domingo, 29 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XVI

Capitulo XVI – Distensão

Quando acordei, vi o Flávio. Estava calmo, mas apreensivo.
- Zé. Que confusão é essa ai? O nosso negócio complicou. Tem um advogado ai querendo contestar a sua divida.
- Flavio, não sei de nada. Estou preso aqui dentro. Não sei de nada.
- Precisamos resolver nosso acordo.
- Depois a gente vê isso. Quero saber onde está minha filha?
- Fica frio. Está tudo bem com ela.
- Eu quero falar com ela.
- Espera ai, que já vai começar a visitação. Ela deve estar ai fora.  
Começou a visitação aos pacientes na UTI.
Havia um anão que recepcionava as pessoas. Muito simpático. Quando ele me via, perguntava como estava. Minha mulher dizia que ele a ajudava a quebrar as regras do hospital nas visitas. Deixava ela ficar mais tempo do permitido, após o término do horário de visita. Ele me perguntou:
- Posso mandar entrar sua visita?
- Sim. Por favor.
Meu irmão entrou sorrindo. Aproximou-se de mim, deu-me um beijo no rosto, sentou-se em uma cadeira ao meu lado e foi logo perguntando:
- Ge, que negócio maluco é esse que você fez? A tua mulher não esta sabendo de nada. Quem é esse seu sócio? A gente tentou ligar para falar com ele, mas não o achamos. Disseram que está viajando. Quem é esse cara? Onde voce conheceu esse cara, Ge?
- Lu, depois eu explico. Quero saber como está a Michelle?
- Ela está bem. Está ai fora com a tua mulher. Quando eu sair ela entra.
- A Michelle está bem mesmo?
- Lógico, Ge. Está ai fora, esperando para entrar e ver voce.
- Que alivio!
- Esta tudo bem, Ge. Fica calmo. Relaxa.
Fiquei mais calmo.
Pensei: Minha filha está bem. Escapou do maluco. Mas, quem era então a moça que estava naquela salinha? Tenho certeza que ele a estuprou. Coitada. Mais uma.
- Ge, conta para mim. O que é que aconteceu? Estou com um advogado ai para cancelar tudo.
- E o banco?
- A gente vai conseguir uma liminar ainda hoje. Tem um advogado cuidando do caso. Vamos desbloquear a tua conta bancária. Mas, na justiça, continua a cobrança. A justiça é assim, demorada. Para você é até bom. Dá tempo de você se recuperar e ter tempo para se defender. O importante é a gente conseguir desbloquear a tua conta bancária. Depois a gente resolve tudo.
- Está certo, Lu. Obrigado.
- Ge, conta para mim. Que negócio maluco é esse que você se meteu, cara? Perder a grana que você perdeu. Não é fácil. Você sempre foi bom de negócio. O que é que aconteceu? Explica direitinho.
- Não tem explicação. Fui vitima de extorsão aqui dentro.
- Como assim, Ge. Conta isso para mim.
- Está vendo aquele cara ali.
- Aquele enfermeiro?
. Sim.
- É o Paulo armadura.
- Lembro dele. É o irmão do Fernandinho, não é?
- É.
- Oi.. Paulo.. – chamou Luis, levantando-se da cadeira.
Flávio estava conversando e não ouviu.
Segurei o braço de meu irmão e pedi:
- Não! Não chame ele. Por favor.
- Ele pode nos ajudar. É irmão do Fernandinho, nosso amigo, Ge. Deixa eu falar com ele. O Paulo armadura... Quanto tempo!
- Não. Ele está no rolo.
- Como assim?
- Depois eu explico, Lu. Não fale nada com ele. Ele está no rolo.
- Ge, fica tranqüilo. Pode ser quem for.  A gente entra na justiça e tudo vai ser resolvido. A Michelle tem vinte anos. É menor de vinte e um. Portanto ela é inimputável. Vamos usar isso como argumento. Está na lei.
Naquele momento nem lembrei que minha filha tinha trinta e dois anos e não vinte.  Também não lembrei que acabou a maioridade com vinte e um anos, como existia na lei anterior.  Também nem quis entender o que ela tinha a ver com a estória, pois o cartão era meu.
- Fique tranqüilo, Ge, que tudo vai ser resolvido. – disse meu irmão, querendo me acalmar.
- E a Cris?
- Está ai fora. Ela já vai entrar com a Michelle. Deixa eu sair para elas poderem entrar.
 Meu irmão levantou-se e saiu andando. Em seguida minha mulher entrou junto com minha filha Michelle. Estavam alegres.
- Chel, tudo bem com você? – perguntei eufórico.
- Sim, pai.
- Que confusão. O que foi que aconteceu?
- Nada. Está tudo bem, pai. Fique tranqüilo. Está tudo bem.
- É Ge. Não se preocupe com nada. Deixa que a gente está fazendo tudo certinho.
Pensei: O que importa é que a Michele está bem. Que alivio.
Enquanto olhava para ela para examinar se estava mesmo tudo bem, me lembrei do cartão de crédito.
- Cris.
- Fala, Ge.
- Cuidado... Tem câmera.
- Não, Ge. Imagina. Não tem câmera nenhuma.
- Está escondida.
- Mãe, deixa ele falar. – disse Michelle
Peguei uma folha e coloquei em frente da minha boca, para que se fosse filmado eles não conseguissem ler meu lábio, enquanto falava.
- Cancela... o cartão.
- O que? Eu não entendi.
- Cancela o cartão. – disse irritado.
- Por quê? – perguntou Cris, que não entendia.
- Mãe, não discute. – falou Michelle
Pensei: Não é possível. Ela se esqueceu que pegaram meu cartão de crédito? Ela precisa cancelar o cartão urgente. Se ela não cancelar eles vão fazer a festa com meu cartão.
- Cancela o cartão.
Olhei para os lados e vi um dos enfermeiros capangas olhando para mim e sinalizando para eu tirar o papel de frente dos meus lábios. Como já tinha falado o que quis, tirei o papel.
- Está bem, pai. Amanhã a mamãe cuida disso. Agora, fala de você. Como você está? O que é que você está sentindo?
- Estou bem. – disse piscando um olho.
Michele riu.
Pensei: Ela entendeu que é para cancelar o cartão.
- E a grana no banco? – perguntei preocupado, pois o pai do Roberto tinha bloqueado a minha conta bancária.
- Esta tudo certo. A gerente está me ajudando.
- E o bloqueio na conta?
- Ge, está tudo certo. Fiz os depósitos. Paguei as contas.
- A conta está bloqueada.
- Não, Ge. Está tudo certo.
Pensei: O meu irmão Luis conseguiu desbloquear a conta. Nada como ter um advogado na família. Ainda bem. Nem sei como a Cris iria fazer para pagar as contas. Um problema a menos.  
Elas falaram mais algumas coisas, mas estava muito sonolento e dormi.
Quando acordei vi que a UTI estava vazia. Tinha um ou outro enfermeiro cuidando de pacientes.  Fiquei preocupado com a reação que o Flávio poderia ter em razão da interferência do meu irmão. Estava suspenso nosso acordo. Ele poderia me matar.
Pensei: o Flávio e o Roberto devem estar na sala vigiando pelas câmeras. Eu preciso falar com eles. O negócio azedou, mas preciso garantir minha vida. Já sei, vou mostrar para eles que continuo amigo deles.
Olhei para uma câmera e falei vagarosamente, para que eles conseguissem ler meus lábios.
- Então. Vocês tem que transferir os pacientes para outro hospital. Transfere para outros da rede. Manda para o Iguatemi. Para o Jaraguá. Fica tudo em casa e vocês atendem a exigência dos procuradores.
Logo em seguida entrou um enfermeiro e disse:
- Boa idéia. É isso mesmo que vamos fazer.
- Então, tenho outras boas idéias. Estou aqui a sua disposição. O Flávio gostou?
- Sim, quer mais.
Olhei para a câmera e disse:
- Eu trabalhei com regularização fundiária. Sei que nessa área dá para ganhar muito dinheiro.
Flávio entrou na sala e disse:
- Não. Esse negócio eu não gosto. Que outra coisa você tem a propor?
- Bem, na sua área que é hospital, podemos fazer alguma coisa para cobrar mais dos pacientes. Precisamos elaborar uma proposta de uma nova UTI. Fazer a UTI parecer um hotel cinco estrelas. E cobrar por isso. Depois marketing em cima. Acabar com isso da família não ficar junto na UTI.
- Zé, os apartamentos são assim. Não dá certo. Precisamos monitorar os pacientes vinte e quatro horas. Em um apartamento não dá.
- Não, Flávio. Estou falando em fazer uma UTI luxuosa. Cobrar caro.
- Pensa ai e depois me fala. Agora vou ter que sair. Levar a família para a praia.
- Aonde você vai?
- Vou para a Riviera São Lourenço. Tenho casa lá.
- Quando sair vou lá te visitar.
- Será bem recebido.
Pensei: Pelo menos ele está calmo. E vai viajar. Ufa! Enfim, sossego! Mas, preciso inventar alguma coisa que ele goste, para quando ele voltar. 
Dormi.
Quando acordei já era hora da visitação.
Minha mulher estava aborrecida. Dizia:
- Os seus irmãos querem contar para sua mãe que voce está aqui no hospital.
- Não! Não deixa.
- Eles insistem.
- Não quero.
- Não tem jeito. O que é que eu faço?
- Não sei. Não consigo pensar. Diz que eu não quero.
- Eu já falei para eles que voce não quer que ela saiba.
- Quer saber? Deixa falar. Eu estou aqui há muito tempo.
Voltei a dormir.

                                      continua no próximo capitulo

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