sábado, 5 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXII

Capitulo XXII – Desafiando a morte

No dia seguinte, acordei um pouco confuso.  
Vi que a Dra. Kátia estava em pé, a meu lado direito, junto com a enfermeira chefe de plantão.
Elas examinavam os pontos e o estado de cicatrização do meu abdômen,
Parece que a cicatrização do lado direito não estava boa.
Não conseguia enxergar com nitidez.
Havia uma nebulosidade no ar.
Abria e fechava os olhos, com muita sonolência.
A Dra. Kátia examinava, apalpando o local.
De repente, ela meteu o dedo em um buraco que havia no corte, rotacionando o dedo, fazendo com que saísse do interior para fora do abdômen um pedaço do intestino.
Na visita do dia, primeiro entrou minha irmã Sarah. Quando ela chegou, levantei o lençol e mostrei a alça do intestino para fora. Ela fez cara de nojo e pediu para eu não mostrar. Chamou uma enfermeira e exigiu providências, preocupada
Em seguida entrou minha mulher.
Pedi que chamasse o Dr. Paulo para ver o que estava acontecendo.
Não sentia nada, mas como aquela situação de estar com o intestino para fora me preocupou, para dar mais ênfase disse que sentia um pouco de dor.
Cristina, muito preocupada, contendo seu desespero entrou em contato com ele por celular.
Ele se prontificou a realizar uma cirurgia reparadora com urgência. Disse que precisava utilizar uma tela especial, que não seria a definitiva, para corrigir a hérnia.   
Acho que nesse mesmo dia ou no dia seguinte, fui operado pelo Dr. Paulo Renato.
Na sequência da minha convalescência dessa cirurgia, adquiri novamente uma infecção hospitalar, associada a uma pneumonia.
Mais uma vez o Dr. Paulo foi obrigado a reunir minha família e comunicar que apesar de ter feito tudo o que era possível fazer, eu estava novamente naquela situação de não ter mais do que cinco por cento de chance de sobreviver. E que agora estava ainda mais difícil de combater. Ou o meu organismo, por si, reagia ou eu não sobreviveria.
Todos ficaram muitos preocupados. Temiam que eu viesse a falecer.
Meus irmãos, em solidariedade à minha mulher, amparam-na, orientando-a como ela deveria agir, caso o pior acontecesse.
Como estive entubado por muito tempo, Dr. Paulo Renato, em conversa com os demais médicos da UTI, discutiu a possibilidade de ser realizada em mim uma traqueostomia, para evitar maiores danos em minha traquéia. Concluíram que essa era a melhor opção.
Após o Dr. Paulo Renato explicar a situação para minha esposa, pegou dela autorização para o procedimento. Sofri essa intervenção cirúrgica, que foi executada pelo Dr. Lira.
Quando acordei, vi que estava amarrado.
Pensei: Isto aqui é pior do que a penitenciária. Estou preso sem ter cometido crime nenhum.
Percebi também, que os enfermeiros estavam ameaçadores. Senti uma sordidez no ar. O ambiente parecia um calabouço.
Pensei: A sessão tortura vai recomeçar. Não aguento mais isso. Vai começar tudo de novo. Isso não tem mais fim. Vou ficar o resto da minha vida aqui nesta UTI. Já fiz de tudo para sair daqui. Não consigo. Nunca da certo. Lá fora ninguém me ajuda. Ninguém consegue me tirar daqui. Fui condenado à prisão perpétua. Não tem jeito.
Lembrei de uma frase que aprendi com meu cunhado Bueno e que repito sempre que se adequa: Prefiro um fim horroroso, a um horror sem fim.
Pensei: Isto é um horror sem fim.
Chamei um enfermeiro e disse:
- Vocês continuam matando gente, não é?
- Sim. De vez em quando.
- Então. Eu decidi. Podem me matar.
- Mas, o senhor não estava lutando tanto para sair daqui?
- Estava. Mas, desisti. Agora chega. Não agüento mais. Podem me matar. Vocês não queriam me matar? Então. Podem me matar. Só quero pedir uma coisa.
- Pode pedir.
- Não quero ver e nem quero sofrer. Por favor, me aplica um dormonid. Uma dose forte. Cavalar. Para eu apagar total. Quando estiver apagado, ai vocês me matam. Certo?
- Certo. Mas, precisamos arrumar uma razão para sua morte.
- Sei lá. Digam que eu cai da cama. Vocês não me amarraram direito. Alguém me esqueceu desamarrado, sei lá. Eu tentei sair da cama e cai. Inventem qualquer coisa.
- Você tem certeza que quer morrer?
- Tenho.
 - Está bem. Então vamos ao serviço. Maria vá lá à farmácia e pega um dormonid aqui para o senhor Geraldo. Ele quer viajar.
Enquanto Maria foi buscar o remédio, o enfermeiro começou a fechar as cortinas. Deu uma saída da minha baia para pegar alguma coisa, que seria utilizada em minha morte.
Pensei: Como eles matam fácil. E ninguém faz nada.
O italiano, que a tudo assistia calado, disse com voz de preocupação:
- Ooo, Geraldo. Que negócio é esse? Você vai entregar os pontos? Depois de tanta luta, meu amigo.
- Cansei dessa tortura. Eles me matando, acabo com tudo isso. Não aguento mais, cara.
- Você é muito corajoso.
- Não é coragem. Sou realista, cara. Contra a força não há resistência. Para mim acabou. Não vou ficar o resto da minha vida aqui, preso. Prefiro morrer.
Lembrei da minha família.
Pensei: Como eles vão receber a noticia da minha morte? Será que eles estão preparados para isso?  Acho que sim. Eles vão entender. Vão ficar tristes. É natural. Depois, com o tempo, vão superar e seguir com a vida deles normalmente. Não tem outro jeito. Desde que o mundo é mundo é assim. Pessoas nascem. Pessoas morrem. Esse é o processo da vida.
Lembrei que minhas duas filhas estavam grávidas.
Pensei: Que chato. Não vou conhecer meus futuros netos. Paciência. Um dia tudo acaba, mesmo. Tudo tem um fim. E o meu vai ser agora.
A enfermeira Maria e o enfermeiro voltaram com um frasco de dormonid.
O enfermeiro pegou o frasco e colocou o conteúdo em uma seringa.
- É descartável. – brincou o enfermeiro, que segurava a seringa voltada para cima, enquanto apertava o embolo e deixava escorrer um pouco do liquido pela agulha.
Dei um sorriso.
Pensei: Esse cara é engraçado. Neste momento, que diferença faz se a seringa é descartável ou não. Vou morrer mesmo. Tem cada uma...
De repente alguém, de longe, gritou:
- Para. Para. Para, Não pode matar ele, não. A Dra. Kátia prometeu para a família dele que vai liberar ele, ainda hoje. E ela quer cumprir a promessa.
- Homem de sorte o senhor, não é, senhor José? Foi por um triz. – disse o enfermeiro.
Fiquei contente com a noticia e aliviado.
Pensei: Finalmente vou sair da UTI. Vai acabar esse inferno. De um jeito ou de outro.
- Obrigado, de qualquer forma. – disse para os enfermeiros que iriam me matar.
- Na verdade, nós não queríamos mata-lo. Nossa função não é essa. - respondeu o enfermeiro.
Dormi.
No dia seguinte, no final da tarde, apareceu meu filho Rodrigo, para me visitar, acompanhado do cirurgião Dr. Paulo Renato.
Estavam no pé da cama.
- Pai, você está bem melhor. O doutor Paulo disse que vai dar alta, rapidinho. Logo, logo você vai para o quarto e a gente vai poder ficar mais tempo com você. Que bom!
Observei que o Dr. Paulo conversava com o Rodrigo.
Estava sonolento. Não entendia bem sobre o que eles falavam.
Ouvi algo como ter que fazer uma cirurgia para colocação de uma tela para conter uma hérnia no abdômen, no lado direito.
Dr. Paulo disse ao Rodrigo que só faria essa cirurgia após minha saída do hospital, quando estivesse recuperado.  

                                      continua no próximo capitulo

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