Capitulo XXIII – Uma visita
inesperada
Quando acordei, estranhei a
situação.
Havia uma porta com duas folhas
de vidro, com um luminoso com o nome do hospital, na parte superior.
Na frente da porta havia uma calçada
de cimento, larga, onde eu estava sentado em uma cadeira de rodas, acompanhado
de um enfermeiro que segurava a cadeira de rodas, por trás.
Aguardava minha família vir me
buscar.
Do lado direito havia uma rampa
que descia para o subsolo, por onde carros subiam e desciam para o
estacionamento.
Subiram vários carros, mas nenhum
deles era da minha família.
Apareceu Flávio, dirigindo seu
carro esportivo importado. Deu uma buzinada para mim e foi embora, acompanhado
de uma garota.
Chegou uma ambulância.
Parou de ré, próximo da porta de
vidro.
Dela retiraram um paciente em
uma maca e levaram para dentro do hospital.
As horas passavam e ninguém
aparecia.
Pensei: Será que eles se
esqueceram de vir me buscar?
Olhava para um relógio que havia
em uma parede na parte interna do hospital. Contava os minutos que se passavam.
Já era tarde da noite.
De repente, vejo na minha frente
o vulto de uma pessoa. Havia uma luz atrás, de forma que não conseguia
distinguir quem era essa pessoa. Olhei melhor e vi que era a Flora.
Flora foi uma empregada que
trabalhou na casa da minha mãe, desde quando era criança até o final da minha
adolescência. Ela era muita trabalhadora. Mas, tinha um problema mental. Que a
tornou prolixa. Ela tenta entrar na conversa sem ser chamada, da sua opinião.
Fala de tudo e de todos,. Um assunto puxa outro e ela não para de falar. Ninguém
a aguenta.
Apesar de ter ficado muitos anos
distante, ela sempre manteve contato com minha mãe. Há alguns anos voltou a
trabalhar de novo na casa da minha mãe como diarista, nos finais de semana, para
suprir a folga da empregada doméstica da casa.
- Flora, você por aqui? –
perguntei.
- Vim visitar o senhor, doutor Geraldo . – disse ela rindo.
O cenário, então, começou a
mudar e me vi novamente dentro da UTI, deitado na cama.
- Como você conseguiu entrar
aqui, a essa hora, Flora? A visitação já acabou. – disse
- Olha, doutor Geraldo , eu já fui enfermeira, o senhor sabe disso. Já trabalhei em muitos hospitais. É doutor Geraldo , eu não sou formada, mas sou melhor que muitas
enfermeiras que tem por ai. Eu conheço vários deputados, senador. Fiz campanha
para vereador no meu bairro. Conheço todos os políticos. São todos meus amigos.
O senhor sabe, já trabalhei na casa de muitos políticos.
- Sei, Flora.
- Eu entro em qualquer lugar. Eu
disse na portaria que era enfermeira do doutor Fernando. Eu conheço o doutor
Fernando. Ela era muito amigo do seu pai. Lá da Assembléia Legislativa. Ai eu
disse para o porteiro que o doutor Fernando me autorizou visitar um paciente
dele. É o senhor. – disse Flora rindo de sua esperteza.
Pensei: Essa é a Flora. Ela é
meio maluquete, mas é muito inteligente. Sabe se virar.
- Como é que o senhor está, doutor
Geraldo ? - perguntou ela.
- Estou bem. Gostei de te ver,
Flora.
- Que bom que o senhor está bem.
O doutor Barbosa, seu pai, está ajudando o senhor. Ele está lá no céu olhando
para o senhor. Eu sei. Eu falo com ele sempre. Ninguém sabe. Mas, eu vou falar
para o senhor. Seu pai me disse que o senhor vai ficar curado. Bom. Ele está
protegendo o senhor. O senhor vai ver.
- Está bem, Flora. Olha... Já está tarde. Preciso dormir, para ficar
bom..
- O senhor precisa descansar
mesmo. É verdade. Bom... Agora vou ter que ir embora. Preciso arrumar a casa da
sua mãe. Está uma bagunça. O senhor precisa ver. A Lúcia não faz nada. Nada! Não
sei como a dona Maria José não manda ela embora. O senhor não concorda?
- Não, Flora, deixa a Lúcia em
paz.
A Flora tinha muito ciúmes da
Lúcia, que é a empregada da minha mãe. Sempre que podia, ela falava mal da
outra.
- A Lúcia não cuida casa da sua
mãe como eu cuido. Ela não presta.
- Está certo, Flora. Agora você
precisa ir embora. Obrigado pela visita.
- Doutor Geraldo ,
eu sei que o senhor não acredita em deus. Mas , mesmo assim, eu vou rezar muito...muito
pelo senhor. Vou orar de joelhos.
Ela quase se ajoelha no chão da
UTI. Com as mãos juntas, em posição de oração disse:
-Vou pedir para nosso senhor Jesus Cristo
cuidar do senhor. Ele vai ajudar. Eu sei disso. Sou muito amiga dele, viu
doutor Geraldo . É verdade...O senhor
ri? Pode rir. Mesmo assim eu vou rezar muito pelo senhor. Vou fazer promessa para
nossa senhora Aparecida, mãe de Jesus. O senhor vai ver. O senhor vai sair
daqui bom. Curado. Curado! Graças a nosso senhor Jesus Cristo...
- Está bem,
Flora. Agora vai. Preciso dormir.
Pensei: Se eu
deixar ela ficar aqui, ela fica até amanhã, falando, falando. Ela não para nunca.
Ela continuou falando mais
algumas coisas. Aquela conversa me deu sono. Dormi.
continua no próximo capitulo
continua no próximo capitulo
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