Capitulo XVI – Distensão
Quando acordei, vi o Flávio.
Estava calmo, mas apreensivo.
- Zé. Que confusão é essa ai? O
nosso negócio complicou. Tem um advogado ai querendo contestar a sua divida.
- Flavio ,
não sei de nada. Estou preso aqui dentro. Não sei de nada.
- Precisamos resolver nosso
acordo.
- Depois a gente vê isso. Quero
saber onde está minha filha?
- Fica frio. Está tudo bem com
ela.
- Eu quero falar com ela.
- Espera ai, que já vai começar
a visitação. Ela deve estar ai fora.
Começou a visitação aos
pacientes na UTI.
Havia um anão que recepcionava
as pessoas. Muito simpático. Quando ele me via, perguntava como estava. Minha
mulher dizia que ele a ajudava a quebrar as regras do hospital nas visitas. Deixava
ela ficar mais tempo do permitido, após o término do horário de visita. Ele me
perguntou:
- Posso mandar entrar sua
visita?
- Sim. Por favor.
Meu irmão entrou sorrindo. Aproximou-se
de mim, deu-me um beijo no rosto, sentou-se em uma cadeira ao meu lado e foi
logo perguntando:
- Ge, que negócio maluco é esse
que você fez? A tua mulher não esta sabendo de nada. Quem é esse seu sócio? A
gente tentou ligar para falar com ele, mas não o achamos. Disseram que está
viajando. Quem é esse cara? Onde voce conheceu esse cara, Ge?
- Lu, depois eu explico. Quero
saber como está a Michelle?
- Ela está bem. Está ai fora com
a tua mulher. Quando eu sair ela entra.
- A Michelle está bem mesmo?
- Lógico, Ge. Está ai fora,
esperando para entrar e ver voce.
- Que alivio!
- Esta tudo bem, Ge. Fica calmo.
Relaxa.
Fiquei mais calmo.
Pensei: Minha filha está bem.
Escapou do maluco. Mas, quem era então a moça que estava naquela salinha? Tenho
certeza que ele a estuprou. Coitada. Mais uma.
- Ge, conta para mim. O que é
que aconteceu? Estou com um advogado ai para cancelar tudo.
- E o banco?
- A gente vai conseguir uma
liminar ainda hoje. Tem um advogado cuidando do caso. Vamos desbloquear a tua conta
bancária. Mas, na justiça, continua a cobrança. A justiça é assim, demorada. Para
você é até bom. Dá tempo de você se recuperar e ter tempo para se defender. O
importante é a gente conseguir desbloquear a tua conta bancária. Depois a gente
resolve tudo.
- Está certo, Lu. Obrigado.
- Ge, conta para mim. Que
negócio maluco é esse que você se meteu, cara? Perder a grana que você perdeu.
Não é fácil. Você sempre foi bom de negócio. O que é que aconteceu? Explica
direitinho.
- Não tem explicação. Fui vitima
de extorsão aqui dentro.
- Como assim, Ge. Conta isso para
mim.
- Está vendo aquele cara ali.
- Aquele enfermeiro?
. Sim.
- É o Paulo armadura.
- Lembro dele. É o irmão do
Fernandinho, não é?
- É.
- Oi.. Paulo.. – chamou Luis,
levantando-se da cadeira.
Flávio estava conversando e não
ouviu.
Segurei o braço de meu irmão e
pedi:
- Não! Não chame ele. Por favor.
- Ele pode nos ajudar. É irmão
do Fernandinho, nosso amigo, Ge. Deixa eu falar com ele. O Paulo armadura...
Quanto tempo!
- Não. Ele está no rolo.
- Como assim?
- Depois eu explico, Lu. Não fale
nada com ele. Ele está no rolo.
- Ge, fica tranqüilo. Pode ser
quem for. A gente entra na justiça e
tudo vai ser resolvido. A Michelle tem vinte anos. É menor de vinte e um.
Portanto ela é inimputável. Vamos usar isso como argumento. Está na lei.
Naquele momento nem lembrei que
minha filha tinha trinta e dois anos e não vinte. Também não lembrei que acabou a maioridade
com vinte e um anos, como existia na lei anterior. Também nem quis entender o que ela tinha a
ver com a estória, pois o cartão era meu.
- Fique tranqüilo, Ge, que tudo
vai ser resolvido. – disse meu irmão, querendo me acalmar.
- E a Cris?
- Está ai fora. Ela já vai
entrar com a Michelle. Deixa eu sair para elas poderem entrar.
Meu irmão levantou-se e saiu andando. Em
seguida minha mulher entrou junto com minha filha Michelle. Estavam alegres.
- Chel, tudo bem com você? –
perguntei eufórico.
- Sim, pai.
- Que confusão. O que foi que
aconteceu?
- Nada. Está tudo bem, pai.
Fique tranqüilo. Está tudo bem.
- É Ge. Não se preocupe com
nada. Deixa que a gente está fazendo tudo certinho.
Pensei: O que importa é que a
Michele está bem. Que alivio.
Enquanto olhava para ela para
examinar se estava mesmo tudo bem, me lembrei do cartão de crédito.
- Cris.
- Fala, Ge.
- Cuidado... Tem câmera.
- Não, Ge. Imagina. Não tem
câmera nenhuma.
- Está escondida.
- Mãe, deixa ele falar. – disse
Michelle
Peguei uma folha e coloquei em
frente da minha boca, para que se fosse filmado eles não conseguissem ler meu
lábio, enquanto falava.
- Cancela... o cartão.
- O que? Eu não entendi.
- Cancela o cartão. – disse irritado.
- Por quê? – perguntou Cris, que
não entendia.
- Mãe, não discute. – falou
Michelle
Pensei: Não é possível. Ela se
esqueceu que pegaram meu cartão de crédito? Ela precisa cancelar o cartão urgente.
Se ela não cancelar eles vão fazer a festa com meu cartão.
- Cancela o cartão.
Olhei para os lados e vi um dos
enfermeiros capangas olhando para mim e sinalizando para eu tirar o papel de
frente dos meus lábios. Como já tinha falado o que quis, tirei o papel.
- Está bem, pai. Amanhã a mamãe
cuida disso. Agora, fala de você. Como você está? O que é que você está
sentindo?
- Estou bem. – disse piscando um
olho.
Michele riu.
Pensei: Ela entendeu que é para
cancelar o cartão.
- E a grana no banco? –
perguntei preocupado, pois o pai do Ro berto
tinha bloqueado a minha conta bancária.
- Esta tudo certo. A gerente
está me ajudando.
- E o bloqueio na conta?
- Ge, está tudo certo. Fiz os
depósitos. Paguei as contas.
- A conta está bloqueada.
- Não, Ge. Está tudo certo.
Pensei: O meu irmão Luis
conseguiu desbloquear a conta. Nada como ter um advogado na família. Ainda bem.
Nem sei como a Cris iria fazer para pagar
as contas. Um problema a menos.
Elas falaram mais algumas
coisas, mas estava muito sonolento e dormi.
Quando acordei vi que a UTI
estava vazia. Tinha um ou outro enfermeiro cuidando de pacientes. Fiquei preocupado com a reação que o Flávio poderia
ter em razão da interferência do meu irmão. Estava suspenso nosso acordo. Ele
poderia me matar.
Pensei: o Flávio e o Ro berto devem estar na sala vigiando pelas câmeras.
Eu preciso falar com eles. O negócio azedou, mas preciso garantir minha vida.
Já sei, vou mostrar para eles que continuo amigo deles.
Olhei para uma câmera e falei
vagarosamente, para que eles conseguissem ler meus lábios.
- Então. Vocês tem que
transferir os pacientes para outro hospital. Transfere para outros da rede.
Manda para o Iguatemi. Para o Jaraguá. Fica tudo em casa e vocês atendem a exigência
dos procuradores.
Logo em seguida entrou um
enfermeiro e disse:
- Boa idéia. É isso mesmo que
vamos fazer.
- Então, tenho outras boas
idéias. Estou aqui a sua disposição. O Flávio gostou?
- Sim, quer mais.
Olhei para a câmera e disse:
- Eu trabalhei com regularização
fundiária. Sei que nessa área dá para ganhar muito dinheiro.
Flávio entrou na sala e disse:
- Não. Esse negócio eu não
gosto. Que outra coisa você tem a propor?
- Bem, na sua área que é
hospital, podemos fazer alguma coisa para cobrar mais dos pacientes. Precisamos
elaborar uma proposta de uma nova UTI. Fazer a UTI parecer um hotel cinco
estrelas. E cobrar por isso. Depois marketing em cima. Acabar com isso da
família não ficar junto na UTI.
- Zé, os apartamentos são assim.
Não dá certo. Precisamos monitorar os pacientes vinte e quatro horas. Em um
apartamento não dá.
- Não, Flávio. Estou falando em fazer uma UTI
luxuosa. Cobrar caro.
- Pensa ai e depois me fala.
Agora vou ter que sair. Levar a família para a praia.
- Aonde você vai?
- Vou para a Riviera São
Lourenço. Tenho casa lá.
- Quando sair vou lá te visitar.
- Será bem recebido.
Pensei: Pelo menos ele está
calmo. E vai viajar. Ufa! Enfim, sossego! Mas, preciso inventar alguma coisa
que ele goste, para quando ele voltar.
Dormi.
Quando acordei já era hora da
visitação.
Minha mulher estava aborrecida.
Dizia:
- Os seus irmãos querem contar
para sua mãe que voce está aqui no hospital.
- Não! Não deixa.
- Eles insistem.
- Não quero.
- Não tem jeito. O que é que eu
faço?
- Não sei. Não consigo pensar.
Diz que eu não quero.
- Eu já falei para eles que voce
não quer que ela saiba.
- Quer saber? Deixa falar. Eu
estou aqui há muito tempo.
Voltei a dormir.
continua no próximo capitulo
continua no próximo capitulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem vindo!
Agradeço sua participação.