Capitulo
III – No passado, o valor da palavra empenhada
Fiquei
entusiasmado com a descoberta da minha ligação com meu primo Paulo Fairbanks.
Pensei:
A internet é fabulosa. A gente acha tudo.
De
repente, me surgiu uma lembrança de mais uma ligação familiar, que sempre me
deixou intrigado.
Recordei
que, durante minha adolescência, meu pai comentava de um parentesco distante que
tínhamos com Theodoro Quartim Barbosa, fundador do Banco do Comércio e
Indústria de São Paulo S.A., depois denominado apenas Comind.
Pensei:
Vou pesquisar para ver se acho esse elo perdido.
Fui
ao computador e na internet digitei no Google o nome Comind.
Pensei:
Essa pesquisa vai ser moleza.
Encontrei
um site que continha a seguinte informação:
O Banco do Comércio e Indústria de
São Paulo S.A. foi um banco brasileiro fundado em 1889 pela elite cafeeira
paulista, tendo como principais acionistas Theodoro Quartim Barbosa, Antônio da
Silva Prado, J.J. Abdalla e Elói Chaves.
E
que em 1985, ocupava a 5ª posição no
ranking nacional de bancos. Possuía dezessete mil funcionários e trezentas
agências quando, em 19 de Novembro, sofreu uma intervenção federal. Suas
agências foram leiloadas e distribuídas pelo Banco Central entre diversos
outros bancos, que absorveram instalações e funcionários.
Pensei:
Não! Com o nome do banco não vou achar nada. Vou pesquisar o nome do Theodoro. Claro, é com
o nome dele que devo achar alguma ligação entre nós.
Digitava
ansioso.
Pensei:
Deve ser mais fácil encontrar alguma coisa sobre Theodoro, afinal foi um
banqueiro famoso.
Encontrei
o nome dele em diversos sites, que faziam referencia a sua pessoa e familiares,
mas não encontrava nada que pudesse relacionar com a minha família.
Continuei
a busca.
Encontrei
uma passagem histórica muito interessante, que marcou seu integro caráter. Reproduzo
o texto abaixo.
“Houve um tempo em que o fio do bigode e a
palavra dada valiam tanto ou mais do que uma escritura.
Em fins dos anos 60, promulgada a Lei
4.728/65, que regulou o mercado de capitais, começava a ser implantado o modelo
de mercado financeiro segmentado e as instituições pediam ao Banco Central
permissão para abrir companhias de crédito, financiamento e investimento, de
crédito imobiliário e bancos de investimento, bastando integralizar parte do
capital e comprovar alguma experiência.
Predominavam, então, figuras
tradicionais como José Maria Whitaker, Gastão Vidigal, Walther Moreira Salles,
Magalhães Pinto, Alfredo Egydio de Souza Aranha (tio de Olavo Setúbal, que com
José Carlos Moraes Abreu fundara o
Federal Itaú, em 1964, iniciando sua trajetória bem-sucedida), Aloisio Foz, Luiz de Moraes Barros, Amador Aguiar, Eudoro
Villela, João Nantes, Adolpho da Silva Gordo e Avelino Vieira -, alguns dos
quais titulares de bancos que acabaram caindo no ranking do setor ou que,
simplesmente, desapareceram, como o Banco do Commercio e Indústria de São
Paulo, em cujo prédio está localizada, desde os anos 80, a Bolsa de Valores de São
Paulo.
No auge da história do Commercio e
Indústria, uma figura se destacava pela extrema austeridade, a de Theodoro
Quartim Barbosa, com suas enormes sobrancelhas brancas.
Um episódio dos anos 60, com o doutor
Theodoro, como era chamado, retrata o velho (e saudoso) Brasil.
Os Bancos do Commercio e Indústria e
Francês e Italiano detinham, cada qual, a metade das ações de uma próspera
instituição de financiamento do crédito varejista, a Comit.
Theodoro resolveu comprar a parte dos
italianos e convidou os diretores do Francês e Italiano a visitá-lo no 3o
andar.
O doutor Theodoro definiu um valor
que julgou correto e propôs a operação de compra. Os italianos concordaram com
a avaliação, mas fizeram um reparo. "Pelo preço proposto, nós compramos
sua parte", disseram ao presidente do Commercio e Indústria.
E ocorreu o que hoje pareceria
improvável.
Impassível, o doutor Theodoro
concordou e chamou os advogados para fazer os contratos, como relata um
jornalista que conheceu de perto os bastidores do banco, Ro bert
Appy.
O doutor Theodoro vendeu os 50% da
Comit para os italianos e, pouco tempo depois, fundou outra financeira, a
Comind, partindo do zero.
Numa época em que as negociações
verbais de compra e venda de instituições tinham tanta força quanto continuam
tendo hoje as transações fechadas em Bolsa, o gesto de Theodoro Quartim Barbosa
simbolizou o valor da palavra e o conceito do preço "justo".
Se era "justo" para ele,
por que deixaria de ser "justo" também para o vendedor?
Uma cena, convenha-se, inimaginável
nos tempos atuais, em que não se pede licença para fazer uma proposta hostil e
tentar tomar o controle de uma empresa nas grandes bolsas do mundo.”
Pensei:
Ele é da família, mesmo. Esse senso de justiça é típico da minha família.
Resolvi
voltar ao site de genealogia familytreemaker na pagina do meu trisavô José
Júlio Vianna Barbosa da Silva, onde havia localizado seus herdeiros.
Pensei:
Acho que nesse site devo encontrar a ligação.
Como
na pagina do meu trisavô havia o nome de seus pais, resolvi continuar a
pesquisa por eles.
O
pai do meu trisavô José Júlio era militar. Seu nome era Tenente Coronel
Theodoro Barbosa da Silva. Sua mãe chamava-se Emerenciana Henriques de Freitas
Vianna.
Acessei
a pagina do Tenente Coronel Theodoro e descobri que ele teve duas esposas.
A
primeira esposa, Emerenciana, era a minha tetravó.
Como
o Tenente Coronel Theodoro ficou viúvo, casou-se com Angélica Silvina Moreira da Silva, com quem teve
outros filhos. Dentre eles havia Francisco de Paula Moreira Barbosa.
Acessando
a pagina de Francisco descobri que ele foi o pai de Theodoro Quartim Barbosa, o
fundador do Comind.
Assim,
meu trisavô José Julio era meio irmão de Francisco e, por conseqüência, tio de
Theodoro do Comind.
A
minha ligação com meu primo de “enésimo” grau Theodoro do Comind não era assim
tão distante. Estava uma geração acima da ligação com a família de meu primo
Paulo Fairbanks Barbosa.
Fiquei
contente com essa constatação.
Agora
estava provado.
Meu
pai tinha razão, quando dizia que éramos parentes do fundador do Comind.
Para
descontrair, me ocorreu uma idéia, que me fez rir de mim mesmo.
Pensei:
Toda família tem o primo rico e o primo pobre. Eu era o primo pobre. Theodoro era
o primo rico.
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