiam estar lá. Não representam os interesses da população. Alguns por desconhecimento total do que fazem lá. Outros, que compõe uma maioria decisiva, vislumbram apenas resolver seus interesses pessoais e de seus grupos que os mantém no poder.
Sob minha ótica, enquanto não houver uma composição de um legislativo mais comprometido com os interesses nacionais e na busca de um amplo entendimento entre os poderes da republica, tudo continuará como está.
Para concluir, na próxima eleição, proponho que deveríamos conhecer todos os candidatos a deputado, a senador, tão ou mais que o candidato a presidente ou a governador.
             Para aqueles apolíticos, que não estão preocupados com a política e falam ate em anulação de voto ou voto branco, recomendo que entendam de uma vez por todas que a única forma de mudar o estado das coisas, dentro da democracia, é pelo voto.

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXIV

Capitulo XXIV – A primeira saída da UTI

A noite chegou.
Flavio aparece. Sem falar nada, me tirou da UTI e me levou para um bar no meio de um deserto.
O bar tinha as características daqueles de filmes de  “far west”. Todo revestido em madeira, com um balcão também de madeira. No teto haviam rodas de carroças penduradas, com luminárias.
Fiquei sentado em uma cadeira, amarrado, no meio do salão. Não havia mais ninguém. Só eu e o Flávio.
Ele bebia muito e toda hora perguntava se eu queria beber também. Eu respondia que não podia, mas que sentia muita sede. Queria beber água.
Ele estava muito inquieto. Andava de um lado para outro.
De repente, aparece um trem, tipo Maria fumaça, com alguns vagões. Não era muito grande e também não era trenzinho de brinquedo. Tinha um tamanho suficiente para caber por inteiro dentro do bar.
Saiu da lateral direita do bar, passou na minha frente, sobre um trilho que apareceu do nada e entrou na lateral oposta.
Passou um lapso de tempo e o trem voltou a aparecer na lateral direita e fez o mesmo movimento. Ficou a noite inteira rodando. E eu sentado, de castigo, olhando.
Pensei: Quando isso vai acabar? Precisa amanhecer logo. Não aguento mais isso. Bom, pelo menos não tem sessão tortura. Isso já é ótimo.
Depois, soube que havia um paciente fazendo diálise a meu lado. O barulho que o aparelho faz, assemelhas-se a um trem se movimentando.
Começou a amanhecer.
Escutei um barulho de carros no teto do bar.
Aos poucos fui subindo envolvido em uma nevoa branca.
De repente, estava numa laje sobre o teto, onde estavam uns jipes e bugues, estacionados. Eram coloridos, com a estampa de uma marca de um refrigerante que não conhecia.
Em um deles estava minha mulher, que falou que estava produzindo um comercial de um refrigerante novo.
Estranhei um pouco, pois ela não é da área nem trabalha com isso.
Ela disse que conheceu um garoto argentino e virou empresária do garoto. Como ficou sabendo que estavam procurando um garoto com o perfil dele para fazerem um comercial, ela o apresentou e conseguiu um contrato. 
Dentro dos veículos havia muitas latinhas do refrigerante dentro de uma caixa de isopor com gelo..
Todas as pessoas que estavam ali seguravam um refrigerante e o bebiam com satisfação.
Aquilo me deu sede. Eu estava com muita sede. Pedi para beber o refrigerante, mas apareceu Dra. Kátia dizendo, amavelmente:
            - Não senhor José Geraldo, o senhor não pode beber nada.
Olhei melhor e vi que a Dra. Kátia estava com os cabelos alisados e bem tratados. Olhei as mãos dela e vi que estava com as unhas pintadas. Olhei seu rosto e vi que estava maquiada e com um batom vermelho.  Trajava um vestido justo na cor vermelha.
Pensei: Como ela está bonita hoje.
- Ela também vai participar do comercial – disse minha esposa.
- Sim, me convidaram...eu aceitei. - disse Dra. Kátia.
E os veículos começaram a se movimentar, levantando um pouco de areia.
Entrei em um deles, acompanhado de uma enfermeira. Ela segurava uma base metálica típica, onde estava pendurado um frasco com soro, que estava ligado por um tubo no meu braço direito.
Fomos para a cidade universitária da USP, onde estava sendo realizada a filmagem do comercial.
O local era uma das praças rotatórias, próxima as instalações da faculdade de medicina. Embora sabendo que a faculdade de medicina da USP esta localizada fora da USP, aquela era a minha realidade.
No centro da rotatória, sobre a grama, havia uma enorme estrutura metálica, toda envidraçada, do formato de uma meia esfera cortada ao meio, de boca para baixo.  A estrutura era constituída por peças hexagonais interligadas.
Chamavam de cubo mágico.
Internamente havia compartimentos em forma de cubos. As paredes do compartimento eram de um material semelhante a uma divisória. Assim como o piso e o teto tudo era revestido com fórmica, com exceção da parede externa, que era de vidro.
Os cubos se moviam em todas as direções, como no brinquedo cubo mágico.
O garoto estava no topo do cubo. Parecia ter uns cinco a seis anos,  Seu rosto era muito branco, tinha os cabelos lisos, pretos e curtos, Tinha olhos azuis. Trajava uma calça preta, curta e com suspensórios, uma camisa branca com a manga dobrada e sapatos pretos com meia soquete branca. 
Começou a filmagem. Ele tranquilamente bebia o refrigerante. O compartimento em que ele estava se movimentou para baixo. Em outro compartimento estava a Dra. Kátia sorrindo. Este subia.
Parecia uma roda gigante se movimentando.
Resolvi entrar na estrutura.
Tive que aguardar o término da tomada do take.
Entrei. O compartimento que entrei estava inclinado e aos poucos começou a se movimentar e ficou na posição horizontal.
O compartimento começou a se movimentar novamente. Fui avisado que precisaria mudar de compartimento, pois ele se inclinaria e não poderia ficar mais lá.
Cada vez que o cubo de movimentava, inclinando-se, era preciso mudar de compartimento.
Passei por uma porta e entrei em outro compartimento. Havia duas portas. Uma do compartimento que saia e outra na que entrava. Fechei as portas rapidamente, pois com o deslocamento as portas mudavam de posição e não se encaixavam.
Ouvi uns rangidos das paredes. Alguém me disse que era assim mesmo, pois o movimento forçava um pouco toda a estrutura.
Os movimentos dos compartimentos começaram a ser mais rápidos, obrigando uma mudança rápida de compartimento. Em uma dessas mudanças não deu tempo para passar o porta soro e foi cortado o tubo de ligação com o soro.
A enfermeira então, rapidamente, espetou outro cateter em meu braço direito para eu continuar recebendo o soro.
Fiquei nessa cansativa troca de compartimentos, que não tinha fim.
Estava cansado e sentia muita sede.
Pedi para tomar o refrigerante, mas a enfermeira disse que eu não podia beber nada.
Decidi sair do cubo mágico.
Enquanto isso a filmagem continuava.
Falei para Cristina, minha mulher, que precisava voltar para o hospital, para descansar.  Ela disse que me acompanharia.
Fui caminhando com ela até a porta de um hospital próximo.
Lá chegando, eu tentei me comunicar com as pessoas para dizer que precisava ser tratado. As pessoas passavam e não me davam atenção.
Minha esposa resolveu entrar no hospital para se informar sobre a minha internação no local. Pediu para eu aguardar na porta.
Eu continuei tentando falar com as pessoas que passavam. As poucas que consegui parar, não entendiam o que eu queria dizer. Não conseguia falar. Não tinha voz.
Como a Cristina não voltava, fui me movimentando em direção à faculdade de medicina, junto com um grupo de pessoas.
De repente me vi na frente da entrada da faculdade.
Havia uma rampa em curva que conduzia a um pórtico de concreto armado, onde ficava a portaria. Ela estava localizada em um nível mais baixo do que o nível da rua.
Desci a rampa. Chegando à região das catracas, vi um anãozinho. Olhei para ele e reconheci como o mesmo que ficava na recepção da UTI.
Cumprimentei-o. Ele disse que trabalhava na faculdade, como porteiro.
Perguntei onde ficava localizada a direção da faculdade. Ele me disse que a diretora da faculdade era a Dra. Kátia e me indicou o caminho.
Saindo da portaria, havia um imenso pátio.
Do lado esquerdo havia algumas casas térreas. Em uma delas ficava a diretoria.
Do lado direito havia diversos prédios de um pavimento. Pareciam galpões industriais. Tinham paredes revestidas com um chapiscado grosso, na cor cinza, formando um rodapé de um metro de altura. O resto da parede era pintado na cor bege claro. Eram cobertos com telhas francesas, que não se via, pois havia uma platibanda. O vão das janelas era emoldurado com uma faixa na cor branca. As janelas eram de perfis de ferro, tipo basculante com vidros martelados.
Caminhei até um dos prédios e entrei. Era a ala da fisioterapia.
Ouvi o alto falante chamar Mariana, a fisioterapeuta filha da Dra. Kátia.
Pensei: Interessante. Ela trabalha aqui também. Então é isso. Todo mundo que trabalha na UTI está aqui na faculdade.  A Dra. Kátia é diretora daqui da faculdade e deve contratar esse pessoal, no hospital, por um valor menor que o mercado. Como são funcionários públicos, o pessoal aceita, pois acabam dando um jeito de faltar na faculdade e trabalhar no hospital. Assim recebem um salário maior, cumprindo a mesma jornada de trabalho. Ela, por sua vez, economiza no custo operacional da UTI. Saem todos ganhando. Menos o contribuinte. A Dra. Kátia sabe ganhar dinheiro.
Mariana passou por mim, perguntou se não queria colocar a máscara para fazer a ventilação dos pulmões. Disse que não. E fui embora, rapidamente, antes que ela me pusesse à força.
Sai daquele prédio. Continuei andando, passei por diversos prédios.  Até que cheguei num prédio, identificado como de psiquiátrica. Havia uma escadaria para acessar a porta principal.  Sentei-me no guarda corpo da escada.
Vi no chão uma peça de madeira e peguei. Era uma peça de madeira articulada, com um prego grosso no meio. Parecia um garrote. Resolvi colocar no braço para experimentar e ver como funcionava.
Continuei andando com a peça de madeira colocada no meu braço, sem prender.
Afastei-me um pouco dos prédios e voltei para a região das casas onde ficava a diretoria da faculdade para falar com a Dra. Kátia.
Como havia muita gente esperando para falar com ela, sentei-me em uma mureta, aguardando a minha vez.
Nisso saiu a Dra. Kátia rodeada de alunos.
Tentei chama-la várias vezes, acenando com as mãos, mas não consegui fazer com ela me visse.
Não tinha voz. Não consegui gritar.
Ela foi-se embora junto com os alunos.
Resolvi tirar a peça de madeira do meu braço, que não estava totalmente colocada.
Quando estava quase soltando, apareceu uma enfermeira oriental dizendo que finalmente achara o paciente que precisava colocar o garrote. Disse isso olhando para mim.
Tentei falar para ela que peguei o garrote só para ver, que não era meu. Mas não conseguia falar.
Ela insistia, dizendo que eu devia colocar o aparelho, pois era recomendação médica.
Ela tentava a todo custo enfiar o garrote no meu braço. Eu resistia. Começou a me machucar, pois o prego grosso penetrava na dobra interna do cotovelo, onde se aplica injeção na veia.
Chutei a enfermeira, empurrava-a com meus pés. Mas quanto mais eu resistia, mais ela forçava. Ela tinha uma força descomunal. Eu não conseguia me livrar dela.
Ela pediu ajuda. Acabei sendo imobilizado por um outro enfermeiro mais forte. Ela, finalmente, colocou o garrote com o prego em meu braço. E foram embora.
Olhei e vi que estava com toda a região da dobra do braço avermelhada.
Pensei: Desgraçada. Olha só o que ela me fez.
Tentei, mas não conseguia retirar o garrote. Ele estava preso com cadeado.
Pensei: E agora. O que é que eu faço?
Olhei ao redor e vi adiante da diretoria um prédio construído no estilo tailandês. Resolvi entrar nele e pedir ajuda.
Nisso apareceu novamente a enfermeira. Ela retirou o garrote do meu braço, alegando que este era o único e precisava dele para utilizar em outro paciente.
Pensei: Ufa! Até que enfim ela entendeu que não era para mim.
            Para acessar o prédio, havia uma escadaria em mármore branco.
Subindo a escadaria, havia um amplo terraço semi coberto. De um lado havia um lago coberto por um gazebo, coberto com uma trepadeira com flores vermelhas.
Do outro lado, na parede lateral, havia um relógio enorme, de pedra, com desenhos representativos da cultura tailandesa, em alto relevo.
Dentro do lago havia pedras, formando uma passarela. Tinha também peixes ornamentais grandes.
Apareceram umas moças orientais, sem sapatos, vestidas com roupas tipicamente tailandesas, com tecidos coloridos em tom pastel. Estavam maquiadas com uma textura própria e característica, tendo como fundo uma cor branca e delineando a boca e olhos cores forte. Na orelha tinham brincos grandes. No cabelo liso e negro havia algumas argolas coloridas formando um rabo de cavalo.
Começaram a saltitar delicadamente sobre as pedras. Isso fez movimentar o relógio. Havia duas portas laterais ao relógio, tipo de um cuco grande. Elas foram abertas. Do vão de uma delas surgiram diferentes estatuas, representativas de ícones tailandenses, que circulavam pela frente do relógio e entravam pela outra abertura do outro lado.
Ouvia uma musica tailandesa relaxante, em um volume de som baixo.
Estava me sentindo relaxado e apreciava os movimentos.
Nisso apareceu um senhor, com uma barba branca comprida e bem tratada. Tinhas os cabelos brancos compridos e presos, formando um rabo de cavalo. Ele estava enrolado em uma manta branca. Parecia um monge.
Ele saiu de dentro do prédio, veio em minha direção e me convidou para entrar. Aceitei.
Lá dentro, enquanto percorria o caminho que o homem me indicava, vi mobiliários típicos da Tailândia. Cadeiras e mesas de madeira talhados com desenhos em alto relevo. Parecia que estava na Tailandia.
Descemos uma escada até o subsolo e chegamos a uma UTI, sem falara nada.
Nesse local, uns enfermeiros orientais me colocaram deitado, com movimentos suaves, em um tipo de um berço, feito com rede. Era um pouco pequeno para mim. Tive que encolher as pernas.
Pensei: Os orientais são mais baixos, por isso que não caibo.
O salão da UTI não era muito grande e só havia meu berço.
Escutei uma voz ao longe procurando por mim. Era minha mulher. Eles não a deixaram entrar. Ouvi dizerem que ela chegara fora do horário de visita.
Ela discutia com um atendente, dizendo que queria me ver. Mas não teve jeito. Não a deixaram entrar. Eu até tentei conversar com um enfermeiro para tentar explicar que eu precisava vê-la, mas não conseguia falar.  

                                      continua no próximo capitulo

domingo, 6 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXIII

Capitulo XXIII – Uma visita inesperada

Quando acordei, estranhei a situação.
Havia uma porta com duas folhas de vidro, com um luminoso com o nome do hospital, na parte superior.
Na frente da porta havia uma calçada de cimento, larga, onde eu estava sentado em uma cadeira de rodas, acompanhado de um enfermeiro que segurava a cadeira de rodas, por trás.
Aguardava minha família vir me buscar.
Do lado direito havia uma rampa que descia para o subsolo, por onde carros subiam e desciam para o estacionamento.
Subiram vários carros, mas nenhum deles era da minha família.
Apareceu Flávio, dirigindo seu carro esportivo importado. Deu uma buzinada para mim e foi embora, acompanhado de uma garota.
Chegou uma ambulância.
Parou de ré, próximo da porta de vidro.
Dela retiraram um paciente em uma maca e levaram para dentro do hospital.
As horas passavam e ninguém aparecia.
Pensei: Será que eles se esqueceram de vir me buscar?
Olhava para um relógio que havia em uma parede na parte interna do hospital. Contava os minutos que se passavam. Já era tarde da noite.
De repente, vejo na minha frente o vulto de uma pessoa. Havia uma luz atrás, de forma que não conseguia distinguir quem era essa pessoa. Olhei melhor e vi que era a Flora.
Flora foi uma empregada que trabalhou na casa da minha mãe, desde quando era criança até o final da minha adolescência. Ela era muita trabalhadora. Mas, tinha um problema mental. Que a tornou prolixa. Ela tenta entrar na conversa sem ser chamada, da sua opinião. Fala de tudo e de todos,. Um assunto puxa outro e ela não para de falar. Ninguém a aguenta.
Apesar de ter ficado muitos anos distante, ela sempre manteve contato com minha mãe. Há alguns anos voltou a trabalhar de novo na casa da minha mãe como diarista, nos finais de semana, para suprir a folga da empregada doméstica da casa.
- Flora, você por aqui? – perguntei.
- Vim visitar o senhor, doutor Geraldo. – disse ela rindo.
O cenário, então, começou a mudar e me vi novamente dentro da UTI, deitado na cama.
- Como você conseguiu entrar aqui, a essa hora, Flora? A visitação já acabou. – disse
- Olha, doutor Geraldo, eu já fui enfermeira, o senhor sabe disso.  Já trabalhei em muitos hospitais. É doutor Geraldo, eu não sou formada, mas sou melhor que muitas enfermeiras que tem por ai. Eu conheço vários deputados, senador. Fiz campanha para vereador no meu bairro. Conheço todos os políticos. São todos meus amigos. O senhor sabe, já trabalhei na casa de muitos políticos.
- Sei, Flora.
- Eu entro em qualquer lugar. Eu disse na portaria que era enfermeira do doutor Fernando. Eu conheço o doutor Fernando. Ela era muito amigo do seu pai. Lá da Assembléia Legislativa. Ai eu disse para o porteiro que o doutor Fernando me autorizou visitar um paciente dele. É o senhor. – disse Flora rindo de sua esperteza.
Pensei: Essa é a Flora. Ela é meio maluquete, mas é muito inteligente. Sabe se virar.
- Como é que o senhor está, doutor Geraldo?  - perguntou ela.
- Estou bem. Gostei de te ver, Flora.
- Que bom que o senhor está bem. O doutor Barbosa, seu pai, está ajudando o senhor. Ele está lá no céu olhando para o senhor. Eu sei. Eu falo com ele sempre. Ninguém sabe. Mas, eu vou falar para o senhor. Seu pai me disse que o senhor vai ficar curado. Bom. Ele está protegendo o senhor. O senhor vai ver.
- Está bem, Flora. Olha...  Já está tarde. Preciso dormir, para ficar bom.. 
- O senhor precisa descansar mesmo. É verdade. Bom... Agora vou ter que ir embora. Preciso arrumar a casa da sua mãe. Está uma bagunça. O senhor precisa ver. A Lúcia não faz nada. Nada! Não sei como a dona Maria José não manda ela embora. O senhor não concorda?
- Não, Flora, deixa a Lúcia em paz.
A Flora tinha muito ciúmes da Lúcia, que é a empregada da minha mãe. Sempre que podia, ela falava mal da outra.
- A Lúcia não cuida casa da sua mãe como eu cuido. Ela não presta.
- Está certo, Flora. Agora você precisa ir embora. Obrigado pela visita.
- Doutor Geraldo, eu sei que o senhor não acredita em deus. Mas, mesmo assim, eu vou rezar muito...muito pelo senhor. Vou orar de joelhos.
Ela quase se ajoelha no chão da UTI. Com as mãos juntas, em posição de oração disse:
 -Vou pedir para nosso senhor Jesus Cristo cuidar do senhor. Ele vai ajudar. Eu sei disso. Sou muito amiga dele, viu doutor Geraldo. É verdade...O senhor ri? Pode rir. Mesmo assim eu vou rezar muito pelo senhor. Vou fazer promessa para nossa senhora Aparecida, mãe de Jesus. O senhor vai ver. O senhor vai sair daqui bom. Curado. Curado! Graças a nosso senhor Jesus Cristo...
            - Está bem, Flora. Agora vai. Preciso dormir.
            Pensei: Se eu deixar ela ficar aqui, ela fica até amanhã, falando, falando.  Ela não para nunca.
Ela continuou falando mais algumas coisas. Aquela conversa me deu sono. Dormi.

                                      continua no próximo capitulo

sábado, 5 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXII

Capitulo XXII – Desafiando a morte

No dia seguinte, acordei um pouco confuso.  
Vi que a Dra. Kátia estava em pé, a meu lado direito, junto com a enfermeira chefe de plantão.
Elas examinavam os pontos e o estado de cicatrização do meu abdômen,
Parece que a cicatrização do lado direito não estava boa.
Não conseguia enxergar com nitidez.
Havia uma nebulosidade no ar.
Abria e fechava os olhos, com muita sonolência.
A Dra. Kátia examinava, apalpando o local.
De repente, ela meteu o dedo em um buraco que havia no corte, rotacionando o dedo, fazendo com que saísse do interior para fora do abdômen um pedaço do intestino.
Na visita do dia, primeiro entrou minha irmã Sarah. Quando ela chegou, levantei o lençol e mostrei a alça do intestino para fora. Ela fez cara de nojo e pediu para eu não mostrar. Chamou uma enfermeira e exigiu providências, preocupada
Em seguida entrou minha mulher.
Pedi que chamasse o Dr. Paulo para ver o que estava acontecendo.
Não sentia nada, mas como aquela situação de estar com o intestino para fora me preocupou, para dar mais ênfase disse que sentia um pouco de dor.
Cristina, muito preocupada, contendo seu desespero entrou em contato com ele por celular.
Ele se prontificou a realizar uma cirurgia reparadora com urgência. Disse que precisava utilizar uma tela especial, que não seria a definitiva, para corrigir a hérnia.   
Acho que nesse mesmo dia ou no dia seguinte, fui operado pelo Dr. Paulo Renato.
Na sequência da minha convalescência dessa cirurgia, adquiri novamente uma infecção hospitalar, associada a uma pneumonia.
Mais uma vez o Dr. Paulo foi obrigado a reunir minha família e comunicar que apesar de ter feito tudo o que era possível fazer, eu estava novamente naquela situação de não ter mais do que cinco por cento de chance de sobreviver. E que agora estava ainda mais difícil de combater. Ou o meu organismo, por si, reagia ou eu não sobreviveria.
Todos ficaram muitos preocupados. Temiam que eu viesse a falecer.
Meus irmãos, em solidariedade à minha mulher, amparam-na, orientando-a como ela deveria agir, caso o pior acontecesse.
Como estive entubado por muito tempo, Dr. Paulo Renato, em conversa com os demais médicos da UTI, discutiu a possibilidade de ser realizada em mim uma traqueostomia, para evitar maiores danos em minha traquéia. Concluíram que essa era a melhor opção.
Após o Dr. Paulo Renato explicar a situação para minha esposa, pegou dela autorização para o procedimento. Sofri essa intervenção cirúrgica, que foi executada pelo Dr. Lira.
Quando acordei, vi que estava amarrado.
Pensei: Isto aqui é pior do que a penitenciária. Estou preso sem ter cometido crime nenhum.
Percebi também, que os enfermeiros estavam ameaçadores. Senti uma sordidez no ar. O ambiente parecia um calabouço.
Pensei: A sessão tortura vai recomeçar. Não aguento mais isso. Vai começar tudo de novo. Isso não tem mais fim. Vou ficar o resto da minha vida aqui nesta UTI. Já fiz de tudo para sair daqui. Não consigo. Nunca da certo. Lá fora ninguém me ajuda. Ninguém consegue me tirar daqui. Fui condenado à prisão perpétua. Não tem jeito.
Lembrei de uma frase que aprendi com meu cunhado Bueno e que repito sempre que se adequa: Prefiro um fim horroroso, a um horror sem fim.
Pensei: Isto é um horror sem fim.
Chamei um enfermeiro e disse:
- Vocês continuam matando gente, não é?
- Sim. De vez em quando.
- Então. Eu decidi. Podem me matar.
- Mas, o senhor não estava lutando tanto para sair daqui?
- Estava. Mas, desisti. Agora chega. Não agüento mais. Podem me matar. Vocês não queriam me matar? Então. Podem me matar. Só quero pedir uma coisa.
- Pode pedir.
- Não quero ver e nem quero sofrer. Por favor, me aplica um dormonid. Uma dose forte. Cavalar. Para eu apagar total. Quando estiver apagado, ai vocês me matam. Certo?
- Certo. Mas, precisamos arrumar uma razão para sua morte.
- Sei lá. Digam que eu cai da cama. Vocês não me amarraram direito. Alguém me esqueceu desamarrado, sei lá. Eu tentei sair da cama e cai. Inventem qualquer coisa.
- Você tem certeza que quer morrer?
- Tenho.
 - Está bem. Então vamos ao serviço. Maria vá lá à farmácia e pega um dormonid aqui para o senhor Geraldo. Ele quer viajar.
Enquanto Maria foi buscar o remédio, o enfermeiro começou a fechar as cortinas. Deu uma saída da minha baia para pegar alguma coisa, que seria utilizada em minha morte.
Pensei: Como eles matam fácil. E ninguém faz nada.
O italiano, que a tudo assistia calado, disse com voz de preocupação:
- Ooo, Geraldo. Que negócio é esse? Você vai entregar os pontos? Depois de tanta luta, meu amigo.
- Cansei dessa tortura. Eles me matando, acabo com tudo isso. Não aguento mais, cara.
- Você é muito corajoso.
- Não é coragem. Sou realista, cara. Contra a força não há resistência. Para mim acabou. Não vou ficar o resto da minha vida aqui, preso. Prefiro morrer.
Lembrei da minha família.
Pensei: Como eles vão receber a noticia da minha morte? Será que eles estão preparados para isso?  Acho que sim. Eles vão entender. Vão ficar tristes. É natural. Depois, com o tempo, vão superar e seguir com a vida deles normalmente. Não tem outro jeito. Desde que o mundo é mundo é assim. Pessoas nascem. Pessoas morrem. Esse é o processo da vida.
Lembrei que minhas duas filhas estavam grávidas.
Pensei: Que chato. Não vou conhecer meus futuros netos. Paciência. Um dia tudo acaba, mesmo. Tudo tem um fim. E o meu vai ser agora.
A enfermeira Maria e o enfermeiro voltaram com um frasco de dormonid.
O enfermeiro pegou o frasco e colocou o conteúdo em uma seringa.
- É descartável. – brincou o enfermeiro, que segurava a seringa voltada para cima, enquanto apertava o embolo e deixava escorrer um pouco do liquido pela agulha.
Dei um sorriso.
Pensei: Esse cara é engraçado. Neste momento, que diferença faz se a seringa é descartável ou não. Vou morrer mesmo. Tem cada uma...
De repente alguém, de longe, gritou:
- Para. Para. Para, Não pode matar ele, não. A Dra. Kátia prometeu para a família dele que vai liberar ele, ainda hoje. E ela quer cumprir a promessa.
- Homem de sorte o senhor, não é, senhor José? Foi por um triz. – disse o enfermeiro.
Fiquei contente com a noticia e aliviado.
Pensei: Finalmente vou sair da UTI. Vai acabar esse inferno. De um jeito ou de outro.
- Obrigado, de qualquer forma. – disse para os enfermeiros que iriam me matar.
- Na verdade, nós não queríamos mata-lo. Nossa função não é essa. - respondeu o enfermeiro.
Dormi.
No dia seguinte, no final da tarde, apareceu meu filho Rodrigo, para me visitar, acompanhado do cirurgião Dr. Paulo Renato.
Estavam no pé da cama.
- Pai, você está bem melhor. O doutor Paulo disse que vai dar alta, rapidinho. Logo, logo você vai para o quarto e a gente vai poder ficar mais tempo com você. Que bom!
Observei que o Dr. Paulo conversava com o Rodrigo.
Estava sonolento. Não entendia bem sobre o que eles falavam.
Ouvi algo como ter que fazer uma cirurgia para colocação de uma tela para conter uma hérnia no abdômen, no lado direito.
Dr. Paulo disse ao Rodrigo que só faria essa cirurgia após minha saída do hospital, quando estivesse recuperado.  

                                      continua no próximo capitulo

Momento do riso. Episodio de hoje: A galinha pintaDilma

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A galinha pintaDilma