domingo, 6 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXIII

Capitulo XXIII – Uma visita inesperada

Quando acordei, estranhei a situação.
Havia uma porta com duas folhas de vidro, com um luminoso com o nome do hospital, na parte superior.
Na frente da porta havia uma calçada de cimento, larga, onde eu estava sentado em uma cadeira de rodas, acompanhado de um enfermeiro que segurava a cadeira de rodas, por trás.
Aguardava minha família vir me buscar.
Do lado direito havia uma rampa que descia para o subsolo, por onde carros subiam e desciam para o estacionamento.
Subiram vários carros, mas nenhum deles era da minha família.
Apareceu Flávio, dirigindo seu carro esportivo importado. Deu uma buzinada para mim e foi embora, acompanhado de uma garota.
Chegou uma ambulância.
Parou de ré, próximo da porta de vidro.
Dela retiraram um paciente em uma maca e levaram para dentro do hospital.
As horas passavam e ninguém aparecia.
Pensei: Será que eles se esqueceram de vir me buscar?
Olhava para um relógio que havia em uma parede na parte interna do hospital. Contava os minutos que se passavam. Já era tarde da noite.
De repente, vejo na minha frente o vulto de uma pessoa. Havia uma luz atrás, de forma que não conseguia distinguir quem era essa pessoa. Olhei melhor e vi que era a Flora.
Flora foi uma empregada que trabalhou na casa da minha mãe, desde quando era criança até o final da minha adolescência. Ela era muita trabalhadora. Mas, tinha um problema mental. Que a tornou prolixa. Ela tenta entrar na conversa sem ser chamada, da sua opinião. Fala de tudo e de todos,. Um assunto puxa outro e ela não para de falar. Ninguém a aguenta.
Apesar de ter ficado muitos anos distante, ela sempre manteve contato com minha mãe. Há alguns anos voltou a trabalhar de novo na casa da minha mãe como diarista, nos finais de semana, para suprir a folga da empregada doméstica da casa.
- Flora, você por aqui? – perguntei.
- Vim visitar o senhor, doutor Geraldo. – disse ela rindo.
O cenário, então, começou a mudar e me vi novamente dentro da UTI, deitado na cama.
- Como você conseguiu entrar aqui, a essa hora, Flora? A visitação já acabou. – disse
- Olha, doutor Geraldo, eu já fui enfermeira, o senhor sabe disso.  Já trabalhei em muitos hospitais. É doutor Geraldo, eu não sou formada, mas sou melhor que muitas enfermeiras que tem por ai. Eu conheço vários deputados, senador. Fiz campanha para vereador no meu bairro. Conheço todos os políticos. São todos meus amigos. O senhor sabe, já trabalhei na casa de muitos políticos.
- Sei, Flora.
- Eu entro em qualquer lugar. Eu disse na portaria que era enfermeira do doutor Fernando. Eu conheço o doutor Fernando. Ela era muito amigo do seu pai. Lá da Assembléia Legislativa. Ai eu disse para o porteiro que o doutor Fernando me autorizou visitar um paciente dele. É o senhor. – disse Flora rindo de sua esperteza.
Pensei: Essa é a Flora. Ela é meio maluquete, mas é muito inteligente. Sabe se virar.
- Como é que o senhor está, doutor Geraldo?  - perguntou ela.
- Estou bem. Gostei de te ver, Flora.
- Que bom que o senhor está bem. O doutor Barbosa, seu pai, está ajudando o senhor. Ele está lá no céu olhando para o senhor. Eu sei. Eu falo com ele sempre. Ninguém sabe. Mas, eu vou falar para o senhor. Seu pai me disse que o senhor vai ficar curado. Bom. Ele está protegendo o senhor. O senhor vai ver.
- Está bem, Flora. Olha...  Já está tarde. Preciso dormir, para ficar bom.. 
- O senhor precisa descansar mesmo. É verdade. Bom... Agora vou ter que ir embora. Preciso arrumar a casa da sua mãe. Está uma bagunça. O senhor precisa ver. A Lúcia não faz nada. Nada! Não sei como a dona Maria José não manda ela embora. O senhor não concorda?
- Não, Flora, deixa a Lúcia em paz.
A Flora tinha muito ciúmes da Lúcia, que é a empregada da minha mãe. Sempre que podia, ela falava mal da outra.
- A Lúcia não cuida casa da sua mãe como eu cuido. Ela não presta.
- Está certo, Flora. Agora você precisa ir embora. Obrigado pela visita.
- Doutor Geraldo, eu sei que o senhor não acredita em deus. Mas, mesmo assim, eu vou rezar muito...muito pelo senhor. Vou orar de joelhos.
Ela quase se ajoelha no chão da UTI. Com as mãos juntas, em posição de oração disse:
 -Vou pedir para nosso senhor Jesus Cristo cuidar do senhor. Ele vai ajudar. Eu sei disso. Sou muito amiga dele, viu doutor Geraldo. É verdade...O senhor ri? Pode rir. Mesmo assim eu vou rezar muito pelo senhor. Vou fazer promessa para nossa senhora Aparecida, mãe de Jesus. O senhor vai ver. O senhor vai sair daqui bom. Curado. Curado! Graças a nosso senhor Jesus Cristo...
            - Está bem, Flora. Agora vai. Preciso dormir.
            Pensei: Se eu deixar ela ficar aqui, ela fica até amanhã, falando, falando.  Ela não para nunca.
Ela continuou falando mais algumas coisas. Aquela conversa me deu sono. Dormi.

                                      continua no próximo capitulo

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