Capitulo VI - Ainda sob tensão
Minha mulher retornou à tarde.
- E ai, trouxe o dinheiro? –
perguntei ansioso.
- Você não conversou com o Luis?
- Ele não entende nada. –
retruquei.
- Ele é seu irmão. Quer seu bem,
Ge.
- Ele não sabe o que esta
acontecendo. – disse irritado.
- Você está muito agitado. Você
precisa se acalmar. Aqui está todo mundo torcendo por você. Seus amigos lá fora
ligam, perguntam por você. Você é muito querido por todos.
- Trouxe ou não trouxe?
- Eu trouxe uma caixa de bombom.
Você vai dando um bombom para cada um que vier te atender. Assim você agrada a
todos. Cada vez que acabar eu trago outra.
E colocou a caixa aberta em um
criado mudo alto, do meu lado esquerdo.
- Você não entende... Que bombom! – retruquei.
- É para você dar para os
enfermeiros. – insistiu minha mulher.
. Tem gente ruim aqui. –disse.
- Como assim? – perguntou minha
mulher.
Lembrei da minha cunhada, Marilu . Foi casada com meu irmão Luis. Ela é
procuradora do Ministério Publico Federal. É muito dedicada, em seu trabalho.
Pensei: Ela é a pessoa certa
para resolver este caso. Ela vai me ajudar.
Falei baixinho, para ninguém
ouvir além da minha esposa.
- Chama a Marilu .
- A Marilu ?
- Sim, a Marilu .
- Para que? – perguntou em voz
alta minha mulher.
- Fala baixo...
Olhei para os lados para certificar-me
que não havia ninguém nos vendo e continuei a falar com voz baixa:
- Para investigar.
- Para investigar o que? –
perguntou Cris.
- Ela vai descobrir.
- O que está acontecendo? –
perguntou minha mulher, intrigada e sem entender o que eu tentava dizer.
- Cris, chama a Marilu .
- E seu irmão? Ele também é
procurador.
- Não. Chama a Marilu . – sentenciei.
Minha mulher tentou continuar
conversando comigo, querendo saber do por que a Marilu ,
mas novamente senti sono e dormi.
No dia seguinte, acordei e dou
de cara com o enfermeiro que havia me pedido dinheiro.
Pensei: E agora? O que digo para
ele? A minha mulher não trouxe o dinheiro ontem a tarde. Pelo menos eu não vi.
O meu irmão não me entende. Não vão trazer o dinheiro e ele vai me matar.
- Bom dia, como passou a noite?
– perguntou sorridente o enfermeiro.
- Bem.
Antes que ele falasse alguma
outra coisa me adiantei e fui falando:
- A minha mulher entregou para você?
– perguntei com um sorriso amarelo.
- Para mim?... Não! – respondeu
o enfermeiro, mexendo negativamente a cabeça.
- Não? – perguntei com cara de
espanto.
- Será que ela entregou para
outro? – disse indignado.
- Não sei, eu não recebi nada. –
respondeu o enfermeiro desapontado
- Ela me prometeu....
- Eu não recebi nada.
- Eu não posso pedir de novo.
- Deixa para lá. O negócio deu
uma parada.
- Como assim? – quis saber
curioso.
- Morreu muita gente. A imprensa
está falando que tem muita gente morrendo aqui no hospital. Olha lá na
televisão. Os caras exageraram...
Pensei: É a ganância... Excedem
os limites sempre.
- É... Vamos dar um tempo, até
as coisa melhorarem. Enquanto isso, você vai sobrevivendo... – disse ele com um
sorriso sarcástico.
- Pega um bombom. – falei
sorrindo.
- Obrigado. Só vou pegar um.
- Pode pegar mais. É para vocês
mesmo.
Pensei: Que alivio! Pelo menos
por um tempo a coisa vai acalmar.
Olhei para a televisão e vi que
noticiavam que havia um surto de infecção hospitalar e pneumonia em muitos hospitais.
Inclusive no que estava. E que muita gente havia morrido em decorrência disso. E
que fora aberto uma investigação para se apurar as causas.
Pensei: Eles matam e depois vem
com essa conversa de infecção hospitalar. Ainda bem que não peguei.
Mal sabia eu que estava lá todo
esse tempo porque havia contraído infecção hospitalar e pneumonia e ficara
entubado por bom tempo.
Dormi.
Quando acordei, quem eu vejo na
minha frente? O Claudio, aquele enfermeiro negro que estava junto com um outro
que tentou me matar uns dias atrás e que eu pedi para o diretor tira-los da
UTI. E que foram demitidos.
Fiquei assustado.
Pensei: Preciso fazer alguma
coisa. Rápido. Senão ele me mata. Deve estar muito irritado comigo.
Procurando me acalmar, disse:
- Quero me desculpar.
- Desculpar de que, homem? –
disse ele.
- Não... aquele dia... Não sei o
que fiz... os remédios.
Ele respondeu:
- Aconteceu o que?
- Você não foi embora? –
perguntei intrigado.
- Não. Continuo trabalhando aqui
normalmente.
- É que você sumiu...
- Ah! Deixa eu te explicar. A
gente aqui trabalha em jornada de 12 por 36. Foi minha folga.
- Como assim?
- A gente trabalha 12 horas e
descansa 36 horas.
Pensei: Caramba! Ele está agindo
como se nada tivesse acontecido. Será que ele não foi mesmo demitido, como
dissera aquele enfermeiro? Ou será que o
diretor deu uma dura nele e agora ele está quietinho para não ser demitido? Vou
entrar no jogo dele.
- E voce como está? Tudo bem? –
perguntou Claudio.
- Tudo bem. – disse sorrindo.
Pensei: Que cara! Esqueceu tudo
e age como se nada tivesse acontecido.
- Você é engenheiro, não é? – perguntou-me
- Sou.
- Eu tenho um terreninho no Rio
de Janeiro. Eu sou carioca, sabe. E quero construir uma casinha lá no Rio. Para
o meu futuro. Você faria o projeto para mim?
- Claro. – respondi com
entusiasmo.
- Olha, eu rabisquei alguma
coisa, mas eu não sou engenheiro. – disse ele sorrindo. - Se eu trouxer esse
rascunho, você desenha para mim, bonitinho?
- Sim... Agora não dá.
- Eu sei.
- Então...Quando eu sair, vou
fazer um belo projeto de uma casa para você. No Rio, não é?
Por incrível que pareça, ficamos
amigões.
Aproveitei para reclamar da
minha cama. Estava insatisfeito com ela, pois era de um modelo mais antigo. Eu
observara que havia modelos de cama mais novos na UTI. Eu queria trocar de
cama.
Ele disse:
- Não se preocupe. Vou dar um
jeito de trocar sua cama. Rapidinho.
- Mas, tem uma senhora do meu
lado direito, que também quer e não foi atendida.
Essa tal senhora, outro dia, fez
um escândalo. Disse que era amiga do Dr. Fernando Mauro Filho, um dos donos da
Medial. E exigia uma cama melhor.
- Deixa ela esperar. A primeira cama
que eu arrumar é sua. Você vai desenhar a minha casa no Rio, não vai? E eu vou
arrumar uma cama melhor para você.
Pensei: Como é a vida. Ele
queria me matar e agora virou meu amigão. Só porque vou projetar uma casa para
ele.
O Claudio já estava indo embora,
quando apareceu uma cama novinha na entrada da UTI. O rapaz que a trouxe disse
que era para a senhora que reclamara.
Imediatamente Claudio retornou,
pegou a cama e veio em minha direção com ela.
A senhora que queria a cama
estava atenta e gritou:
- Essa cama é minha! Pago uma
fortuna de convenio médico e exijo uma cama melhor.
- Claudio, essa cama é dela. – ponderei.
- Nada disso. Essa cama é sua.
Eu decido.
E a senhora não parava de
reclamar.
Enquanto isso, o Claudio
preparava a cama, trocando os lençóis e ajeitando para me mudar de cama.
- Claudio, dá pra ela. Senão ela
não vai parar de reclamar.
- Não. Essa cama é sua e acabou.
Chamou a ajuda de um outro
enfermeiro me transferiu para a cama nova.
Ficou um alvoroço. Os
enfermeiros não queriam se intrometer na discussão. Até que a enfermeira chefe,
depois de fazer umas ligações telefônicas e falar com muita gente, conseguiu
uma nova cama para a senhora.
Logo em seguida apareceu um
rapaz na entrada da UTI, com a recomendação de que entregassem a cama para a
senhora, amiga do Dr. Fernando.
A enfermeira chefe pediu para o
Claudio preparar a cama e acomodar a senhora.
Claúdio mexia na cama. Arrumava.
Desarrumava. Ia para um lado. Ia para outro. E não concluía a arrumação.
- Claudio, leva a cama para a
senhora. – disse.
- Ela vai esperar. Até calar a
boca. – sussurrou olhando para mim, com cara séria.
- Por favor. Ela tem razão.
- Eu não vou trocar a cama dela
e pronto. Ela vai ter que esperar.
E saiu da UTI. Em seguida entrou. E
ficou nesse entra e sai, como se estivesse procurando alguma coisa.
Afobadamente. Numa dessas vindas, carregava nos braços uns lençóis. Colocou-os em um armário. Depois ,
saiu. Voltou, novamente, com um carrinho com dois andares, com mais lençóis e
toalhas. Tirou do carrinho, peça por peça. Arrumou em cima de uma mesa. Colocou
no armário. Tirou outras peças do armário e as colocou no carrinho. E saiu sem
trocar a cama para a senhora, dizendo que precisava preparar as coisas para a
hora do banho nos pacientes e troca de lençóis nas camas.
A cama ficou ali largada, no
meio da sala, com a arrumação inacabada.
Os outros enfermeiros só
olhavam. Continuavam fazendo suas obrigações, como se nada estivesse
acontecendo. Ninguém se mexia para concluir a arrumação e a troca de cama da
senhora, que não parava de reclamar.
Eu não agüentava mais ouvir as
reclamações da senhora. Ela tinha razão, mas estava ficando chata.
Dormi. Com um barulho desses. Eu
tinha muito sono.
Depois fiquei sabendo que minha
mulher reclamara do estado sujo da minha cama e exigira a troca da minha cama.
continua no próximo capitulo
continua no próximo capitulo
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