sábado, 21 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo VIII

Capitulo VIII – A justiça chega a UTI

Alguma enfermeira me disse, mais tarde, que minha mulher e filhos, meu irmão vieram me visitar e eu estava dormindo.
Era final de tarde, quando apareceu uma procuradora de estado e começou a falar com com a Dra. Kátia, a médica chefe da UTI.
Elas sentaram-se na mesa em frente a minha cama, de costas para mim.
Enquanto elas falavam, apareceu um outro médico, com uma barba curta, grisalha, óculos de grau, sério, calmo. Sentou-se entre a procuradora e a Dra. Kátia. Não falava nada. Só escutava. Como eles estavam próximos a mim, fiquei mais atento para ouvir a conversa.  
- Vim retirar da UTI o senhor José Geraldo. – disse a procuradora.
Pensei: Sou eu. Caramba! Finalmente! Agora saio dessa tortura.
- Não! Ele não pode sair. Ele tem convulsão, está com infecção hospitalar, pneumonia... Está perturbado mentalmente. – disse a Dra. Kátia.
Pensei: Não é verdade. Estou bem.
A Dra. Katia continuou falando uma série de coisas, que não eu entendia muito bem. Olhava para mim, como que confirmando que era de mim que ela falava. Pelo jeito que ela falava, percebi que ela traçava um quadro negativo sobre meu estado de saúde.
Pensei: Ela está mentindo. Está inventando coisas para eu não sair.
Quando ela percebeu que eu estava ouvindo a conversa, virou-se para mim, com um sorriso falso e disse:
- Logo, logo o senhor estará bem e poderá sair, não é mesmo, senhor José Geraldo?
A procuradora olhou para mim e perguntou:
- O senhor está bem?
Respondi com o dedão em riste, com um sinal de positivo.
E a procuradora, calmamente insistia que queria me remover da UTI.
O médico, que me acreditei ser chefe da Dra. Kátia, ponderou sobre minha saúde e recebia como resposta da procuradora que ela queria me levar. Pareceu-me a procuradora que queria me levar.  minha cama que ele já estava concordando com a minha remoção.
Pensei: Vai, procuradora, vai. Continua insistindo para eu sair daqui.
Mas, a Dra.Kátia insistia que eu não poderia ser removido, sob risco de morte iminente.
Eu olhava para a procuradora e implorava pelos olhos, sem pestanejar, com o pensamento concentrado na intenção de que ela olhasse para mim. Ela finalmente olhou.
Eu mexia a cabeça negando tudo que a médica falava, mas com medo que a Dra. Kátia percebesse.
Pensei: Mas que mulher chata.  Porque  ela quer me segurar aqui com tanta firmeza?
A procuradora, então, revelou que houve uma denuncia de que havia mortes inexplicáveis no hospital e que para evitar mais mortes ela estava lá para remover todos os pacientes para outros hospitais. Completou que havia prioridade da minha remoção.
Pensei: Agora complicou. Se eu não sair, a coisa vai ficar pior para mim. Agora a procuradora precisa me tirar daqui de qualquer jeito. Já.
 Mas, a médica não parava de falar contra a minha remoção. Aquela situação angustiante estava me deixando aflito. A médica negava e a procuradora insistia. Foi nesse momento que a médica propôs um acordo. Aceitava remover os pacientes que estivessem em melhor estado, mas eu ficaria.
Pensei: Não é possível. Eu estou bem. Porque é que essa mulher tanto quer que eu fique aqui?
A Dra. Kátia percebeu que eu estava muito agoniado e falou dirigindo-se para mim, sorrindo:
- Fique tranqüilo senhor José Geraldo. Nós vamos tratar do senhor direitinho. Logo, logo o senhor vai poder ir para sua casa, para sua família.
Deu uma pausa e continuou:
- A única coisa que não está certo, não é senhor José Geraldo? É mandar chamar a procuradoria. Não precisava, não é? Está tudo certinho aqui, não está?
A procuradora então disse que queria falar comigo.
Levantou-se e veio em minha direção. Pegou na minha mão e perguntou:
- E ai senhor José, como o senhor está?
- É tudo mentira, doutora. Estou muito bem. A Doutora Kátia quer me segurar aqui, não sei porque....
Olhei para os lados, para certificar-me que ninguém ouviria e disse baixinho para evitar que a médica ouvisse.
– Aqui é muito perigoso!
Mas, ela ouviu.
Pensei: Que ouvido essa mulher tem!
E ela disse para a procuradora:
- Não falei? Ele está muito doente. Tem alucinações constantes. Ele repete isso para todo mundo que vem aqui. São os remédios. São muito fortes. A senhora não viu nada. Ele tem convulsões. Ele não pode ser removido. Ele é um paciente que a gente trata muito bem, não é senhor José? Dá um trabalho...
Fiquei quieto. Movi a cabeça negativamente para a procuradora ver. Ela viu e deu um sorriso para mim.
- Eu não quero ser responsabilizada pela morte dele, não. A senhora decide. É a vida dele que está em risco. Depois ele morre, quero ver quem se responsabiliza – completou a médica.
Pensei: Não é possível. Ela não pode vencer essa parada.
Ela continuava argumentando muito contra a minha saída. Mas, quando ela achava que a procuradora ia desistir, a procuradora, com muita calma, insistia na minha remoção.
Pensei: É isso ai, procuradora. Vamos em frente que a senhora consegue.
Finalmente, a Dra. Kátia voltou a propor a remoção de todos os pacientes. Disse que a remoção se iniciaria a partir daquele momento e assim seria todos os dias, até a saída de todos. Eu só sairia quando melhorasse. Ela afirmou que se empenharia para que a minha melhora fosse rápida.
A procuradora cedeu.
Pensei: Não procuradora. Não aceite. Eles vão me matar!
A Dra. Kátia chamou a Saschia, a enfermeira chefe do plantão. Determinou que começassem imediatamente preparar os pacientes que estivessem em condições de serem removidos.
Saschia ponderou que era tarde da noite e que não seria convenconveiente tarde da noite e que iente fazer a remoção naquele momento, mas que deixaria tudo preparado para remover na manhã do dia seguinte.
A procuradora concordou, virou-se para mim, antes de sair e disse:
- Fique tranquilo, senhor Jose. Nós vamos acompanhar seu caso até o senhor ser removido. Agora está muito tarde, realmente. E eu preciso ir embora. Amanhã estarei de volta.
Pensei: Tudo bem, a senhora vai me ajudar. Mas agora a senhora vai embora. Quem vai me vigiar de noite? Quando a senhora sair, fico na mão deles!
Não teve jeito. Ela se foi.
O médico barbudinho falou para a Dra. Kátia:
- Você argumenta bem! Conseguiu convencer a procuradora que o rapaz ai está numa pior.
Ela respondeu:
- Meu filho, eu sou médica, sou advogada. Aqui tenho que ser tudo. Não é fácil, não. Essa procuradorinha pensa que pode comigo? Comigo, não. E não vai sair ninguém daqui. O que é que ela está pensando? Quem manda aqui sou eu.
E saíram andando para fora da UTI.
Olhei para o lado e percebi que o italiano se mexeu na cama.
Pensei: Caramba! Ele resistiu.
Chamei o italiano. Perguntei como estava. Ele respondeu que estava bem, que não era fácil mata-lo e falou:
- Pelo jeito os caras vão te segurar por aqui. Que nem eu. Não sei por que não me dão alta. Estou bem.
Concordei e dormi.
Quando acordei a procuradora acabara de chegar. A Dra. Kátia não estava. Havia uma agitação para selecionar quais pacientes seriam removidos. Finalmente, foram escolhidos dois pacientes, que Saschia dizia estarem em melhor estado para remoção. Alguns enfermeiros começaram a arrumá-los. Eles faziam uma higienização nos pacientes, trocavam as fraldas substituíam a roupa de cama.
Recebi a visita da minha mulher.
- Olha lá a procuradora. – disse, segundo relato da minha mulher, com os olhos esbugalhados, levantando a cabeça e olhando para os lados.
- Não, Ge, são os enfermeiros que cuidam de voce.- respondeu Cris.
- Olha. Olha, lá. –disse apontando para a procuradora.
Minha mulher fez que concordou. Ficou um tempo e depois foi embora.
Enquanto isso a procuradora telefonava para alguns hospitais, que ela havia selecionado. Ouvi-a perguntando se havia vaga na UTI, para receber os pacientes que ela iria transferir. Mas, pela expressão que ela fazia, pareceu-me que estava tendo dificuldade em acomodá-los. Ela virou-se para Saschia e disse:
- Não tem vaga em nenhuma UTI dos hospitais conveniados. Está tudo cheio.
Saschia prontamente falou com a procuradora:
 - Pois é, doutora. Então? Não vamos transferir hoje?
- Não. Vamos tentar amanhã. – completou a procuradora.
- Quem sabe a senhora consegue, não é? – retrucou Saschia.
Virou-se para os enfermeiros e disse:
- Parem tudo. Ninguém vai ser transferido hoje.
A procuradora fez uma cara de desanimo e disse que ia tomar um café. Mas, não a vi voltar mais naquele dia.


                                      continua no próximo capitulo

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