Iniciava-se
o ano de 1986.
Nessa
época era sócio de uma pequena construtora e incorporadora.
Havíamos construído
alguns prédios de quatro andares na praia da Enseada, no Guarujá.
Queríamos
realizar uma nova incorporação, mas estávamos pessimistas.
Os
negócios fluíam em ritmo muito lento.
Já vinha
nesse ritmo há anos.
Tanto é
que em 1984 resolvemos diversificar nossas atividades entrando no ramo da
gastronomia.
Construímos
uma pizzaria, no bairro de Moema, que foi um sucesso de publico.
Em seguida,
em 1985, adquirimos um outro restaurante, nos Jardins, que atendia almoço
executivo.
Outro
sucesso de publico.
A inflação
estava alta, mas o negocio de alimentação não se ressentia tanto.
Afinal,
as pessoas comem com ou sem crise.
Jose
Sarney, que assumira a presidência da Republica em decorrência da morte de Tancredo
Neves, lança o Plano Cruzado.
Os negócios
deram uma guinada e aceleraram o ritmo.
A economia soltou as amarras.
O mercado
imobiliário agitou-se.
As
pessoas começaram a procurar imóveis para comprar.
Imediatamente,
vislumbramos uma oportunidade de deslanchar nosso negocio imobiliário.
Resolvemos,
então, nos desfazer dos negócios gastronômicos e focar na construção de prédios.
Tínhamos um
terreno de estoque na Vila Mascote, em São Paulo.
Rapidamente,
realizamos o lançamento imobiliário, vendendo as unidades em curto espaço de
tempo.
Enquanto
isso, procurávamos outro terreno para um lançamento de prédio no Guarujá.
Foi
quando encontramos um terreno com uma casa velha, que um casal desejava vender.
Eles nos
contaram que pretendiam vender sua casa e comprar outra, mais nova e mais próxima
da praia.
Informaram-nos
que já haviam encontrado a casa para adquirir.
E que estavam
até em negociação avançada com o proprietário.
Mas, dependiam dos recursos com a venda da sua casa para fechar a compra.
Mas, dependiam dos recursos com a venda da sua casa para fechar a compra.
Diante
dessa situação redonda, fechamos o negócio rapidamente.
Como a
operação era casada, pois efetuaríamos a quitação do valor ajustado ao mesmo
tempo em que o casal faria o mesmo com os outros vendedores, marcamos a
lavratura das escrituras no Cartório de Registro no mesmo dia.
Afim de
que fossem obtidos os documentos legais de ambos os vendedores tivemos que
aguardar alguns dias.
Dois ou três dias antes da data marcada para a lavratura da escritura, o vendedor da casa, que o
casal pretendia comprar, telefonou a eles avisando que sua esposa não poderia
comparecer ao evento.
Como
moravam no interior de São Paulo e sua esposa estava acamada, por estar muito doente,
não seria possível o deslocamento e comparecimento dela.
Mas,
disse ele, que estaria de posse de uma procuração publica dela, se concordassem.
O casal achou
estranho.
Pediram
um tempo para analisar a questão.
Sabedores de que nós tínhamos pressa na aquisição, o casal ponderou que poderíamos encontrar outro terreno.
Se isso acontecesse eles acabariam perdendo aquela oportunidade tão desejada de mudar para uma casa melhor.
Chegaram a conclusão de que se não concordassem com o pleito, o negocio teria que ser adiado para vai saber quando.
Comunicaram, então, ao vendedor que não se opunham que ele comparecesse à lavratura da escritura
munido de uma procuração publica da esposa.
Mas, a
senhora do casal ficou preocupada com a saúde da outra senhora vendedora.
Afinal,
ela também como esposa, colocou-se na posição da outra.
Ficou imaginando
quanto aflita estaria aquela senhora em vender sua casa e não conhecer quem a
compraria.
Essa ideia ficou latejando em sua cabeça.
Na noite
anterior a lavratura da escritura decidiu telefonar para ela e perguntar como
estava.
Ao fazer
a ligação telefônica, do outro lado, atendeu um parente.
Ao
perguntar como estava o estado de saúde da senhora que vendia a casa obteve
como resposta:
- Ela
esta morta.
Abalada
com a noticia ficou sem saber o que falar.
Ficou imaginando mil coisas.
O que
teria acontecido que a doença se agravara a tal ponto que a senhora faleceu
assim, de repente.
Ficou
preocupada com o viúvo.
Como ele
deveria estar se sentindo.
Deveria estar sofrendo duplamente.
Vendia a
casa e perdia a esposa.
Mas,
ainda assim, conseguiu transmitir votos de condolências.
Para seu espanto
ouviu como resposta:
- A
senhora já faleceu há anos!
Ai ela se
espantou de vez.
Ficou perplexa e muda.
Imaginou outras
mil coisas.
Não
conseguia entender como o marido estava vendendo a casa alegando que a mulher
estava doente.
Talvez
porque estando sua esposa morta e não ter sido regularizado essa situação no
Registro de Imóveis, ele quis usar desse expediente.
Mas,
estava agindo de forma incorreta.
Agora,
com essa descoberta, o negocio poderia ate não mais se concretizar.
No mínimo,
teria que ser regularizado tudo para só depois passar a escritura.
Ela não
aceitaria pactuar com um negocio mal feito.
Muita
abalada recompôs-se.
Desculpou-se
por não saber do fato e pediu para conversar com o viúvo.
Este
atendeu a ligação, estranhando o telefonema.
Ela, então,
disse que lamentava os fatos que tomara conhecimento e que diante disso estava suspensa a lavratura da
escritura no dia seguinte.
Nova
surpresa.
Este respondeu
que não estava vendendo sua casa no Guarujá.
Nem a havia
colocado a venda.
E quis
saber exatamente o que estavam fazendo em seu nome.
Chocada
ela contou tudo.
Ao final,
ela viu seu sonho se desintegrar.
Em
seguida nos telefonou e contou os fatos.
E disse
que manteria a venda conosco.
Afinal,
palavra dada é palavra empenhada.
E concluiu dizendo que, depois, com tranqüilidade, escolheriam outra casa.
Talvez até
melhor que aquela que não mais poderiam comprar.
Afinal, com
dinheiro na mão, tudo fica mais fácil para fazer um bom negócio.
No dia
seguinte, à tarde, ao chegar ao cartório, o casal avisou ao escrivão que não faria a outra
escritura.
Ele já sabia.
O
verdadeiro dono já havia avisado e solicitara a presença da policia.
Que
estava no cartório.
Os
policias estavam a paisana, aguardando o momento certo para prender o estelionatário.
Logo em
seguida o falso vendedor chegou.
Todo sorridente e amável.
Para caracterizar
o crime, o protocolo de lavratura foi mantido ate o momento do pagamento, quando
os policiais entraram em cena e prenderam o sujeito, levando-o algemado para a delegacia.
Em
seguida, com o ambiente conturbado, conseguimos lavrar a nossa escritura.
Ainda
ficamos algum tempo conversando e tomando conhecimento dos detalhes de tudo o
que havia acontecido.
Foi
quando, para surpresa geral, veio a noticia que o estelionatário já estava
solto.
Este é o
pais da impunidade!
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