quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XXVI

Capitulo XXVI – A segunda saída da UTI

Novo dia.
Acordei um pouco atordoado.
Quando me dei conta, estava andando em uma ampla área, que ficava em um plano mais alto que a rua.
Tinha retornado à cidade universitária da USP.
Nesse local havia um pavilhão japonês, próximo a um grande lago, margeado por vegetação característica do Japão. Havia uma ponte em forma de arco com portais vermelhos.
Pensei: Puxa vida! Nunca tinha visto esse pavilhão aqui na cidade universitária. Deve ser novo. Deve ter sido construído graças a uma doação do governo japonês.
Continuei caminhando e vi que havia um pequeno hospital, na parte de baixo.
Pensei: Vou entrar nesse hospital. Deve ser bom. É japonês. Estou precisando me recuperar. Vai ser aqui que vou ficar.
Entrei.  
Perguntei para a recepcionista se poderia ficar no hospital.
Ela disse que sim, pois o atendimento era gratuito.
Vi em uma parede o nome Medial, que é o meu plano de saúde.
Perguntei se havia convenio com a Medial.
Ela confirmou que sim e disse que era a Medial quem gerenciava o hospital.
Resolvi usar o convenio, pois não achei justo receber o atendimento gratuito, tendo um convenio medico.
Apresentei minha carteirinha e ela preencheu minha internação.
Fui conduzido para a UTI.
No caminho, um pouco antes da entrada da UTI, cheguei a um local que parecia um desfiladeiro. De um lado havia a parede e de outro um amplo vale profundo. Junto à parede, em um nível bem alto, havia uma ponte estreita, com pisos em madeira, com corrimão em cordas grossas.
Caminhei devagar pela ponte. No meio do percurso parei para observar o que acontecia lá embaixo.
Havia uma cerimônia onde estavam reunidos alguns monges budistas.
Eles tinham o cabelo cortado bem rente á cabeça. Trajavam roupa típica. Estavam enrolados em mantas de seda, da cor alaranjada e usavam sandálias de couro.
Havia, junto a eles, algumas pessoas de origem oriental, alguns homens vestidos com terno e gravata e mulheres com vestidos a rigor, com chapéu.
Estavam todos posicionados de frente a uma parede bem alta, que tinha no centro uma enorme cachoeira de pedra, de onde caia um grande volume de água iluminada por uma cor azulada. Essa água era armazenada em um tanque de pedras, iluminado por uma luz branca.
O ambiente era meio lusco fusco, com iluminação indireta, possibilitando ver, refletida nas paredes, luzes coloridas dos aparelhos que monitoravam os pacientes, que estavam na parte superior.
Eles recitavam mantras em uma oração budista, que não entendi.
O ambiente estava gelado. Senti um pouco de frio e me encolhi abraçando-me.
Pensei: Parece o Himalaia.
Fiquei receoso de presenciar a cerimônia, sem que estivesse autorizado.
Como ninguém reclamou continuei observando, quieto e curioso, por um bom tempo.
Quando terminou, finalmente, fui conduzido para o meu lugar na UTI.
Pensei: Aqui vou ser bem tratado. A cultura oriental preza pelo bom atendimento.
Ao chegar à minha cama, chamei uma enfermeira que passava próximo à minha cama. Como não podia falar, acenei com as mãos. Ela percebeu e veio até mim.
- Água – pedi para ela, movendo os lábios, mas sem voz.
- O que é que o senhor disse?
Resolvi fazer mímica. Fiz um movimento com a mão direita, imitando estar segurando um copo e depois virando-o na boca.
- O senhor quer água?
Respondi afirmativamente com a cabeça.
- Não, senhor José, o senhor não pode beber água. – disse a enfermeira.
- Sede – tentei falar, olhando para ela, para que pudesse ler meus lábios.
- Olha, vou pegar um copo de água para o senhor bochechar. Está bem?
Concordei com o dedão em riste.
Ela me trouxe dois copos. Um com a água e outro vazio.
- O senhor bebe um pouco, bochecha e depois devolve no copo vazio. Não pode engolir. Entendeu?
Confirmei com a cabeça.
- O senhor não pode engolir. Senão o senhor engasga. – insistiu a enfermeira. 
Agi como ela me recomendara.
Acabou a água do copo. Fiquei um pouco aliviado da sede.
Pouco tempo depois, senti novamente a boca seca. Passei minha língua no céu da boca e senti a textura da mucosa parecendo que estava trincada e grossa. A minha língua também parecia que estava trincada.
Pensei: Tanto tempo sem beber água, está tudo ressecado.
Continuava com sede. Tentei puxar saliva para a boca e engolir, mas havia pouca saliva. Minha boca estava muito ressecada.
Pensei: Sempre salivei bastante. Quando ia ao dentista ele até reclamava que eu salivava muito. Agora está seco. Preciso beber água.
Passou outra enfermeira e novamente fiz os acenos com as mãos para chamá-la. E esta também fez a mesma coisa, trouxe a água em dois copos e fez as mesmas recomendações.
Passou um tempo e novamente voltei a sentir sede.
Pensei: É isso ai. Descobri o caminho das pedras. Vou chamar a enfermeira e com isso re-hidrato minha boca.
Mas, dessa vez enfermeira que me atendeu disse:
 - Não, senhor José. O senhor está abusando. O senhor não pode beber água.
- Sede – falei sem voz, olhando para ela afim de que ela pudesse ler meus lábios.
Ela entendeu e disse:
- Senhor José, o senhor já bocejou bastante. Agora chega.
- Sede.
- Não. Já foi o suficiente. Mais tarde. Agora, não. Não pode.
 Fiquei aborrecido.
Pensei: Por que não posso beber água? Essa enfermeira é chata. Estou com sede. Ela fala isso porque não é ela quem está com sede. Chata!
Resolvi assistir televisão por um tempo e dormi.
Quando acordei, estava a meu lado um fisioterapeuta, muito forte, simpático, de nome Tiago, que me trouxe uma caixinha contendo uma válvula de cor roxa. Ele a colocou na minha garganta. Mal ele terminou de colocar a válvula, perguntou:
- Senhor José, vou fazer umas perguntas para ver como o senhor está, OK?
Respondi com um sinal de positivo com o dedo.
- O senhor me ouve bem?
- Sim. Normal. –respondi finalmente falando.
- O senhor está enxergando bem?
- Sim. Estou. Vejo tudo bem. – disse mexendo a cabeça para ambos os lados.
- O que o senhor está vendo? – perguntou ele, mostrando sua mão.
- A sua mão.
- O senhor sabe onde está? – perguntou Tiago.
- Sei.
- Onde?
Pensei: O que é que eu respondo agora? Sei que estou na cidade universitária da USP. Mas, sera que ele sabe disso? Minha mulher já me disse que estou no hospital em Moema. Acho melhor responder o que minha mulher disse. Sei la do porque ele esta fazendo todas essas perguntas. Vai que é para ver se estou bem de cabeça. Melhor eu dizer o que ele quer ouvir.
- estou no hospital Alvorada. Na UTI.
- O que o senhor está sentindo?
- Estou bem...Não sinto nada. Só estou cansado de ficar na cama.
- Sente alguma dor?
- Não... Dor?  Não. Quero ficar de pé.
- O senhor não pode ficar de pé. O senhor está muito fraco. O senhor não consegue ficar em pé. Se tentar o senhor cai.
Pense: Essa coisa de ficar muito tempo deitado é ruim. Posso pegar uma pneumonia e ate morrer. Preciso ficar em pé, sentado. Não posso continuar deitado.
Perguntei:
- Você poderia me arrumar uma poltrona? Eu vi uma por ai outro dia. Não aguento mais ficar deitado.
- Vou providenciar, sim. Boa idéia. O senhor ficaria sentado?
- Claro. É o que eu mais quero,
- Vou providenciar ainda hoje uma poltrona para o senhor ficar um pouco sentado. Faz bem mudar de posição.
- Obrigado.
- Que bom! O senhor está bem melhor. Agora é só recuperação e logo, logo, o senhor vai ter alta. 
- É o que eu mais quero.
- Bom, tenho que ir. Tenho outros pacientes para visitar. Até mais tarde.
- Tchau.
À tarde, colocaram uma poltrona ao lado da minha cama.
Tiago apareceu e me ajudou a levantar, segurando-me junto a seu corpo.
Pedi para ele me soltar para eu tentar ficar de pé.
Ele disse que eu não teria forças.
Mas, eu insisti e ele atendeu, afrouxando o abraço.
Naqueles poucos segundos que me senti solto pude constatar que não tinha forças para me sustentar. Minhas pernas não aguentavam o meu peso.
 Pensei: Como estou fraco. Não consigo ficar de pé.
Ele explicou que teria que fazer fisioterapia para voltar a andar, em razão de ter ficado muito tempo deitado, o que atrofiou meus músculos. Mas, que eu me recuperaria rapidamente.
Tiago foi quem em todos os dias seguintes, com exceção dos dias que estava de folga, até a minha saída da UTI, que pela manhã, me colocava sentado na poltrona,

                                      continua no próximo capitulo

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