sábado, 28 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XV

Capitulo XV – Reviravolta nas negociações

Flavio estava sentado na cadeira da Dra. Kátia.
Virou-se para mim, girando na cadeira, com as pernas levantadas e disse:
- Zé a conta deu oitenta e cinco mil, quinhentos e trinta e quatro reais e setenta e dois centavos.
- Puxa!Tudo isso?...Olha, Flavio, até os centavos você cobra?
- Está bem, Zé.  Vou arredondar para você. São oitenta e seis mil.
- Hei! Espera ai. Você aumentou o valor.
- Você não pediu para arredondar?
- Sim! Mas, para baixo, meu.
- Eu só arredondo para cima.
Pensei: esse cara não é fácil...quer ganhar sempre.
- Flavio, escuta ai.  Isso é muito grana. Eu não tenho todo esse dinheiro. – disse.
- Roberto... Roberto, vem aqui. – chamou Flavio acenando para ele.
- Pois não, senhor Flávio.
- Roberto, teu pai não é o bam bam bam do Tribunal de Justiça? Desembargador, não é?
- Sim. Ele é desembargador e presidente do Tribunal.
- Então...Liga para ele... Pede para ele entrar na conta bancária do Zé.
- Sim, vou providenciar. E os dados dele?
- Pega ai no prontuário dele.
Pensei: Ai, ai, ai. O que é que esses caras vão aprontar?....Juiz entra na conta da gente “on line” e saca tudo. Isso eu sei. E presidente do Tribunal... vai fazer a festa.
Roberto entrou em uma sala, sentou-se em uma mesa.
Ouvi ele falar ao telefone:
- Oi pai, bom dia...Desculpe ligar cedo... Não, pai, esta tudo bem comigo.... Não, pai. Não aconteceu nada. Fica tranquilo, pai. Olha, so estou ligando porque surgiu um probleminha aqui...Não, pai, não é nada comigo. Fica tranqüilo...Então, pai,  é um probleminha aqui na empresa. Preciso de sua ajuda.  Coisa rápida.  Preciso que você consulte a conta bancária de um devedor aqui do Flavio...  É... O Flávio do Medial... Tem um cara que deve para ele e não quer pagar. Diz que não tem grana... É pai, devedor é tudo igual.  Alega sempre que não tem grana. Tudo pilantra....Pois é, pai  para não pagar alegam tudo... Então, pai, preciso que você entre na conta bancaria dele...Sim,.. é isso mesmo. Preciso que voce veja o saldo bancário dele.
Pensei: Esse cara vai descobrir quanto eu tenho no banco. Estou ferrado. Puta que te pariu! Esses caras são foda. Mafiosos!
Enquanto o Flávio acompanhava com Saschia o montante do meu débito no hospital, Roberto continuava consultando, pelo telefone, o pai dele.
Ouvi Roberto dizer:
- Como, pai?... Ele tem conta no exterior?
- Zé...escondendo o leite, não é? – falou Flávio rindo.
- Não! Eu não tenho conta no exterior coisíssima nenhuma. Se encontrar alguma coisa, pode pegar tudo.
Pensei: Eles estão malucos. Não tenho conta no exterior. Se eles acham que eu tenho então que peguem a de lá e deixem a daqui quieta.
Lembrei que Paulo Maluf, político, certa vez quando descobriram que ele tinha conta no exterior, afirmava que não tinha conta e falou a mesma coisa. Então repeti:
- Pode pegar tudo. Eu dou procuração.
Ri da coincidência de resposta, até porque no meu caso, realmente eu não tenho conta bancária no exterior.
Pensei: Será que eles trocaram o meu nome e estão entrando em conta de outra pessoa? So pode ser isso. Bem, melhor para mim. Não pegam meu dinheiro. Depois a outra pessoa resolve.
- Não, Roberto. Do exterior deixa quieto. Veja só aqui no Brasil. – falou Flávio. – Deixa a conta lá de fora para ele.
- Então, pai, bloqueia tudo.... Inventa que ele está com uma execução sumaríssima... Sim, pai, a gente prepara o documento... Está bem pai, a gente envia ainda agora pela manhã... Sim, pai,  a gente envia toda a documentação. Fica tranquilo... Obrigado, pai...bom dia pra você também - disse Roberto no telefone.   
Pensei: Agora perdi tudo. Mas, que enrascada que eu me meti. Os caras entraram na minha conta bancária. Bloquearam tudo. Como minha mulher vai pagar as contas de casa? Isso é uma injustiça. Deram poder para os juízes... agora eles estão super poderosos. Isso precisa acabar. Que loucura!
Estava inquieto. E preocupado. Precisava avisar minha mulher do bloqueio da conta.
Pensei: Vou tentar avisar minha mulher telefonando para minha casa, para ela tomar providencias junto ao meu irmão, meu tio Paulo, Marilu. Eles são da área e podem me ajudar.
- Flávio, eu preciso telefonar para minha mulher – disse.
- Para que?
- Para pedir o cartão.
- Não precisa. Dá o numero que a gente liga.
- É melhor eu falar...
- Que nada. Roberto, liga para casa do Zé.
- Como é que a tua esposa se chama, Zé?
- Cristina. – respondi.
- Então, Roberto, liga para a dona Cristina e avisa que o Zé vai mandar alguém ai na casa dele, para buscar o cartão de credito.
- E se ela perguntar do porque?
- Diz para ela que ele precisa pagar uma divida... Depois, manda alguém ir la na casa dele buscar o cartão.
- Quem eu mando?
- Roberto, manda a policia. Chama meus amigos lá na policia, meu.
Pensei: A coisa virou por completo... Estava me achando esperto, mas esses caras...São mais espertos ainda. Eles pensam em tudo. O que é que eu faço agora?
- Flávio, encontrei mais umas despesas, que não estavam contabilizadas. – disse Saschia.
- Zé a conta aumentou...
- Flávio, o que é que você quer que eu faça?
- Pague.
- Não é isso que vou fazer? Quanto agora deu a brincadeira?
- São mais dois mil e duzentos e cincoenta  reais. Do medicamento da semana, não é Saschia?
- Acrescenta na conta. – disse.
Vi os raios do sol entrando pela janela. A manhã chegou.
Eles não paravam de emitir contratos, de fazer contas. Parecia um escritório de negócios.
Pensei: Quando eles vão parar?
Enquanto isso ninguém era atendido pelos enfermeiros.
E  aquela máquina continuava imprimindo papéis e mais papéis.
De repente, escutei um barulho infernal de sirenes, vindo do andar térreo do hospital.
Pensei: Eles chegaram! A policia foi de manhã em minha casa. O que é que os vizinhos vão pensar?  E do jeito que o Flavio é amigo da cúpula da policia civil, eles mandaram a “Garra”. Deve ter sido um barulhão na minha rua.
Flávio e o Roberto sairam da UTI, para recepcionar os policiais.
Escutei mais barulhos de sirenes e brecadas, com os pneus cantando.
Como a televisão estava ligada, vi que havia um repórter dentro de um helicóptero de uma emissora de televisão, sobrevoando o hospital.
O reporter falava que havia muitos veículos da “Garra” e da “Rota”. Informava que havia uma disputa entre a policia civil e a militar em frente ao hospital.
Pensei: É coisa do Luis. A Cristina ou o Rodrigo devem ter ligado para a casa dele, quando a Garra chegou em casa. Ele trabalha junto ao comando da Policia Militar. Deve ter pedido para algum comandante, amigo dele, chamar a Rota. Agora vai neutralizar a força do Flávio. Empatou.
O barulho das sirenes não parava. Estava um alvoroço.
Pensei: Será que o Flávio não fica preocupado com toda essa bagunça bem na porta do hospital? Pega mal.
Passou-se uma meia hora e o Flávio retornou com meu cartão de crédito na mão dele.
 - A sua filha Michelle trouxe o cartão. – disse o Flávio, abanando o cartão.
- Ela está ai? – perguntei.
- Está.
- Quero falar com ela.
- Não! Agora não. Depois. Ela está em uma sala aguardando.
Flávio entregou meu cartão na mão da Saschia e disse:
- Saschia passa o cartão do Zé.
Pensei: Puta que pariu! Eles estão com meu cartão na mão. Atrás tem o código de segurança. Com esse código eles podem sacar quanto quiserem. Sem assinatura! Não era para minha filha entregar o cartão na mão deles. Que cagada que eu fiz. Devia ter dado o cheque. Pelo menos era o valor combinado. Agora com meu cartão dando sopa... eles vão fazer a festa.
Saschia me olhava com seus olhinhos azuis, com uma cara de ingênua, mas eu sabia que ela era pilantra. Fazia parte da gangue.
- Saschia, você já passou o cartão? – perguntei.
- Já.
- Quanto deu?
- Cento e vinte mil e pouco.
- Saschia, era bem menos...
- Fala com o Flávio, Zé. Não posso fazer nada. O valor é esse.
- Não! Era bem menos.
- É que eu descobri mais contas para você pagar.
- Saschia, como assim?  Que mais despesas você descobriu? Você já tinha fechado um valor. Era bem menor.
- O valor é esse, Zé. O cartão aceitou...eu passei...- concluiu ela.
Pensei: Que cambada de bandidos. Ladrões. Assassinos. Saindo daqui eu vou lutar para botar todos na cadeia. Ah!  Se vou. Custe o que custar.
Olhei para o canto direito e vi ao longe que havia uma salinha, que eu não tinha observado antes.
Olhei melhor e como a porta estava aberta, vi um vulto que parecia a minha filha Michelle, sentada, de costas para mim.
Pensei: Ela está lá. Aguardando eles devolverem meu cartão.
- Saschia, dá para voce devolver o meu cartão, por favor.
- Não posso, Zé. Isso é com o Flávio.
- Não... Sabe o que é? Minha filha está ali fora, esperando... – disse apontando para a salinha onde tinha visto minha filha.
- Zé, aguarda o Flávio voltar. Ai ele resolve tudo isso.- respondeu ela, que continuou fazendo o seu trabalho.
Uma enfermeira percebeu que eu estava olhando em direção da salinha onde estava minha filha. Rapidamente, ela fechou um pouco a cortina lateral da minha cama, impedindo que eu continuasse vendo.
- Deixa aberta, por favor – pedi.
- Não. Não pode. Tem que fechar. - respondeu a enfermeira, puxando a cortina ainda mais.
Pensei: Aqui todo mundo obedece ao Flávio. Que cambada. Ainda bem que agora vou sair daqui.
Tentei olhar para a salinha e vi tirarem da sala uma mulher desmaiada.
Pensei: Ai, ai, ai, ai. O Flávio vai estuprar a Michelle. E ela está grávida. Vai perder o bebe. O que eu é que eu faço?... Não. Isso não vai acontecer. Melhor nem pensar... Eu mato esse desgraçado. Eu mato...Não. Não, isso não vai acontecer. Pensamento positivo. Pensamento positivo.
- Saschia. Por favor, onde está minha filha? – perguntei assustado.
- Zé, não se preocupe. Está tudo bem.
- Não está não. Saschia, por favor, eu preciso falar com ela. Agora! Onde está o Flávio?
- Deu uma saidinha e já volta.
- Onde ele está?
- Como vou saber? Ele saiu e já volta.
- Não. Não. Chama o Flávio.
Estava desesperado.
- Senhor José. O senhor está muito agitado. Se o senhor não se comportar vou ser obrigada a amarrá-lo de novo. – sentenciou Saschia.
Pensei: Amarrar? Não. Não agüento. Vou ficar quieto.
Eu estava muito preocupado com minha filha. Não podia fazer nada. Tentei levantar da cama. Mas, não conseguia levantar. Bem que eu tentei.
Nisso vieram uns enfermeiros e me amarraram.
O telefone tocava sem parar. Um enfermeiro atendeu uma ligação e disse:
- Saschia é para você. Atende ao telefone. É da família do senhor José..estão querendo falar com o sócio dele.... Sócio? – perguntou o enfermeiro intrigado.
- Pode deixar que eu resolvo, obrigada.
- Alô! – atendeu Saschia. - Sim. É da importadora... Não, ele não está. Está viajando. Está na Europa... Não, eu não tenho outro telefone dele... O Senhor José? Sim, é sócio dele... Pelo que eu sei, ele deve sim....Esses detalhes não sei informar... Até logo. – conclui e desligou o telefone.
Pensei: Será que é a minha família no telefone? Deve ser. Eles devem estar querendo confirmar se sou sócio da importadora. É isso ai. Mas... Caramba. Ninguém desconfia que o mesmo numero do telefone da importadora é o da UTI?... Oooo gente que não pensa direito.  
Lembrei, então que fazia parte do acordo minha saída da UTI. Com toda aquela confusão havia me esquecido.
- Saschia, e a minha saída da UTI? – perguntei.
- Não, você não vai sair.
- Como assim? Lógico que vou sair. Fazia parte do acordo com o Flávio. – respondi nervoso.
- Voce não pode sair. Você ainda não está bem.
- Saschia, o Flávio prometeu. Eu pagava e eu saia.
- Senhor José, fique calmo. É para o seu bem. O senhor sabe que não está bem.
Pensei: Que filhos da puta! Pegaram minha grana e não me libertaram. Seqüestradores desgraçados!
Vi que Saschia mexeu em um dos refis no porta soro.
Pensei: Ela deve ter aumentado a dose de dormonid para me dopar. 
Dormi.

                                      continua no próximo capitulo

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