Capitulo
II – A revelação para a família e a avaliação do tratamento por outros médicos
Todos
os domingos, já há alguns anos, reunimos para almoçar em um restaurante a minha
mãe e minha tia Edy, que vive com ela, minha irmã Sarah e seu marido Bueno, meu
irmão Luis e sua atual esposa Célia, meus sobrinhos Marcel, Michel, Daniel e
Thomás, meu primo Aventino, minha mulher Cristina, meus três filhos Michelle,
Mirella e Rodrigo, meu genro André, meus netos, Laura e Natan, e eu. É uma
turma grande.
Foi
em uma dessas oportunidades que resolvi participar meus irmãos e minha mulher de
que havia algo estranho no meu fígado e que eu estava investigando com meu
médico. Mas, decidi não contar para minha mãe, para não preocupa-la. Mesmo
porque ela apresentava sintomas de esquecimento e acreditei que preocupa-la, só
agravaria o quadro dela, desnecessariamente. Meus irmãos concordaram com esta
iniciativa.
Meus
filhos ao tomar conhecimento ficaram muito preocupados, apesar de minha
insistência de que não deveria ser nada grave, pois não tinha sintomas de
nenhuma doença.
Tanto
em casa, quando informava minha mulher e filhos, como nos demais encontros
dominicais subseqüentes, quando informava a meus familiares, quando eu
apresentava o resultado das investigações, eu procurava fazer de uma forma mais
amena, para não preocupa-los mais do que já estavam. Acredito que eles, de sua
parte, também tinham esse comportamento, pois em seus comentários faziam
suposições de que o que eu teria era alguma coisa menos grave. Em momento algum
eles aceitaram a hipótese que fosse câncer, até que eu o confirmasse. Só
confirmei que era câncer quando obtive o resultado da biópsia.
A
partir desse momento, a conversa mudou para como solucionar o problema. Sempre falava,
porque acredito nisso, que a medicina estava evoluída e que havia tratamentos
menos radicais para a cura do câncer, além do que estava na fase inicial da
doença.
A
reação da minha familia foi de total solidariedade comigo. As manifestações de apoio
sempre foram com palavras de esperança, com recomendações de médicos e
tratamentos, muito participativa, afetiva e carinhosa, que me emociona até
hoje, só de lembrar.
O
resultado da biopsia aspirativa indicou tratar-se de uma neoplasia
neuroendócrina. Mas, não esclarecia se era primário ou metástase.
O
intrigante disso tudo é que eu não apresentava nenhum sintoma característico da
doença.
Antes, e mesmo depois, de saber
que era portador de um câncer, nunca senti qualquer dor.
O Dr.
Djalma com esse diagnóstico resolveu realizar outra investigação, agora na
tentativa de descobrir se havia, ou não, algum tumor primário, em outro local
do meu corpo. Solicitou-me exames de colonoscopia, endoscopia, raio X de
transito intestinal, tomografia de tórax, ultra-som da bexiga e da próstata.
Nada
apareceu.
Essa
noticia me deixou mais confiante.
Pensei:
Não havendo metástase a cura deve ser mais fácil.
Apesar
desses exames não encontrarem nenhum outro tumor, ainda assim restava uma
possibilidade menor, mas existia, de os exames não terem detectado esse pequeno
tumor, em razão de que a precisão em qualquer exame não ser cem por cento.
Eu já
sabia da existência de uma tomografia com material radioativo, que mapeia todo
o corpo. Chama-se PET scan. Ainda que esse exame também não desse a certeza cem por cento, era de
uma precisão maior.
O Dr.
Djalma confirmou-me que seria importante realizar mais este exame, mas
alertou-me que o meu convenio médico não cobriria essa despesa.
Como no
livro de meu convenio médico constava na relação de hospitais conveniados o hospital
A.C. Camargo, especializado em tratamento de câncer, resolvi realizar o exame
naquele hospital. Entretanto, ao contatar o hospital fique sabendo que ele não
mais integrava meu plano de saúde. Ao me informar do preço para realizar o
exame sob minha expensa, descobri que era de um valor muito alto. Fiquei duplamente
frustado.
Um
amigo, Luis Carlos, também portador de cancer há alguns anos, ao saber que eu
desejava muito fazer esse exame, indicou-me um amigo seu, responsável pela
unidade no hospital A. C. Camargo, que concedeu-me um desconto especial no
preço. Por outro lado, meus irmãos se dispuseram a participar do rateio e assim
pude realizar mais este exame.
O
resultado do exame confirmou a existência do câncer neuroendocrino no fígado e
nos linfonomos da região inter-aorta-caval. E em nenhum outro lugar.
Reuni
todos esses exames e procurei diversos médicos oncologistas e especialista em
cirurgia oncologica, para escutar de cada um deles qual seria o melhor
tratamento.
Inicialmente
fui ao consultório do Dr. Marcel Cerqueira
Cezar, por indicação de meu primo Serginho ,
que insistia que deveria consulta-lo, pois o médico tratara outros amigos dele e
todos ficaram muito satisfeitos. Dr. Marcel examinou
tudo e disse que deveria realizar uma cirurgia imediatamente. Seria em duas
etapas, com abertura em L de meu abdômen. A primeira cirurgia tinha como
objetivo examinar toda a cavidade abdominal e fechar a veia cava para
definhamento do lobo onde estavam os tumores. A segunda, após o definhamento do
lobo, seria para a retirada de parte do fígado, com os tumores.
Sem
que eu pudesse me manifestar, ele pos-se a agendar a primeira cirurgia,
telefonando para alguns dos hospitais dos quais ele realizava cirurgia, para
ver disponibilidade de data e horário. Fiquei assustado. Primeiro porque não queria
ouvir essa solução.
Disse
a ele que não estava preparado psicologicamente para ter meu abdômen todo
cortado. Falei que imaginava haver alguma injeção que, após a aplicação, congelasse
o tumor ou que no máximo pudesse fazer uma cirurgia laparoscópica e com isso
resolver o problema.
O Dr.
Marcel explicou-me que o meu caso era de cirurgia sim, da forma como ele havia
descrito e que fazendo isso acabaria definitivamente com o câncer.
Perguntei,
então, se ele integrava meu plano de saúde. Ele respondeu que não.
Aproveitei
o fato de que ele não poderia atender-me pelo meu plano de saúde para pedir-lhe
um tempo para pensar sobre o assunto.
Ele
insistiu que deveria realizar a cirurgia com urgência.
Argumentei
que, como ele não realizava cirurgia em nenhum dos hospitais credenciados pelo
meu plano, o custo dessa cirurgia ia ficar muito caro e eu não tinha recursos
para arcar com isso. Ele contra argumentou dizendo que não ficasse preocupado
com pagamento, que o importante era resolver o meu problema de saude.
Pagamento, afirmou ele, depois se resolvia. Eu o pagaria as despesas e depois,
disse ele enfático, eu teria direito a cobrar reembolso do meu plano de saúde,
podendo até recorrer à justiça contra meu plano, pois ele conhecia bons
advogados.
Não
gostei da resposta. Primeiro se quer ele me deu alguma idéia do custo, por mais
que insistisse. Depois, porque onde iria arrumar o valor que teria que despender.
E finalmente, porque não gosta de riscos. Se gostasse jogava em cassinos.
Como
não gosto de nada mal resolvido, encerrei nossa conversa dizendo que realmente
eu precisava pensar e muito sobre o assunto.
Ao sair do consultório estava decidido. Com ele
não seria possível resolver o meu problema.
Pensei:
Desse jeito, com esse, acabo perdendo minha casa. Estou fora.
Voltei
a conversei com o Dr. Djalma sobre a solução de cirurgia. Ele que me indicou o
Dr. Marcelo Bruno, seu amigo, especialista em cirurgia de fígado.
Fui
atendido por ele na unidade do Hospital Albert Einstein, que realiza cirurgia
gratuita de transplante de fígado, custeada pelo SUS. Entretanto, o Dr. Marcelo
disse que meu caso não era de transplante, pois meu fígado tinha total condição
de regeneração. E, assim, ele não poderia me atender naquele hospital. Disse
ainda que poderia realizar a cirurgia, desde que eu pagasse seu serviço e de
sua equipe, pois ele não mais atuava no meu plano de saúde Medial. E que poderia
realizar a cirurgia no Hospital Alvorada, que é do meu plano de saude.
Apesar
de o custo agora parecer menor, também não atendia minha necessidade de
realizar a cirurgia custeada pelo meu plano de saúde.
Resolvi
continuar minha peregrinação.
Procurei
o Hospital do Câncer, ligado ao Hospital das Clinicas. Fui informado que
poderia realizar uma consulta naquele hospital custeada pelo meu plano de
saúde. Agendei, então, uma consulta com a Dra. Isabel.
Quando
entrei em seu consultório, sozinho, ela de pronto perguntou onde estava o
paciente. Estranhei a pergunta. Ela me disse, textualmente, que eu não poderia
estar com câncer, pois apresentava uma ótima aparencia. Fiquei contente.
Ao
terminar de ler os exames, ela disse que gostaria muito de acompanhar meu caso,
pois era um tipo de câncer raro. Lamentou não poder acompanhar meu caso, pois o
meu plano de saúde não permitia realizar qualquer tratamento naquele hospital.
De
minha parte, também lamentei o fato de meu plano de saúde não cobrir cirurgia
naquele hospital, pois era um hospital novo, com instalações de primeiro mundo,
com equipamentos modernos e com atendimento humano. Só para citar um exemplo, como
era semana de natal, quando fui recepcionado para preenchimento do prontuário
inicial, antes da consulta, recebi um cartão de natal, assinado por toda a
equipe de atendimento. Ainda que não seja católico e o natal nada represente
para mim, fiquei contente, pois senti uma solidariedade não comum em hospitais.
Ela
falou, então, que se eu realmente desejasse ser atendido naquele hospital,
deveria percorrer o caminho do SUS, obedecendo toda uma rotina de atendimento.
Respondi
que seria muito demorado e penoso. Disse que continuaria na minha peregrinação
para identificar algum médico de confiança, que realizasse meu tratamento às expensas
do meu plano de saúde.
Ela,
então, indicou-me o Prof. Igor, da clinica Certo, de quem fora aluna na USP.
Disse que a clinica dele estava credenciada no Medial e lá seria muito bem
atendido.
Consegui
agendar uma consulta com o Dr. Igor uma semana depois. Na consulta ele informou-me
que não estava mais atendendo novos pacientes. Indicou-me o Dr. Ro berto, integrante de sua clinica.
Agendei
nova consulta com o Dr. Roberto. Na consulta, após a leitura dos exames ele
disse-me que a solução do meu problema era realizar uma cirurgia. E que como a sua
clinica realiza apenas tratamento quimioterápico, ele não poderia prosseguir no
atendimento. Disse que após a cirurgia, ai sim ele faria uma avaliação para
decidir se eu teria que me submeter ou não a um tratamento quimioterapico.
Perguntei
a ele se conhecia algum cirurgião oncológico. Ele disse que conhecia um colega
de faculdade, integrante do meu plano de saúde. Recomendou que procurasse o Dr.
Paulo Renato Batista Ribeiro.
Antes
de consultar o Dr. Paulo resolvi continuar minha avaliação com outros médicos, para
ter certeza de qual seria a melhor solução para o problema.
Consultei
o Dr. Davi Erlish, por insistência de meu cunhado Bueno. O Dr. Davi fora o
médico que, muitos anos atrás, tratou a irmã do meu cunhado, que na
adolescência fora vitimada por um cancer linfático. Como ela está curada e está
bem até hoje ele insitiu que o procurasse. O Dr. Davi olhou todos os exames e
afirmou que deveria realizar a cirurgia, pois este era o único tratamento
possível para o meu caso.
Consultei,
ainda, o Dr. Frederico Perego, do Hospital Sírio Libanês, por sugestão de meu
irmão Luis, para ter uma avaliação final.
Todos
foram unânimes no diagnóstico: deveria operar o quanto antes, com retirada
total dos tumores.
Não me
restava outra alternativa.
Pensei:
Se tenho que enfrentar a cirurgia, que seja.
Procurei,
então, o Dr. Paulo
Renato , que é cirurgião oncológico integrante do meu plano de saúde.
Apesar de ser jovem, tinha 39
anos, desde o primeiro momento que o conheci ele me inspirou muita confiança,
pela sua experiência e pela sua garra em dizer que venceríamos essa batalha. Estabeleceu-se,
desde então, uma empatia e uma amizade entre nós. Todas as vezes que ia me
consultar ele me atendia em primeiro lugar e com uma dedicação fraternal.
Agendamos a cirurgia.
continua no próximo capitulo
Link https://resenhadoze.blogspot.com.br/2014/06/uma-experiencia-bio-desagradavel_16.html
Orientação de como voce pode acessar os demais capítulos.
Se voce estiver num computador, do lado direito tem Pesquisar este blog. Escreva: Uma experiencia bio desagradável capitulo II. Clica no botão PESQUISAR. Ele fara o acesso direto a esse capitulo. Depois, estando no Capitulo II, preencha: Uma experiencia bio desagradável capitulo capitulo III. E assim sucessivamente, colocando sempre o capitulo em algarismo romano ate o capitulo XXIX. O Ultimo, que é o XXX você deve colocar na busca: Uma experiencia bio desagradável - Ultimo capitulo.
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Cadê o Capitulo III? Porra meu, não me deixe em suspense por muito tempo, OK? Bjs, Catarina
ResponderExcluirJá li o cap I. Vc escreve bem, Geraldo, parabens! :-) bjs
ResponderExcluirTerminei Geraldo!!!
ResponderExcluirUfa que pesadelo!
Mas, pelo que vc relatou, parece que devido a confusão mental gerada pelos remédios, vc não sentiu muitas dores, não é?
Que bom que vc agora está bem! :-) Fico muito feliz... :-)
Que coisa louca, como se alucina nestes momentos!
Tenho uma sogra idosa, e uma tia idosa também que quando passaram por intervenções cirúrgicas, e na UTI, alucinavam igual a vc... Uma achava a todo momento que estava sendo roubada e a outra que a enfermaria inteira estava maltrando ela.... Nossa! Paasamos alguns momentos PUNK com elas! :-)
Vc deveria publicar sua história.... Pois como elas eram idosas, a gente sempre pensa que a demência tem parte nisso, mas, com vc não era o caso, e suas reações foram iguais.....
Vai ajudar aos acompanhantes a entenderem o que se passa na cabeça de um paciente que se encontra na UTI. Nada a ver com a idade.....e sim com os remédios e com a reação do cérebreo frente ao estresse a que são submetidos os pacientes... Muito louco e interessante.
Gostei muito. Agora se for publicar, terá que dar o texto para um revisor. Tem alguns erros de concordância, assim como outras "cositas más". Nada grave, asseguro :-) Vc escreve muito bem!
Parabéns e obrigada por compartilhar comigo este seu momento tão delicado!
Fico muito orgulhosa de ser a sua amiga! Thanks!
Beijos mil e obrigada e parabéns novamente, :-)
Catarina
Catarina Justus,agradeço o prestigio de te-la como minha leitora. Honrou-me muito ter a oportunidade de enviar-lhe o texto integral e receber seus comentarios.
ResponderExcluirAgradeço suas palavras motivadoras.
Beijos