segunda-feira, 20 de abril de 2015

Este é o pais da impunidade! E não é de hoje!

Iniciava-se o ano de 1986.
Nessa época era sócio de uma pequena construtora e incorporadora.
Havíamos construído alguns prédios de quatro andares na praia da Enseada, no Guarujá.
Queríamos realizar uma nova incorporação, mas estávamos pessimistas.
Os negócios fluíam em ritmo muito lento.
Já vinha nesse ritmo há anos.
Tanto é que em 1984 resolvemos diversificar nossas atividades entrando no ramo da gastronomia.
Construímos uma pizzaria, no bairro de Moema, que foi um sucesso de publico.
Em seguida, em 1985, adquirimos um outro restaurante, nos Jardins, que atendia almoço executivo.
Outro sucesso de publico.
A inflação estava alta, mas o negocio de alimentação não se ressentia tanto.
Afinal, as pessoas comem com ou sem crise.
Jose Sarney, que assumira a presidência da Republica em decorrência da morte de Tancredo Neves, lança o Plano Cruzado.
Os negócios deram uma guinada e aceleraram o ritmo.
A economia soltou as amarras.
O mercado imobiliário agitou-se.
As pessoas começaram a procurar imóveis para comprar.
Imediatamente, vislumbramos uma oportunidade de deslanchar nosso negocio imobiliário.
Resolvemos, então, nos desfazer dos negócios gastronômicos e focar na construção de prédios.
Tínhamos um terreno de estoque na Vila Mascote, em São Paulo.
Rapidamente, realizamos o lançamento imobiliário, vendendo as unidades em curto espaço de tempo.
Enquanto isso, procurávamos outro terreno para um lançamento de prédio no Guarujá.
Foi quando encontramos um terreno com uma casa velha, que um casal desejava vender.
Eles nos contaram que pretendiam vender sua casa e comprar outra, mais nova e mais próxima da praia.
Informaram-nos que já haviam encontrado a casa para adquirir.
E que estavam até em negociação avançada com o proprietário.
Mas, dependiam dos recursos com a venda da sua casa para fechar a compra.
Diante dessa situação redonda, fechamos o negócio rapidamente.
Como a operação era casada, pois efetuaríamos a quitação do valor ajustado ao mesmo tempo em que o casal faria o mesmo com os outros vendedores, marcamos a lavratura das escrituras no Cartório de Registro no mesmo dia.
Afim de que fossem obtidos os documentos legais de ambos os vendedores tivemos que aguardar alguns dias.
Dois ou três dias antes da data marcada para a lavratura da escritura, o vendedor da casa, que o casal pretendia comprar, telefonou a eles avisando que sua esposa não poderia comparecer ao evento.
Como moravam no interior de São Paulo e sua esposa estava acamada, por estar muito doente, não seria possível o deslocamento e comparecimento dela.
Mas, disse ele, que estaria de posse de uma procuração publica dela, se concordassem.
O casal achou estranho.
Pediram um tempo para analisar a questão.
Sabedores de que nós tínhamos pressa na aquisição, o casal ponderou qupoderíamos encontrar outro terreno.
Se isso acontecesse eles acabariam perdendo aquela oportunidade tão desejada de mudar para uma casa melhor.
Chegaram a conclusão de que se não concordassem com o pleito, o negocio teria que ser adiado para vai saber quando.
Comunicaram, então, ao vendedor que não se opunham que ele comparecesse à lavratura da escritura munido de uma procuração publica da esposa.
Mas, a senhora do casal ficou preocupada com a saúde da outra senhora vendedora.
Afinal, ela também como esposa, colocou-se na posição da outra.
Ficou imaginando quanto aflita estaria aquela senhora em vender sua casa e não conhecer quem a compraria.
Essa ideia ficou latejando em sua cabeça.
Na noite anterior a lavratura da escritura decidiu telefonar para ela e perguntar como estava.
Ao fazer a ligação telefônica, do outro lado, atendeu um parente.
Ao perguntar como estava o estado de saúde da senhora que vendia a casa obteve como resposta:
- Ela esta morta.
Abalada com a noticia ficou sem saber o que falar.
Ficou imaginando mil coisas.       
O que teria acontecido que a doença se agravara a tal ponto que a senhora faleceu assim, de repente.
Ficou preocupada com o viúvo.
Como ele deveria estar se sentindo.
Deveria estar sofrendo duplamente.
Vendia a casa e perdia a esposa.
Mas, ainda assim, conseguiu transmitir votos de condolências.
Para seu espanto ouviu como resposta:
- A senhora já faleceu há anos!
Ai ela se espantou de vez.
Ficou perplexa e muda.
Imaginou outras mil coisas.
Não conseguia entender como o marido estava vendendo a casa alegando que a mulher estava doente.
Talvez porque estando sua esposa morta e não ter sido regularizado essa situação no Registro de Imóveis, ele quis usar desse expediente.
Mas, estava agindo de forma incorreta.
Agora, com essa descoberta, o negocio poderia ate não mais se concretizar.
No mínimo, teria que ser regularizado tudo para só depois passar a escritura.
Ela não aceitaria pactuar com um negocio mal feito.
Muita abalada recompôs-se.
Desculpou-se por não saber do fato e pediu para conversar com o viúvo.
Este atendeu a ligação, estranhando o telefonema.
Ela, então, disse que lamentava os fatos que tomara conhecimento e que diante disso estava suspensa a lavratura da escritura no dia seguinte.
Nova surpresa.
Este respondeu que não estava vendendo sua casa no Guarujá.
Nem a havia colocado a venda.
E quis saber exatamente o que estavam fazendo em seu nome.
Chocada ela contou tudo.
Ao final, ela viu seu sonho se desintegrar.
Em seguida nos telefonou e contou os fatos.
E disse que manteria a venda conosco.
Afinal, palavra dada é palavra empenhada.
concluiu dizendo que, depois, com tranqüilidade, escolheriam outra casa.
Talvez até melhor que aquela que não mais poderiam comprar.
Afinal, com dinheiro na mão, tudo fica mais fácil para fazer um bom negócio.
No dia seguinte, à tarde, ao chegar ao cartório, o casal avisou ao escrivão que não faria a outra escritura.
Ele já sabia.
O verdadeiro dono já havia avisado e solicitara a presença da policia.
Que estava no cartório.
Os policias estavam a paisana, aguardando o momento certo para prender o estelionatário.
Logo em seguida o falso vendedor chegou.
Todo sorridente e amável.
Para caracterizar o crime, o protocolo de lavratura foi mantido ate o momento do pagamento, quando os policiais entraram em cena e prenderam o sujeito, levando-o algemado para a delegacia.
Em seguida, com o ambiente conturbado, conseguimos lavrar a nossa escritura.
Ainda ficamos algum tempo conversando e tomando conhecimento dos detalhes de tudo o que havia acontecido.
Foi quando, para surpresa geral, veio a noticia que o estelionatário já estava solto.
Este é o pais da impunidade!


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