quinta-feira, 26 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XIII

Capitulo XIII – A Extorsão

Flávio continuava agitado. Mexia a cabeça de um lado para o outro.
- Calma, Flávio... Calma! Vamos conversar – implorei.
Pensei: O que é que eu faço, agora?
Tentei me levantar da cama.
Pensei:  Não consigo sair da cama. Não tenho forças.. E nem ia adiantar. Eles me agarrariam. Não conseguiria dar três passos. Acho que vou gritar por socorro...
Olhei para os lados e so vi gente sob o comando do Flavio.
Pensei: Não! Gritar por socorro, não vai adiantar. Vou pedir socorro para quem? Ninguém vai me ajudar. Ele manda aqui. O que é que eu faço?
Passei a mão na cabeça, buscando uma solução.
Pensei: Caramba... Que situação que estou! Pensa, Ge. Pensa!
Procurei me acalmar, respirando fundo, aspirando e soltando o ar devagar.
Pensei: Já sei! Não posso confirmar que fui eu quem chamou os procuradores. Mesmo porque não chamei ninguém...Agora, se foi a minha família que chamou... não fui eu. Mas, também não posso confirmar. Morro negando. É isso ai. Pelo menos ele fica na duvida... Acho. Mas o que é que eu falo para convencer esse cara?
Continuei respirando pausadamente para me acalmar.
Pensei: Caramba! Pensa.... Ah! Vi na televisão. É isso mesmo. Vi na televisão. Claro. É isso que vou falar.
- Flávio, a procuradoria veio aqui pelas noticias da imprensa.  Vi na televisão. Você sabe disso. Estou aqui na cama. Como ia chamá-los? – argumentei.
- Você está de brincadeira comigo?
- Claro que não, Flavio. Imagina!
- Então para de pular fora.
- Não estou pulando fora. Não é isso, Flávio. Eu não tenho nada a ver com isso...Você sabe.
Fiquei quieto, aguardando a reação dele.
Flavio, ouviu, olhou para mim com uma das mãos no queixo, como querendo encontrar uma solução e disse:
- Pensei e decidi que vou te matar.
Pensei: Não colou. Ele esta sabendo que foi minha família quem chamou a procuradoria. Ele tem informantes.
Mas, mesmo assim reagi dizendo:
- Que é que é isso, Flávio? Calma! Não é assim que se resolve.
- Não tem jeito...Vou te matar.
Olhei para os lados, buscando ajuda.
Vi a Dra. Kátia de costas para mim, de pé, de frente para a mesa dela, arrumando suas coisas para ir embora, pois já havia terminado seu expediente.
Pensei: So me resta ela pra ajudar.
- Doutora Kátia...Doutora Kátia, por favor, fale com ele. Ele não pode me matar. – implorei. - Vai contra a religião. Vocês não são cristãos?  È um dos mandamentos de deus, não é?
- Olha meu filho, eu sou pagã. Para mim você morrer ou não, não faz a menor diferença. – respondeu ela.
- Como assim?
 - Ou melhor. Faz sim. Você vai ser uma oferenda aos deuses. – disse ela.
- Que deuses? Isso não existe. Isso é bobagem...
- Meu filho, de graças a deus que voce é um privilegiado. Vai para o sacrifício. Não é qualquer um, não.
- Que sacrifício é esse?... Não! Isso não existe. Voce é uma médica.  Você tem um compromisso de salvar vidas.  
Olhei para a mesa dela e vi que la havia algumas imagens de santos e símbolos pagãos, que não observara antes. Tinha um tipo de um mapa representando os planetas no universo, com uns desenhos estranhos.
Pensei: Ela é pagã mesmo... E agora, o que eu faço?
Dra. Kátia não falou mais nada. Despediu-se de Flavio e saiu da UTI.
- Vou pegar teus olhos verdes para mim. Vou usá-los em mim. – disse Flávio.
- Não precisa, Flávio... Você também tem olhos verdes.
- Não. Eu quero os teus olhos.
- Calma, gente...Calma! Vamos conversar. – disse.
Pensei: E agora? Preciso agir rápido, senão ele me mata mesmo... Olha a cara dele. Parece um louco. Calma!.... Pensa!... Pensa! O que esse cara quer? Os meus olhos? Não... Isso é só desculpa. O que esse cara realmente quer?...Ah! Já sei. Ele acha que eu dei prejuízo para ele. Então... Ele quer que eu pague o prejuízo. Lógico! É isso ai.  
- Sei que você gosta de grana. – arrisquei, olhando para o Flavio.
- Agora você está falando do que eu gosto.
Pensei: Acertei. É isso ai, vou negociar minha vida com ele em troca de dinheiro.
Flávio virou-se para os lados, com uma cara de satisfação e disse: 
- Roberto, você acha que ele tem grana?
- Pobre... pobre, pobre ele não parece que é. – respondeu Roberto.
- Onde você mora, Zé? – perguntou Flávio.
- Perto do estádio...
- Que estádio? Do Morumbi? – perguntou Roberto.
- Ééé. – disse engolindo saliva seca.
- Então deve ter grana! - concluiu Roberto.
- Calma, gente! Escuta... Eu saindo daqui, posso te ajudar, Flavio. Posso te ajudar a ganhar dinheiro. – disse.
Olhei para ver como ele reagia e resolvi continuar:
- Tenho experiência em gestão de negócios. Posso te ajudar na administração do hospital. 
- Não! Isso eu já tenho. Eu quero é grana viva...agora.
- Como assim? Você sabe que eu não tenho grana aqui.
- Pede para tua mulher trazer.
- Eu não tenho grana em casa.
- E os dólares?
- Que dólares? Eu não guardo dinheiro em casa. Voce está louco? Guardar dinheiro em casa...so se for pra ser roubado.
- Está certo. Então, pode ser um cheque. É isso um cheque.
- Mas... mas, eu não tenho muita grana... Assim...  À vista.
Pensei: Paciência. Minha vida vale mais do que o dinheiro que vou pagar. Dinheiro vem, dinheiro vai. Serve para isso mesmo. Foda-se.
- Eu parcelo...  Pede para ela trazer uns cheques, ai. – propôs Flávio.
- Está certo. – respondi.
Pensei: Cheques? É... É uma boa idéia. Dou parcelado. Ganho tempo. Ele até pode receber o primeiro, mas os demais eu mando sustar. Eu saio daqui e mando sustar todos. É isso ai. Mas eu tenho que sair daqui.
- Flávio, tem outra coisa. Eu pago, mas quero sair daqui. – disse.
- Lá vem voce com outra estória...
- Não é isso, Flavio. É condição, poxa. Eu quero sair daqui. Vou pagar. É meu direito.
- Para onde você vai?
- Não sei. O negócio só fica fechado se eu sair daqui.
- Está bem. Você é dono do seu nariz. Quer ir embora? Então vá... Depois que pagar tudo.
- Lógico. Pago de um lado e saio do outro. – disse.
Pensei: Que nem resgate.
- Fechado. – concordou Flávio.
Um enfermeiro chamou Flavio para resolver um assunto de outro paciente. Ele caminhou em direção a ele.
Pensei: Acho que deu certo. Vou conseguir sair vivo dessa. E com uma vantagem...finalmente saio daqui.
Aproveitando o afastamento de Flávio o italiano olhou para mim e disse:

- Você é bom de negócio. Depois que você sair, veja se não esquece de mim. Avisa minha mulher para dar um jeito de me tirar daqui, também. Eles não a deixam entrar. Eles dopam a gente, de dia, para a gente não receber visita. 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XII

Capitulo XII – Sob o domínio do medo

Quando acordei, era de madrugada. 
O ambiente estava um pouco escuro.
Vi o Flávio chegando à UTI.
Pensei: Vai recomeçar a sessão tortura.
Carla agora era mais uma escrava sexual. Estava junto com a turma do Flavio.
Percebi que ela tentava falar alguma coisa comigo. Ela se aproximava da minha cama, disfarçava e se afastava. 
Fiquei só olhando.
Ela sentou-se em uma cadeira à minha esquerda, numa posição em que Flávio e seus asseclas não a viam. Começou a mostrar, com os dedos, alguns números.
Pensei: Será que ela quer dar o numero do celular dela? Para que? Eu é que tenho que dar o telefone da minha casa para ela, para ela ligar e dizer o que se passa aqui dentro.
Ela continuou. Comecei a guardar a sequencia, quando um dos capangas disse:
- Que é que está acontecendo ai?
Fiquei quieto e fingi que estava dormindo.
- Nada. Estou só vendo se o paciente está bem. – disse Carla, esticando o pescoço.
- Vai logo ai. – respondeu ele.
Ela levantou-se e fingiu que estava olhando um paciente. Esperou o capanga se distrair e voltou para o lugar em que estava sentada e começou a passar a numeração.
Pensei: Fica quieta. Que vou fazer com esse numero?
Ela veio perto de mim e disse no meu ouvido.
- Quando você sair, de esse numero para a policia me resgatar daqui.
Pensei: Que loucura. Ela quis entrar e agora quer sair. O que é que passa na cabeça dessa moça? Acho que não gostou dessa vida com o Flavio. Também não deve ser fácil. Escrava sexual...
Ei, vocês ai... que cochicho é esse?
- Não é nada, não. Estou só vendo se ele está bem – disse Carla.
Fechei os olhos, posicionei a mão como se estivesse rezando e fiquei murmurando palavras como se fossem orações.
Pensei: Eu, ateu, fingindo ser religioso. Como o mundo é!Bem pelo menos ele não sabe que sou ateu. Tomara quer ele seja religioso. Deve ser. Todo bandido é. Mafioso mata e depois vai à igreja rezar.
Olhei com os olhos quase fechados e vi que Flávio tinha um crucifixo pendurado no pescoço.
Pensei: Não falei. Deve ser cristão. 
            - Olha, o Zé rezando... Reza, Zé, reza. Você está precisando – disse Flávio rindo.
            Continuei fingindo que estava rezando fervorosamente e não falei nada.
O italiano falou em tom baixo, olhando para mim:
            - Você é esperto mesmo.
            Pensei: Cala a boca italiano. Não estraga minha estratégia.
            E continuei rezando, como se ele nada tivesse falado.
            - Desculpe. Acho que falei demais. – disse o italiano, percebendo que falara demais.
            Pensei: Cala a boca.
            Flávio saiu da UTI, mas Carla ficou. Continuou me rondando. Ela me olhava, com um sorriso discreto, insinuador, enquanto caminhava calada, de um lado para outro.
            Pensei: Ela quer ser minha amiga. Mas, eu não acredito nela. Ela deve estar querendo me provocar para ver como reajo. Vou ficar na minha.
            Carla pegou um pedaço de papel e ficou me olhando. Voltou a sentar no canto à minha esquerda.
            Pensei: Acho que ela agora entendeu. Para eu ajuda-la, primeiro ela tem que me ajudar. Vou passar o numero do telefone de minha casa, assim ela telefona para lá. Conta tudo o que está acontecendo aqui dentro. Ela contando eles vão acreditar. Eles vão tomar uma providencia. Chamar a policia, a imprensa. Sei lá.
            Comecei a mostrar com os dedos o numero do meu telefone. Ela repetia com a voz baixa, confirmando. Estava quase no fim quando fui interrompido pelo italiano.
            - O coisinha fofa vem aqui me chupar – disse o italiano para Carla.
            Pensei: Oooo italiano, não atrapalha.
            Carla fingiu que não ouviu. Continuou aguardando eu terminar a sequencia do numero de telefone. Como fiquei atrapalhado com a interferência do italiano, resolvi começar a numeração do inicio. Ela ficou confusa e não entendeu que começara de novo.
            - Deixa eu chupar você todinha, coisa fofa. – continuou o italiano.
            - Não é possível. Esse italiano não tem jeito – falou um dos capangas do Flavio
            - Vamos lá e comer o rabo desse italiano – falou outro capanga.
            Foram na cama dele e sodomizaram o italiano. Os dois. Um de cada vez.
            Eu não olhei, pois nunca gostei desse tipo de coisa entre homens.
            Pensei: Que humilhação deve esse italiano estar sentindo.
            Ele falou.
            - Gostei. Foi legal. Agora deixa eu comer vocês também.
            - Com o que, velho safado? Você não tem pau. – disse um deles
            - Então, deixa eu chupar a Carla.
            Pensei: Esse italiano é doido. E tarado.
            Os capangas deram de ombro e se afastaram da cama do italiano.
            Carla foi até cama do italiano, ficou dançando na frente dele. Começou uma sessão de strip tease sensual. Dançava, tirava uma peça da roupa. Olhava para o italiano com um olhar maroto.
            Pensei: Não vou nem olhar. Vou continuar fingindo que estou rezando para não me envolverem nessa confusão. Vai acontecer já, já. Deixa o Flávio aparecer e ver isso.
Flávio entrou na UTI. Viu a cena. Ficou irritado. Deu um tapa na cara da Carla e mandou ela sair dali, gritando:
- Vagabunda.
            Eu continuei fingindo que estava rezando fervorosamente.
- Matem esse cara. Mas, desta vez é para matar mesmo... Porra! – esbravejou Flávio.
E vieram novamente dois enfermeiros cada um com um travesseiro, para sufocar o italiano. Começaram colocando o travesseiro no rosto do italiano. Empurravam com as duas mãos. Cada um de um lado. O italiano se debatia, mexia as pernas, empurrava os enfermeiros com os pés e com braços. Ele lutava com todas as forças. Algum tempo depois, vi que ele ficou quieto.
Mais uma vez parecia que o italiano tinha morrido.
Pensei: Incrível como matam esse italiano. E ele sobrevive! Que resistência!
Os capangas saíram de um lado, rindo. Do outro lado entrou Roberto, que havia sumido da UTI, acompanhado da Dra. Kátia. Foram em direção do Flávio, que estava à minha direita. La chegando, viraram-se de costas para mim.
Depois de algum tempo, os três começaram a caminhar, conversando, até que os perdi de vista, pois entraram na perna do L da UTI.
De repente, o Flávio voltou com um semblante raivoso. Parou na minha frente, olhou para mim e disse ríspido:
- Zéééé.... Que papelão é esse, meu!
- Como assim? – respondi
- Parece que está todo mundo contra mim, porra! – falou Flávio, batendo as mãos nas pernas.
– Zééé.. Porra! A gente era amigo.
- A gente ainda é amigo. – corrigi.
Ele gritava e girava em torno de si mesmo, batendo com um dos pés no chão.
- Porra Zééé. O que você me aprontou?
- O que houve? – perguntei assustado.
- Estou sabendo de tudo.
Fiquei calado e senti medo. Foi uma sensação de calafrio da cabeça aos pés. Engoli saliva seca.
- Você quer me ferrar,né? Meu. Que é que você tinha que trazer os procuradores aqui. Isso vai me custar muito caro, meu. Essa turma quer mamar coisa grande.
- Olha, Flávio....Não fui eu. – respondi.
- Como não foi, Zé? Foi então... quem? Fui eu que chamei esses filhos da puta aqui para me encher o saco? – esbravejou Flávio, que parou de rodar e olhava fixamente para mim, tenso.
Pensei: Eu sabia....A vinda dos procuradores aqui....Foi isso! Eu sabia que ele iria atribuir a mim.... Eu sabia. Quando a procuradora disse que veio me tirar daqui, eu já tinha imaginado isso. E o pior é que ela não me tirou daqui! E agora? O que é que eu faço?
- Calma, Flávio.... Calma. – implorei.
- Que calma, Zé! Calma...Eu estou puto!
Eu não sabia o que fazer. Fiquei apavorado.
- Zé, você complicou tudo. O negócio pegou mal para o seu lado. Fedeu. Fiquei sabendo por fontes que eu confio. Foi você quem trouxe os homens aqui.
- Como eu, Flavio? Eu estou aqui entrevado nesta cama...Como eu ia trazer eles aqui?
- Foi a sua família. – respondeu ele.
Pensei: O Roberto é a minha salvação.
Roberto...Por favor, Roberto. Você é procurador, não é? Então...fala aqui para  o Flavio...Fala que eu não tenho nada a ver com isso. Por favor! Fala ai que não fui eu...que não foi minha família quem trouxe os procuradores aqui. Me ajuda ai....Por favor. – implorei.
Roberto ficou quieto. Não disse nada. Só olhou sério para mim.
- Fala Roberto, por favor. – implorei novamente.
Roberto olhou para os lados, depois me fitou e disse:
- Deixa eu te falar uma coisa. Eu trabalho aqui no hospital com o Flávio faz um tempão...
Pensei: Como assim? Ele mudou de lado também?
- Roberto... você não é procurador? – perguntei.
- Não! Não sou procurador coisa nenhuma. Apareci aqui só para aliviar para o Flávio. Enganei todo mundo... - disse Roberto, dando uma gargalhada de escárnio.
 Pensei: Ai. Ai. Ai. Ai. Em que fui me meter. Acreditei que esse Roberto era procurador. Um amigo. Mas ele faz parte da gangue! Estou ferrado.
Eu fiquei ainda mais apavorado. Tremia de medo.
Pensei: Não tenho mais ninguém para me ajudar. Agora é por minha conta!

                                      continua no próximo capitulo

O padrinho do blog

Como escrevo textos politicos, que envio, por email, para minha lista de amigos e, também, publico no facebook. 
Como o pessoal tem gostado desses textos, passaram a me cobrar que fizesse um blog, com o fim de preservar esses textos e ter uma divulgação maior.
Eu vinha protelando, pois gosto de escrever, mas não queria me impor uma obrigação de escrever.
Entretanto, o Valmir Batista, esse que aparece ai na foto comigo, grande advogado, especializado na area de regularização fundiaria, colega de trabalho, vinha me motivando, quase que diariamente para montar um blog. 
Criou ate o nome: Rezenha do Ze.
Ate que um dia desses ele sentou-se a meu lado e disse:
- Ze, hoje voce vai criar seu blog.
E junto comigo, me orientando, me ajudou a criar o blog.
Ai me entusiasmei.
Lembrei que tinha um texto longo, que denominei "Uma experiência Bio desagradável". 
Escrevi esse texto no segundo semestre de 2009, logo após minha saída de uma cirurgia para remoção de um câncer no fígado.
Trata-se do relato de uma experiencia que vivenciei, que inicia-se com a descoberta de um câncer, a aceitação do problema, a busca pela solução, a cirurgia propriamente dita e ai toma uma dimensão inimaginável.
Tudo porque adquiri uma infecção hospitalar e uma pneumonia, que me mantiveram 45 dias internado numa UTI.
Sob o efeito de drogas pesadas, com o fígado não filtrando as toxinas, pois estava sensibilizado pela cirurgia, senti os efeitos de alucinações terríveis.
No leito na UTI construí em minha mente toda uma trama de mortes, orgia, extorsão, corrupção, que foram se sucedendo dia a dia. Fui submetido a um terror que não tinha mais fim.
Essas imagens ficaram vivas na minha memória.
Objetivando reduzir os efeitos desse trauma, resolvi escrever.
Deu certo.
Agora, decidi compartilhar essa experiência para aqueles que tenham alguém em situação semelhante e entendam o que se passa na cabeça de alguém com alucinações.
A história foi dividida em 30 capítulos curtos e venho publicando diariamente um capitulo.
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terça-feira, 24 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XI

Capitulo XI – A morte ronda a UTI

Acordei escutando um casal conversando.
Estavam à minha esquerda, dentro do quartinho da UTI. Ele estava deitado, convalescendo de uma cirurgia. Ela sentada em uma cadeira, a seu lado.
Não estava prestando atenção na conversa, mas afinei o ouvido para ouvir melhor, por curiosidade.
Foi quando ouvi  ele dizendo que não tinha dinheiro, nem plano de saúde e não sabia como iria pagar a conta do hospital.
Ela disse que era para ele não se preocupar, para ficar traquilo, pois precisava se recuperar. Isso era o mais importante naquele momento. Depois dariam um jeito. Concluiu dizendo que, afinal, eles tinham economizado nesses anos todos um dinheirinho e que agora serviria para custear as despesas.
Ele, então, disse que gastara todo esse dinheiro que haviam guardado.
Ela reagiu com espanto e perguntou, aflita, no que ele havia gastado o dinheiro acumulado, sem que ela soubesse.
Ele pediu calma e a compreensão dela.
Ela exigiu uma explicação.
Ele confessou que havia gasto em boates e em casas de prostituição.
Ela murmurou algo que não entendi.
Pensei: Mas que é que esse cara está fazendo? Aqui não é confessionário. Esse cara é louco? Aqui não é o momento de fazer confissão. Cala a boca, imbecil.
Ele continuou, dizendo que  freqüentava esses lugares junto com os filhos mais velhos, que eram da sua primeira ex-mulher.
- Não acredito que você tenha feito isso – disse ela esbaforida.
Ele voltou a pedir calma.  Disse que contaria tudo. Falou que enquanto ela pensava que ele estava trabalhando, eles iam para as boates para se divertir com mulheres em orgias regadas a bebidas e gastavam muito dinheiro.
Enquanto ele contava, ela repetia:
- Não! Não! Não!
Ele, embalado, continuava falando das noitadas com mulheres. Disse que gostava do ambiente de putaria.
Ela  continuava repetindo:
- Não! Não! Não!
Ele voltou a pedir calma. Disse que não ia negar o que havia acontecido.
- Aconteceu, vou fazer o que? Afinal, eu me sentia bem...- disse
A mulher calou-se e percebi que ela ficou irritada.
Ele concluiu dizendo que estava arrependido e pediu o perdão dela.
Pensei: Ela vai mandar matar esse cara.
Eles continuaram conversando, mas eu já não ouvia mais a conversa.
Apareceu dois enfermeiros na porta do quartinho.
Ela se levantou e foi ate eles.
Ela falou reservadamente com eles, com voz baixa, impossibilitando que ouvisse o que falavam.
Vi quando ela fez um sim com a cabeça.
Os dois entrando no quartinho, mas ela ficou do lado de fora.
Fecharam a porta e mataram o homem sufocando-o com um travesseiro. Terminado a execução, saíram e falaram para ela:
- Serviço completo.
Ela ficou um pouco espantada, sem saber o que fazer. Um deles sugeriu que ela pedisse uma indenização para o hospital, pois ele morrera lá dentro. Falou para ela se mostrar muito triste. Ela disse que estava com um ódio tão grande do ex-marido que não conseguia chorar. O enfermeiro insistiu para ela chorar, para criar um clima de tristeza. Ela pegou um lenço e começou a chorar, baixinho.
Passado um tempo, apareceu a Dra. Kátia. Dirigindo-se a mulher foi logo perguntando:
- E então? O seu marido estava se recuperando tão bem... Fiquei sabendo que ele faleceu há pouco.
- Pois é doutora, morreu... Não sei do que. - disse a senhora chorando muito.
- Que tristeza! Perder o marido....
- Sabe, doutora, eu não tenho como pagar o hospital. E ele acabou falecendo aqui. É culpa do hospital, não é?
- Não. Não é bem assim. Morreu aqui como podia morrer em qualquer lugar. Casualmente, ele estava aqui. Olha, vou ver o que posso fazer. Passa aqui amanhã. Agora, vá para casa. Fique calma. Relaxe. Toma um chazinho para se acalmar. Amanhã vamos ver o que podemos fazer. – disse a Dra. Kátia
- Será que o hospital paga uma indenização? Ele morreu aqui dentro.
- Olha, nós não pagamos indenização, não.
- Me ajuda, doutora. Por favor. Eu não tenho condições de pagar nada.
- Vá minha filha. Vá descansar. Hoje aqui o negócio está bravo. Eu tenho muita coisa para fazer. Amanhã e a gente conversa. Está bem? –completou a Dra. Kátia.
A agora viúva foi embora, devagarzinho, chorando muito.
Pensei: Que farsante! Mandou matar o marido e fica com essa farsa toda. Aqui todo mundo é falso.
 - Reginaldo, fecha o quarto do paciente que faleceu. Chama a policia para fazer um boletim de ocorrência. Faz isso para mim, faz. – disse a Dra. Kátia.
 - Doutora, faleceu também uma paciente que fez uma cirurgia de redução do estomago e teve perfuração do intestino. Os pais da moça estão lá no fundo, aguardando o médico. Eles querem uma explicação.
- Ih!Ih! Ih! Hoje o bicho pegou. Mais um, é? Manda chamar o médico que operou para se entender com a família.  O problema é dele. Pra mim, chega. – disse a Dra. Kátia.
Os pais da moça eram idosos. Estavam sentados à minha direita, junto à parede que encerra a sala da UTI. Havia uma pequena distancia entre nós, mas o suficiente para eu escutar o que falavam.
Eles choravam muito. Ficavam se perguntando entre si do por que a filha inventou de fazer a cirurgia. Repetiam que ela estava tão bem. Que era uma moça tão bonita. Com um futuro pela frente. E que, quem sabe, por barbeiragem do médico, ela veio a falecer.
O médico que operou a moça apareceu na UTI.
Falou baixinho para os pais da moça que não tinha culpa do que acontecera, que esse tipo de cirurgia é de alto risco mesmo, que a paciente sabia disso e mesmo assim quis fazer a cirurgia. Disse que ele lamentava o ocorrido, que fez tudo que estava a seu alcance para salva-la, mas ela não resistiu.
A mãe ao ouvir isso ficou possessa.
Levantou-se, foi em direção ao médico, com as duas mãos fechadas, como se fosse socá-lo. Mas, ficou gesticulando socos no ar. O marido a segurou. Voltou-se para o médico e perguntou o que aconteceria agora.
O médico disse que da parte dele não podia fazer mais nada. O  maximo que ele poderia fazer era, excepcionalmente, não cobrar os honorários dele pela cirurgia, como uma demonstração de solidariedade. Mas, quanto as despesas com o hospital ele nada poderia fazer.
O pai retrucou que queria uma indenização. Afinal ela era uma moça com um futuro pela frente. Começou pedindo um valor baixo.
Nisso apareceu um enfermeiro. Disse que poderia intermediar a conversa com a diretoria do hospital, mas que queria uma comissão por isso.
O pai concordou:
- É justo.
E aproveitou para aumentar um pouco mais a pedida.
Enquanto o enfermeiro e o casal conversavam, discutindo valores, o médico se retirou sorrateiramente, calado, sem chamar a atenção.
O enfermeiro perguntou se eles tinham casa própria. O casal respondeu que não. O enfermeiro sugeriu, então, que eles pleiteassem uma casa própria. O casal gostou da idéia e concordou. Fechado o acordo, ele se prontificou a ir conversar com a diretoria do hospital e saiu da UTI.
Pensei: Os pais estavam tão tristes e revoltados até agora.... Foi só falar em indenização e mudou o humor. Que comércio! Agora todo mundo quer indenização. É bom que o hospital tenha um seguro, senão está fo-di-do.
Após algum tempo o enfermeiro retornou, junto com um advogado do hospital.
 - Pois então, os senhores são os progenitores da falecida? –perguntou o advogado do hospital, com muita simpatia.
- Sim, doutor...Infelizmente – respondeu a mãe chorando.
- Pois é, doutor, aconteceu o que não queríamos. – disse o pai.
- Nossa filha veio a falecer aqui... Aqui....Por erro do hospital.... Foi aqui que ela morreu.... – disse a mãe soluçando.
- Amávamos muito a nossa filha. – disse o pai consternado.
- Lamento muito...Acontece. Basta estar vivo para se morrer, não é verdade? – respondeu o advogado.
- É verdade...mas foi culpa do hospital... Isso foi. – disse a mãe.
- Veja bem, aconteceu aqui. Mas o hospital não tem culpa. Toda a equipe medica fez de tudo que estava a seu alcance para evitar o pior. Mas, aconteceu. Foi uma fatalidade. – disse o advogado.
- Mas, foi aqui que ela morreu!... Culpa do hospital. – disse a mãe.
- Sim, claro, morreu aqui. Mas, a principio o hospital não tem culpa. Volto a repetir, foi uma fatalidade. Agora, o que faremos será apurar as responsabilidades. E se houver algum culpado, ai veremos o que vai acontecer.
- Mas, e ai, doutor, como ficamos nessa situação? Vamos ficar esperando... esperando...ate quando? – perguntou o pai.
- Realmente, isso leva um tempo. A investigação é demorada.
- Mas, o senhor não pode fazer nada...agora?
- Sim, mas o que posso fazer por vocês?
- Sabe doutor, o hospital podia dar uma casa para a gente... como indenização. Sabe foi culpa do hospital pela morte prematura de nossa querida filha....Foi culpa do hospital.
- Nem pensar. Isso nós não estamos autorizados a fazer. O máximo que podemos fazer é custear o funeral.
- Mas, doutor, é direito nosso...Fomos vitimas de um erro do hospital.
- Volto a repetir. Não foi culpa do hospital. Foi uma fatalidade.
- Mas, doutor, a gente vai ficar coma as mãos abanando?
- Administrativamente é o que posso fazer.... Se quiserem ir via judicial, fiquem a vontade.
- Doutor, via judicial o senhor sabe que é demorado. Quando ganharmos já estaremos mortos.
- É verdade... A Justiça é mesmo muito lenta neste pais. Lamento. Mas, só posso ajudar no funeral.
E ficaram naquela conversa que eu já sabia que não ia dar em nada.
Voltei a dormir.

                                      continua no próximo capitulo

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo X

Capitulo X – A Tensão aumenta

Toda a equipe de procuradores foi embora, com exceção de Carla, que era a enfermeira assistente da procuradoria.
Ela ficou e continuava reclamando com o Flávio, dizendo que o hospital ganhava muito e pagava pouco para seus funcionários.
Pensei: Todo mundo foi embora e ela ficou. Por que ela não vai embora? Será que ela não percebeu que a coisa mudou? Ela não está com essa bola toda, assim, sozinha.
E ela continuava reclamando.
Flávio ia para um lado e para outro, procurando se esquivar de Carla. E ela continuava seguindo atrás dele, falando, falando.
Pensei: Mas que diabos essa menina tanto fala. Ela está não sabe com quem está mexendo... Ela tem que ir embora já. Ela está provocando, provocando e não percebeu que não tem mais o respaldo dos procuradores.
De repente, o Flávio pegou uma panela, ou algo parecido, e bateu na cabeça da Carla. Ela caiu atordoada no chão. Ele então começou a despi-la. Tirou sua roupa também. Em seguida a estuprou.
Pensei: Pronto. Ela agora está ferrada. Porque não foi embora enquanto era tempo?
Após concluir o estupro, Flávio se levanta para se arrumar e sai da UTI, terminando de colocar a camisa.
Carla começou a gritar histericamente:
- Vou chamar a policia! Estuprador!... Maldito!... Canalha!... Vou chamar a policia!
Pensei: Fica quieta menina. Aproveita que ele não está aqui e vai embora.
O Flávio voltou para a sala com um tape na mão.
Disse, mostrando para ela:
- Você vai chamar a policia? Para que? Aqui esta tudo gravado, neném.... Você vai querer mostrar que você deu para mim? Deu porque queria dar. Aqui não tem nada a seu favor...Chama a policia, vai. Chama. Chama. Não tenho medo. Eles vão é rir de você, bobona.
- Vou chamar meu pai... Canalha! Vou chamar meu pai... Ele vai te matar. Meu pai é muito bravo... Ouviu?
- Vai. Vai lá. Chama o papaizinho. Chama a policia. Chama a puta que te pariu!
Pensei: Cala a boca, menina. Vai embora enquanto é tempo.
Carla chorava muito e soluçava. Pegou a bolsa, pos em um dos braços e no outro segurou um agasalho. Saiu falando:
- Espera...espera para ver... Espera...Vou chamar meu pai.
- Vai. Vai. Não enche meu saco...Porra!... Vai logo senão mudo de idéia. – disse o Flávio rindo e olhando para seus comparsas, que riam também.
Carla foi embora, meio capengando, chorando, soluçando, murmurando palavras que não entendi.
Fiquei aliviado porque ela conseguiu ir embora.
- Canalha! – gritou o italiano. - Você e toda essa corja de bandidos. Canalhas!
- Mas esse filho de uma puta ainda não morreu? Porra!... Vão lá e dão um jeito nele.- disse Flávio gesticulando para seus comparsas.
- Bandidos!... Covardes! – continuou o italiano.
- Corta o pau dele! – sentenciou Flávio. – Corta! Assim ele vai deixar de ser macho.
Os enfermeiros foram em direção ao italiano. Um deles portava uma faca na mão. 
- Pode cortar. Eu estou velho mesmo... Não uso. – retrucou o italiano.
Pensei: Esse italiano só faz besteira. Por que não fica quieto?
Enquanto dois enfermeiros seguravam o italiano pelo braço, um em cada lado, um terceiro cortou-lhe o pênis na metade. A sangue frio.
Pensei: Ai que dor.
Senti uma dor na minha região genital como se fosse em mim que eles estivessem cometendo aquela barbaridade. Fiquei angustiado.
Pensei: Não quero nem olhar. Que crueldade! Quanta covardia! E o pior é que eu não posso fazer nada. Nem reclamar eu posso. Tenho que ficar quieto. É melhor. A situação aqui está ficando cada vez pior.
- Pega o meu pau e enfia no teu rabo...canalha! – esbravejou o italiano.
- Vou dar para o gato comer. – retrucou Flávio.
- É para enfiar no teu cu! – gritou novamente o italiano.
- Joga no lixo! – gritou o Flávio. - Nem o gato vai comer essa porcaria velha e suja. Joga no lixo! Porra!
Nisso aparece na entrada da UTI Carla junto com o pai, que estava armado com um revolver nas mãos. Ele era aquele típico pai italiano. Careca, com cabelo branco nas laterais da cabeça, olhos azuis, encorpado. Estava muito nervoso.
- É esse ai, pai. – disse Carla, apontando para o Flávio. - Foi ele quem me estuprou.
Flávio, com movimentos lentos, olhou para os dois e disse:
- Carla... Carla...Carla..... Que é que é isso? Para que você foi perturbar seu pai. Ele é um homem muito ocupado.... não é, senhor? – disse olhando para o pai dela e demonstrando preocupação pelo incomodo.
- É esse o canalha? – gritou o pai apontando o revolver para a cabeça de Flávio.
O pai de Carla estava esbaforido. Completamente transtornado.
Os capangas estavam se preparando para reagir, quando Flávio levantando o braço, com a mão aberta, demonstrando calma, disse:
- Calma, gente. Vamos conversar. Nada de tiros por aqui, por favor. Aqui tem pacientes. Pode acertar alguém... Calma!
Depois virou-se para o pai dela e disse:
- Sogrinho, o que foi que a Carla andou falando de mim pra voce?
- Flávio, você é um cara de pau... Safado! – retrucou Carla.
- Sogrinho, você veio aqui para me matar?... Então? Mata. Mata logo. Vamos. Mata. Que é que você está esperando?
O pai de Carla esticou o braço e apontou o revolver para o rosto de Flávio.
Pensei: Mata. Mata logo esse bandido.
Flávio andou calmamente em direção a Carla e disse ao pé do ouvido dela:
- Amor, você não quer que eu compre aquele carro conversível que você me disse que queria?
E deu um beijo no rosto dela.
- Calma, pai. Calma. – disse Carla levantando a mão e a colocando na frente do revolver, para impedir que o pai desse um tiro.
- Flávio, você vai me dar aquele carro, mesmo? – perguntou Carla interessada e olhando para o Flávio.
- Lógico, meu amor. Eu não prometi? Promessa é divida. Eu já disse que vou comprar, meu bem.
Pensei: Não Carla. Não entre na conversa dele. Não recua.
- Pai, deixa para lá. Ele vai me dar aquele carro que eu tanto quero.
O pai abaixou o braço, apontou o revolver para o chão. Abaixou a cabeça, desolado, e gritou:
- Puta! Sem vergonha! Não parece minha filha. Você... você se vendendo por causa de um carro? Puta. Você me faz perder meu tempo a toa?... Vagabunda.
- Pai... Pai. Eu prefiro assim. É melhor.
- Então vocês se merecessem... Puta!
Pensei: Não é possível. Ela se vendeu por um carro. Ela vai virar escrava sexual, como as outras. Que burra.
O pai aborrecido, enfiou a arma na cinta e saiu da UTI.
Os seguranças do hospital viram o pai de Carla chegar armado. Chamaram a policia militar, que chegou justamente quando ele estava saindo na portaria do hospital e prendeu-o.
Foi uma confusão. Os policiais queriam entrar na UTI para falar com Flávio, mas ele impediu. O pai de Carla estava algemado junto com dois policiais e um segurança do hospital.
Flávio mandou soltar o velho, dizendo que não acontecera nada. Que fora só um mal entendido. Enfiou algumas notas de cem reais no bolso de um policial e mandou todos irem embora. Falou que não queria bagunça na UTI, nem no hospital.
Começou a amanhecer. Percebi pela troca de turno dos enfermeiros. Flávio e sua gangue foram embora.
Fechei os olhos e cochilei.
Quando acordei, durante a visitação, Cris comentou comigo que haviam substituído a minha sonda urinária, que ela pedira para o Dr. Paulo providenciar, pois tinha receio de que eu pegasse alguma infecção.
Voltei a dormir.

                                      continua no próximo capitulo

domingo, 22 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo IX

Capitulo IX – A justiça sucumbe a corrupção

No dia seguinte, apareceu junto com a procuradora um grupo de quatro procuradores, vestidos de terno e gravata, junto com uma auxiliar vestida de enfermeira.
Chegaram movimentando tudo. Pegaram as fichas de todos os pacientes para examinar a situação de cada um. A procuradora sentou-se, leu a minha ficha e disse olhando para mim:
- Você está melhor! Estou lendo aqui. Fique tranqüilo que você será removido.
O Flávio, naquele dia, estava comandando a UTI, apesar de não ser noite.
Estava postado no balcão de apoio dos enfermeiros. Com as duas mãos apoiadas no balcão dava ordens para todo mundo. Parecia um dono de bar. Muito agitado.
A procuradora tentou falar com ele, mas ele dizia que não podia conversar, pois tinha que comandar a UTI e disse:
- Eu trabalho com vidas, doutora. Não posso perder um minuto. É a vida dos meus pacientes.
Pensei: Que farsante! Ela só esta fazendo tipo. Nem médico ele é.
Os procuradores vasculhavam tudo. Reuniram uma série de documentos, que diziam que seriam apreendidos para levarem.
Pensei: Finalmente agora eles vão descobrir tudo.
O Flávio reagiu:
- Não pode! Não, não, não. Isso é prontuário que trata da vida de cada paciente aqui. Se tirar daqui a coisa vai ficar feia. Vai desorientar toda a enfermagem. Não pode levar, não! Tem prescrição médica. Não pode levar. Depois ninguém se responsabiliza e sobra para mim. Não vai levar, não.
Um dos procuradores falou para o Flávio:
- Quero falar com o diretor responsável pelo Hospital.
- O senhor vai ter que ir lá ao oitavo andar.
- Mas, o senhor não é diretor?
- Doutor, é no oitavo andar – falou Flávio com um ar de desdenho.
Os procuradores se reuniram e designaram um deles, que foi para subir e falar com o diretor.  Era um procurador mais velho.
Pensei: Esse tem mais experiência e agora ele vai dar uma dura nessa turma.
Depois de algum tempo ele desceu, chamou os outros e disse que todos deveriam subir para conversar com o diretor, que tinha uma proposta interessante.
Pensei: Não é possível. Eles vão comprar essa turma.
 A procuradora disse que não iria subir, pois precisava organizar algumas coisas. Os demais subiram e ela e a enfermeira ficaram. 
A enfermeira assistente da procuradora ficava reclamando com o Flávio das condições de trabalho e salário dos enfermeiros. Dizia que os enfermeiros ganhavam pouco. Ele não falava nada, ia de um lado para outro, apressado e esbaforindo, se esquivando dela.
A procuradora saiu dizendo que ia tomar um café e voltava logo.
O ambiente aos pouco foi escurecendo. As luzes estavam com baixa intensidade.
Pensei: Será que ele vai fazer a boate de novo?
Havia muitos enfermeiros trabalhando. O ambiente estava agitado.
De repente, apareceu um rapaz alto, magro, olhos azuis, tipo alemão, vestindo, impecavelmente, um terno escuro. Com um celular na mão, mostrava para todos, que na tela do celular dele havia um emblema da procuradoria federal. Dizia que era um procurador com especialidade em enfermaria.
Pegou um avental branco no armário e vestiu sobre o terno.
Pensei: Que cara jovem para ser procurador! Deve ser estudioso. Pelo menos, tem cara.
Ele ficava andando de um lado para o outro. Na mão direita vi que ela segurava uma seringa com a agulha voltada para cima.
Ele agitava ainda mais o ambiente. Queria ver tudo. Reclamava de tudo. Mandava limpar o chão, trocar os pacientes que dizia que estavam com a fralda suja. Olhava os prontuários e determinava que seguissem rigorosamente a dosagem dos medicamentos. Olhava os refis de plástico pendurados em uma peça metálica apropriada para isso, que ficava ao lado dos pacientes. Conferia  se o que constava no refil era o que estava prescrito. Reclamava muito. Ninguém falava nada. Todos obedeciam.
Pensei: Esse vai botar ordem na casa! Que experiência! E tão jovem.
Olhava baia por baia, cada paciente. Conversava com todos eles.
Chegou a hora de uma enfermeira dar-me um banho. Tirou-me o lençol, a fralda e o avental curto, tipo bata, amarrado pelas costas, que usava.  
O banho da UTI é uma lavagem qual eles jogam água com sabão sobre todas as partes do corpo. Às vezes molhavam o cabelo. Depois passam um pano molhado e finalmente enxugam. Era uma lavagem refrescante, mas nada como um banho de ducha.
Algumas vezes, um enfermeiro fazia a minha barba com um aparelho de barbear descartável.  Nesse dia fizeram minha barba.
Como essa operação molhava a cama, mas não o colchão que era revestido com plástico, os dois enfermeiros faziam uma troca malabaristica de lençóis. Iniciava com um enfermeiro rolando o paciente para o outro lado oposto da cama. Nesse lado, o outro enfermeiro ficava segurando o paciente, colado a seu corpo. Enquanto isso, o primeiro enfermeiro retirava o lençol molhado e substituía por um novo lençol limpo. Quando este lençol estava colocado até a metade longitudinal da cama,  o outro enfermeiro rolava o paciente para o lado já substituído. Assim, terminavam de arrumar a cama.  
Para concluir, colocavam uma fralda limpa e uma nova bata. Estávamos limpos e higienizados.
 Algumas vezes eles me calçavam uma meia. Minha mulher, todos os dias, deixava um par de meias novas sobre o criado mudo e levava embora a meia usada.
Quando eles não colocavam a meia, minha mulher ao me visitar as colocava nos meus pés, para que eu não sentisse frio. Ela ficava aborrecida e reclamava da displicência dos enfermeiros para comigo. Mas, para mim era excesso de zelo dela.
Foi no momento de um banho que estava sendo submetido, que o procurador enfermeiro entrou na minha baia.
- Meu nome é Roberto. Muito prazer. Estou aqui para arrumar essa bagunça toda que o senhor está vendo. – disse ele sério.
- Oi.
- E o senhor..., senhor José, não é?. Tudo bem com o senhor? – perguntou-me.
- Sim, estou bem.
- E essa água não está fria para o senhor?
Pensei: Não vou reclamar na frente da enfermeira que a água está um pouco fria. Dá para agüentar.
- Está boa. – respondi.
Ele saiu da minha baia sem dizer nada.
Voltou, em seguida, portando um balde com água quente.
Misturou um pouco no balde que a enfermeira utilizava para me lavar. Pegou desse balde e jogou um pouco de agua sobre mim.
Perguntou:
- E agora?
- Está boa.
Ele misturou mais água quente. E jogava em cima de mim, até que jogou um pouco do balde quente na minha parte intima.
Eu reagi:
- Não! Para. Assim não. Está muito quente. ...Queima.
- Você estava lavando o senhor José com água fria. – disse Roberto sério para a enfermeira. - Não pode. Ele não reclamou, mas não pode dar banho com água fria.
A enfermeira ficou calada.
- O senhor viu que tem diferença, não é senhor José. Água fria é água fria. Água quente é água quente. O senhor observou quanto de água quente eu tive que adicionar até o senhor reclamar. Tem que ser água morna. Não é senhor José? – disse o Roberto com um belo sorriso para mim.
- Sim. Estava fria antes. – concordei.
- O senhor precisa reclamar. Não deixe ninguém tratar mal do senhor. Eles recebem para tratar o senhor bem.
Pensei: Que sujeito! Faltava esse sujeito aqui.
Flávio estava entre os enfermeiros, conversando com um e outro.
Roberto olhou para e ele e disse-me que achava estranho o Flávio agir como se não fosse médico. Estranhava a conduta dele.
Pensei: Ele precisa saber a verdade. O Flávio não se chama Flávio e é advogado. Vou contar para ele. Afinal ele precisa saber da verdade para tomar providencias.
Chamei Roberto para mais perto de mim e falei com a voz quase murmurando que o nome do Flavio não era Flávio, mas sim Paulo. Disse também que ele não era médico e sim advogado.
Roberto fez uma cara de espanto e perguntou como eu sabia disso tudo. Falei que conhecia o Paulo de muito tempo. Que na juventude era conhecido como Paulo armadura.
Ele ouviu, não falou nada e saiu da minha baia.
Pensei: Agora ele vai dar um jeito no Paulo, no Flávio, sei lá.
Quando terminou meu banho, a enfermeira abriu a cortina da frente. Vi que os procuradores desceram da reunião pelo elevador situado no corredor que unia a minha UTI com outra na posição oposta.
Eles estavam todos sorridentes, descontraídos. Mas, não vi Roberto entre eles.
Aproximaram-se da procuradora para conversar. Fizeram uma roda em torno dela. Eu não conseguia entender tudo o que eles falavam. Ela parecia não concordar e eles continuavam argumentando e riam.
Finalmente, consegui ouvir que eles tinham feito um acordo financeiro com a diretoria do hospital. Falavam que receberiam todo mês um determinado valor. A procuradora não concordava, mas acabou sucumbindo.
Eles foram até o Flávio para se despedir. Estavam saindo, voltaram-se para o Flávio e acenaram com a mão um adeus. Foram embora.
O Flávio continuava na postura de dono de bar, sorria aliviado, mexendo a cabeça como se estivesse dizendo sim.
A procuradora sentou-se na cadeira da mesa da Dra. Kátia, reuniu seus pertences e os colocou em sua bolsa.
Olhou para mim, mostrando seu descontentamento, levantou-se, deu um adeus e foi-se embora. 

                                      continua no próximo capitulo