Capitulo XIII – A Extorsão
Flávio continuava agitado. Mexia a cabeça de um lado para o outro.
- Calma, Flávio... Calma! Vamos
conversar – implorei.
Pensei: O que é que eu faço,
agora?
Tentei me levantar da cama.
Pensei: Não consigo sair da cama. Não tenho forças..
E nem ia adiantar. Eles me agarrariam. Não conseguiria dar três passos. Acho
que vou gritar por socorro...
Olhei para os lados e so vi
gente sob o comando do Flavio.
Pensei: Não! Gritar por socorro,
não vai adiantar. Vou pedir socorro para quem? Ninguém vai me ajudar. Ele manda
aqui. O que é que eu faço?
Passei a mão na cabeça, buscando
uma solução.
Pensei: Caramba... Que situação
que estou! Pensa, Ge. Pensa!
Procurei me acalmar, respirando
fundo, aspirando e soltando o ar devagar.
Pensei: Já sei! Não posso
confirmar que fui eu quem chamou os procuradores. Mesmo porque não chamei
ninguém...Agora, se foi a minha família que chamou... não fui eu. Mas, também não
posso confirmar. Morro negando. É isso ai. Pelo menos ele fica na duvida...
Acho. Mas o que é que eu falo para convencer esse cara?
Continuei respirando
pausadamente para me acalmar.
Pensei: Caramba! Pensa.... Ah! Vi
na televisão. É isso mesmo. Vi na televisão. Claro. É isso que vou falar.
- Flávio, a procuradoria veio
aqui pelas noticias da imprensa. Vi na
televisão. Você sabe disso. Estou aqui na cama. Como ia chamá-los? –
argumentei.
- Você está de brincadeira
comigo?
- Claro que não, Flavio.
Imagina!
- Então para de pular fora.
- Não estou pulando fora. Não é
isso, Flávio. Eu não tenho nada a ver com isso...Você sabe.
Fiquei quieto, aguardando a
reação dele.
Flavio, ouviu, olhou para mim com
uma das mãos no queixo, como querendo encontrar uma solução e disse:
- Pensei e decidi que vou te
matar.
Pensei: Não colou. Ele esta
sabendo que foi minha família quem chamou a procuradoria. Ele tem informantes.
Mas, mesmo assim reagi dizendo:
- Que é que é isso, Flávio? Calma!
Não é assim que se resolve.
- Não tem jeito...Vou te matar.
Olhei para os lados, buscando
ajuda.
Vi a Dra. Kátia de costas para
mim, de pé, de frente para a mesa dela, arrumando suas coisas para ir embora,
pois já havia terminado seu expediente.
Pensei: So me resta ela pra
ajudar.
- Doutora Kátia...Doutora Kátia,
por favor, fale com ele. Ele não pode me matar. – implorei. - Vai contra a
religião. Vocês não são cristãos? È um
dos mandamentos de deus, não é?
- Olha meu filho, eu sou pagã. Para
mim você morrer ou não, não faz a menor diferença. – respondeu ela.
- Como assim?
- Ou melhor. Faz sim. Você vai ser uma
oferenda aos deuses. – disse ela.
- Que deuses? Isso não existe.
Isso é bobagem...
- Meu filho, de graças a deus
que voce é um privilegiado. Vai para o sacrifício. Não é qualquer um, não.
- Que sacrifício é esse?... Não!
Isso não existe. Voce é uma médica. Você
tem um compromisso de salvar vidas.
Olhei para a mesa dela e vi que
la havia algumas imagens de santos e símbolos pagãos, que não observara antes.
Tinha um tipo de um mapa representando os planetas no universo, com uns
desenhos estranhos.
Pensei: Ela é pagã mesmo... E
agora, o que eu faço?
Dra. Kátia não falou mais nada.
Despediu-se de Flavio e saiu da UTI.
- Vou pegar teus olhos verdes
para mim. Vou usá-los em mim. – disse Flávio.
- Não precisa, Flávio... Você
também tem olhos verdes.
- Não. Eu quero os teus olhos.
- Calma, gente...Calma! Vamos conversar.
– disse.
Pensei: E agora? Preciso agir
rápido, senão ele me mata mesmo... Olha a cara dele. Parece um louco. Calma!....
Pensa!... Pensa! O que esse cara quer? Os meus olhos? Não... Isso é só
desculpa. O que esse cara realmente quer?...Ah! Já sei. Ele acha que eu dei
prejuízo para ele. Então... Ele quer que eu pague o prejuízo. Lógico! É isso
ai.
- Sei que você gosta de grana. –
arrisquei, olhando para o Flavio .
- Agora você está falando do que
eu gosto.
Pensei: Acertei. É isso ai, vou
negociar minha vida com ele em troca de dinheiro.
Flávio virou-se para os lados,
com uma cara de satisfação e disse:
- Roberto, você acha que ele tem
grana?
- Pobre... pobre, pobre ele não
parece que é. – respondeu Ro berto.
- Onde você mora, Zé? –
perguntou Flávio.
- Perto do estádio...
- Que estádio? Do Morumbi? –
perguntou Roberto.
- Ééé. – disse engolindo saliva
seca.
- Então deve ter grana! -
concluiu Ro berto.
- Calma, gente! Escuta... Eu
saindo daqui, posso te ajudar, Flavio. Posso te ajudar a ganhar dinheiro. –
disse.
Olhei para ver como ele reagia e
resolvi continuar:
- Tenho experiência em gestão de
negócios. Posso te ajudar na administração do hospital.
- Não! Isso eu já tenho. Eu
quero é grana viva...agora.
- Como assim? Você sabe que eu
não tenho grana aqui.
- Pede para tua mulher trazer.
- Eu não tenho grana em casa.
- E os dólares?
- Que dólares? Eu não guardo
dinheiro em casa. Voce
está louco? Guardar dinheiro em casa...so se for pra ser roubado.
- Está certo. Então, pode ser um
cheque. É isso um cheque.
- Mas... mas, eu não tenho muita
grana... Assim... À vista.
Pensei: Paciência. Minha vida
vale mais do que o dinheiro que vou pagar. Dinheiro vem, dinheiro vai. Serve
para isso mesmo. Foda-se.
- Eu parcelo... Pede para ela trazer uns cheques, ai. – propôs
Flávio.
- Está certo. – respondi.
Pensei: Cheques? É... É uma boa
idéia. Dou parcelado. Ganho tempo. Ele até pode receber o primeiro, mas os
demais eu mando sustar. Eu saio daqui e mando sustar todos. É isso ai. Mas eu tenho
que sair daqui.
- Flávio, tem outra coisa. Eu
pago, mas quero sair daqui. – disse.
- Lá vem voce com outra estória...
- Não é isso, Flavio. É
condição, poxa. Eu quero sair daqui. Vou pagar. É meu direito.
- Para onde você vai?
- Não sei. O negócio só fica
fechado se eu sair daqui.
- Está bem. Você é dono do seu
nariz. Quer ir embora? Então vá... Depois que pagar tudo.
- Lógico. Pago de um lado e saio
do outro. – disse.
Pensei: Que nem resgate.
- Fechado. – concordou Flávio.
Um enfermeiro chamou Flavio para
resolver um assunto de outro paciente. Ele caminhou em direção a ele.
Pensei: Acho que deu certo. Vou
conseguir sair vivo dessa. E com uma vantagem...finalmente saio daqui.
Aproveitando o afastamento de
Flávio o italiano olhou para mim e disse:
- Você é bom de negócio. Depois
que você sair, veja se não esquece de mim. Avisa minha mulher para dar um jeito
de me tirar daqui, também. Eles não a deixam entrar. Eles dopam a gente, de
dia, para a gente não receber visita.