A acefalia política brasileira fez surgir um protagonismo de membros do STF, que acabaram por regular a insensatez que domina o cenário político.
De um lado, as lideranças no Congresso, que deixaram de pensar no Brasil como um todo, objetivando se reelegerem, focaram em seus rincões eleitorais, enviando recursos do orçamento secreto para lá.
Agora eleitos, seu foco é manterem-se em seus cargos de poder para continuarem na mesma saga de manter seus currais eleitorais abastecidos de verbas publicas.
Isso quando não se envolvem em atos de corrupção terceirizados.
De outro lado, um presidente, que só pensou em se reeleger desde o primeiro dia da posse.
Para isso construiu a bandeira da fraude nas urnas, adotada por seus admiradores, que acabaram por se fanatizar pela mentira entronizada em suas mentes.
Graças a seu egocentrismo exacerbado Bolsonaro perdeu a oportunidade de fazer um bom governo.
Por puro ciúme do protagonismo momentâneo que tiveram, membros do governo do alto escalão foram enxotados do governo, perdendo este, em sua composição, boas cabeças.
É verdade que não lhe faltaram adversidades, como a pandemia que se estendeu por grande parte do mandato.
Mas, também nesse momento, faltou-lhe perspicácia para conduzir o governo diante do grave problema.
Ao contrario, mostrou sua absoluta falta de sensibilidade com o próximo, em diversos momentos que eram exigidos um mínimo de dignidade.
Por outro lado, demonstrando excesso de sabedoria que não tinha, receitou um medicamento, a cloroquina, que se mostrou ineficaz, imiscuindo-se num assunto que não lhe dizia respeito defender.
Além de falar tolices sobre quem tomasse a vacina viraria jacaré.
Pra que isso?
Acabou por solapar parte do apoio que teve na eleição de 2018.
Indignados com sua fala e ação acabaram por votar em Lula.
Aqueles mesmos que votaram em Bolsonaro contra Lula!
Depois, numa tentativa de imitar o ditador Chavez, da Venezuela que tanto desdenha, Bolsonaro tentou fazer o mesmo por aqui.
Cooptou diversos militares para compor seu governo e obter sustentação militar numa eventual tentativa de impor uma ditadura.
Entretanto, sua patente de Capitão, ainda por cima afastado do exercito por indisciplina, não lhe assegurou submeter Generais a seu comando numa ditadura.
Mas, dentro da perspectiva de se tornar um ditador, conseguiu juntar a fome com a vontade de comer.
Encontrou parte da população em situação semelhante aos alemães do começo do século passado, que buscavam um líder para combater o mesmo fantasma do comunismo.
Por lá, naquela época, encontraram um líder habilidoso no discurso inflamado, que conseguiu dominar um povo fanatizado.
A historia conta o resto.
Por aqui, embora Bolsonaro tentasse, felizmente, não teve a mesma capacidade oratória, nem conseguiu formar um partido político para chamar de seu e que daria suporte político para se estabilizar no poder.
Mesmo tendo apoio político espraiado em diversos partidos.
Faltou uma identidade única.
Mesmo assim, após sua derrota eleitoral, conseguiu que parte do povo fanatizado continuasse com manifestações antidemocráticas.
Pior, fez, subliminarmente, com que se estabelecessem nas portas dos quartéis para clamar por uma intervenção militar.
Felizmente, uma parte importante das forças armadas, cientes de sua atribuição constitucional, não acatou o pedido.
Não pretendem se aventurar numa arriscada batalha, cuja falta de habilidade já haviam demonstrado quando da ditadura de 64.
Apesar da boa lembrança do crescimento do governo Médici, é importante não se esquecer de que quando os militares devolveram o poder aos civis, entregaram com hiperinflação, que fazia com produtos no supermercado fossem remarcados ao longo do dia.
Além de uma divida externa impagável que nos levou ao colo do FMI.
Diante disso, os membros do STF, que não foram eleitos pelo povo, acabaram por exercer uma autoridade que competiria aos políticos eleitos.
É preciso restabelecer a atuação de cada instituição conforme dispõe a Constituição.
Não será com manifestações antidemocráticas, mas com uma cobrança incisiva aos políticos eleitos para que assumam seu papel com dignidade.