Capitulo XXII – Desafiando a
morte
No dia seguinte, acordei um
pouco confuso.
Vi que a Dra. Kátia estava em
pé, a meu lado direito, junto com a enfermeira chefe de plantão.
Elas examinavam os pontos e o
estado de cicatrização do meu abdômen,
Parece que a cicatrização do
lado direito não estava boa.
Não conseguia enxergar com
nitidez.
Havia uma nebulosidade no ar.
Abria e fechava os olhos, com
muita sonolência.
A Dra. Kátia examinava,
apalpando o local.
De repente, ela meteu o dedo em
um buraco que havia no corte, rotacionando o dedo, fazendo com que saísse do
interior para fora do abdômen um pedaço do intestino.
Na visita do dia, primeiro
entrou minha irmã Sarah. Quando ela chegou, levantei o lençol e mostrei a alça
do intestino para fora. Ela fez cara de nojo e pediu para eu não mostrar.
Chamou uma enfermeira e exigiu providências, preocupada
Em seguida entrou minha mulher.
Pedi que chamasse o Dr. Paulo
para ver o que estava acontecendo.
Não sentia nada, mas como aquela
situação de estar com o intestino para fora me preocupou, para dar mais ênfase
disse que sentia um pouco de dor.
Cristina, muito preocupada, contendo
seu desespero entrou em contato com ele por celular.
Ele se prontificou a realizar uma
cirurgia reparadora com urgência. Disse que precisava utilizar uma tela
especial, que não seria a definitiva, para corrigir a hérnia.
Acho que nesse mesmo dia ou no
dia seguinte, fui operado pelo Dr. Paulo Renato .
Na sequência da minha convalescência
dessa cirurgia, adquiri novamente uma infecção hospitalar, associada a uma
pneumonia.
Mais uma vez o Dr. Paulo foi
obrigado a reunir minha família e comunicar que apesar de ter feito tudo o que
era possível fazer, eu estava novamente naquela situação de não ter mais do que
cinco por cento de chance de sobreviver. E que agora estava ainda mais difícil
de combater. Ou o meu organismo, por si, reagia ou eu não sobreviveria.
Todos ficaram muitos preocupados.
Temiam que eu viesse a falecer.
Meus irmãos, em solidariedade à
minha mulher, amparam-na, orientando-a como ela deveria agir, caso o pior acontecesse.
Como estive entubado por muito
tempo, Dr. Paulo Renato , em conversa com os demais
médicos da UTI, discutiu a possibilidade de ser realizada em mim uma
traqueostomia, para evitar maiores danos em minha traquéia. Concluíram que essa era a melhor opção.
Após o Dr.
Paulo Renato explicar
a situação para minha esposa, pegou dela autorização para o procedimento. Sofri
essa intervenção cirúrgica, que foi executada pelo Dr. Lira.
Quando acordei, vi que estava
amarrado.
Pensei: Isto aqui é pior do que
a penitenciária. Estou preso sem ter cometido crime nenhum.
Percebi também, que os
enfermeiros estavam ameaçadores. Senti uma sordidez no ar. O ambiente parecia
um calabouço.
Pensei: A sessão tortura vai
recomeçar. Não aguento mais isso. Vai começar tudo de novo. Isso não tem mais
fim. Vou ficar o resto da minha vida aqui nesta UTI. Já fiz de tudo para sair
daqui. Não consigo. Nunca da certo. Lá fora ninguém me ajuda. Ninguém consegue
me tirar daqui. Fui condenado à prisão perpétua. Não tem jeito.
Lembrei de uma frase que aprendi
com meu cunhado Bueno e que repito
sempre que se adequa: Prefiro um fim horroroso, a um horror sem fim.
Pensei: Isto é um horror sem
fim.
Chamei um enfermeiro e disse:
- Vocês continuam matando gente,
não é?
- Sim. De vez em quando.
- Então. Eu decidi. Podem me
matar.
- Mas, o senhor não estava
lutando tanto para sair daqui?
- Estava. Mas, desisti. Agora
chega. Não agüento mais. Podem me matar. Vocês não queriam me matar? Então.
Podem me matar. Só quero pedir uma coisa.
- Pode pedir.
- Não quero ver e nem quero sofrer. Por favor,
me aplica um dormonid. Uma dose forte. Cavalar. Para eu apagar total. Quando
estiver apagado, ai vocês me matam. Certo?
- Certo. Mas, precisamos arrumar
uma razão para sua morte.
- Sei lá. Digam que eu cai da
cama. Vocês não me amarraram direito. Alguém me esqueceu desamarrado, sei lá. Eu
tentei sair da cama e cai. Inventem qualquer coisa.
- Você tem certeza que quer
morrer?
- Tenho.
- Está bem. Então vamos ao serviço. Maria vá
lá à farmácia e pega um dormonid aqui para o senhor Geraldo .
Ele quer viajar.
Enquanto Maria foi buscar o
remédio, o enfermeiro começou a fechar as cortinas. Deu uma saída da minha baia
para pegar alguma coisa, que seria utilizada em minha morte.
Pensei: Como eles matam fácil. E
ninguém faz nada.
O italiano, que a tudo assistia
calado, disse com voz de preocupação:
- Ooo, Geraldo .
Que negócio é esse? Você vai entregar os pontos? Depois de tanta luta, meu
amigo.
- Cansei dessa tortura. Eles me
matando, acabo com tudo isso. Não aguento mais, cara.
- Você é muito corajoso.
- Não é coragem. Sou realista,
cara. Contra a força não há resistência. Para mim acabou. Não vou ficar o resto
da minha vida aqui, preso. Prefiro morrer.
Lembrei da minha família.
Pensei: Como eles vão receber a
noticia da minha morte? Será que eles estão preparados para isso? Acho que sim. Eles vão entender. Vão ficar
tristes. É natural. Depois, com o tempo, vão superar e seguir com a vida deles
normalmente. Não tem outro jeito. Desde que o mundo é mundo é assim. Pessoas nascem. Pessoas morrem. Esse é o processo da vida.
Lembrei que minhas duas filhas
estavam grávidas.
Pensei: Que chato. Não vou
conhecer meus futuros netos. Paciência. Um dia tudo acaba, mesmo. Tudo tem um
fim. E o meu vai ser agora.
A enfermeira Maria e o
enfermeiro voltaram com um frasco de dormonid.
O enfermeiro pegou o frasco e colocou
o conteúdo em uma seringa.
- É descartável. – brincou o
enfermeiro, que segurava a seringa voltada para cima, enquanto apertava o
embolo e deixava escorrer um pouco do liquido pela agulha.
Dei um sorriso.
Pensei: Esse cara é engraçado.
Neste momento, que diferença faz se a seringa é descartável ou não. Vou morrer
mesmo. Tem cada uma...
De repente alguém, de longe, gritou:
- Para. Para. Para, Não pode
matar ele, não. A Dra. Kátia prometeu para a família dele que vai liberar ele,
ainda hoje. E ela quer cumprir a promessa.
- Homem de sorte o senhor, não
é, senhor José? Foi por um triz. – disse o enfermeiro.
Fiquei contente com a noticia e
aliviado.
Pensei: Finalmente vou sair da
UTI. Vai acabar esse inferno. De um jeito ou de outro.
- Obrigado, de qualquer forma. –
disse para os enfermeiros que iriam me matar.
- Na verdade, nós não queríamos
mata-lo. Nossa função não é essa. - respondeu o enfermeiro.
Dormi.
No dia seguinte, no final da
tarde, apareceu meu filho Ro drigo,
para me visitar, acompanhado do cirurgião Dr. Paulo Renato .
Estavam no pé da cama.
- Pai, você está bem melhor. O doutor
Paulo disse que vai dar alta, rapidinho. Logo, logo você vai para o quarto e a
gente vai poder ficar mais tempo com você. Que bom!
Observei que o Dr. Paulo conversava
com o Ro drigo.
Estava sonolento. Não entendia
bem sobre o que eles falavam.
Ouvi algo como ter que fazer uma
cirurgia para colocação de uma tela para conter uma hérnia no abdômen, no lado
direito.
Dr. Paulo disse ao Ro drigo que só faria essa cirurgia após minha saída
do hospital, quando estivesse recuperado.
continua no próximo capitulo
continua no próximo capitulo
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