Vou contar uma historia, que de
fato aconteceu, e comprova que falta autoridade no desempenho das funções de
quem é autoridade neste pais.
Foi nos idos do final da década de
90.
Estava indo a uma reunião de
trabalho em Aruja, pela via Dutra, naquele trecho que a estrada é bloqueada
para acesso ou saída. Você acesa em São Paulo e so saia em Guarulhos.
Nos arredores do Shopping
Guarulhos, onde era a fabrica da Olivetti, ao me aproximar, vejo o transito
todo parado.
Literalmente parado.
Alguns motoristas já desciam dos
carros.
Fiquei preocupado. Tinha um
compromisso de negócios que não podia atrasar.
Como esse local é mais alto, deu
para ver, adiante, uma fumaça na estrada.
Imaginei que fosse acidente de
carros.
Pensei:
- Agora estou frito.... Vai chegar
bombeiros, ambulância. Ate limpar tudo isso vou perder aqui algumas boas horas.
Fiquei irritado, pois não havia
como sair de la.
Pensei:
- Entrei no mata burro. Como é
possível fazer uma estrada que se acontecer algum problema, você não tem como
sair.
Como não me restava outra
alternativa, desci do carro e fui em direção ao acidente. Resolvi bancar o
curioso.
Pensei:
- Vou ate la ver o acidente.
Caminhei mais do que um km.
La chegando, vi um cenário de
bloqueio das pistas.
No sentido São Paulo ao Rio, havia
um grupo de manifestantes, com faixas e cartazes, gritando palavras de ordem.
Descobri que eram funcionários em greve da IDEROL, uma fabrica de carrocerias
de caminhão de Guarulhos.
No sentido Rio a São Paulo, havia uma
queima de pneus, cujo incêndio provocava a fumaça negra que vira ao longe.
E por todos os lados, via-se, com
as luzes acessas e giroflex acionados dos carros da policia militar, da policia rodoviária
federal, de um caminhão dos bombeiros e ate duas ambulancias.
E um grande contingente de
policiais, rodoviários federal, da policia militar e bombeiros so olhando.
Pensei:
- Que absurdo! Ficam todos esses
policiais olhando e nada fazem.
Indignado com o que via, dirigi-me
a um policial, que estava sobre uma divisória de concreto entre as pistas. Subi
na peça de concreto e perguntei-lhe:
- Quem esta no comando da operação
aqui?
Ele respondeu que era ele.
Identificou-se como tenente da
Policia Militar.
Era baixinho, de origem oriental,
mas cheio de medalhas.
Mantivemos um dialogo amistoso,
mas eu já exercendo um papel de liderança
quando perguntei-lhe:
- Porque os bombeiros não apagam o
incêndio? Isso é patrimônio publico! Esta sendo destruído. Custa caro para
reparar.
Ele respondeu que não podia
determinar que o incêndio fosse apagado, pois temia uma revolta dos
manifestantes.
Nisso aproximou-se de nós um
cinegrafista e auxiliares do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, que
filmavam meu dialogo com o tenente.
Então eu disse ao tenente:
- Eu estou determinando. Apague o
incêndio.
Ele tentou contestar, perguntando
se eu assumiria a responsabilidade.
Respondi que sim.
Empunhando voz de comando, disse:
- Isso é uma ordem. Apague o
incêndio, ja. Mande os bombeiros apagarem.
Ele foi em direção aos bombeiros,
repassou a ordem e imediatamente eles empunharam as mangueiras e apagaram o
incêndio.
Ninguém se manifestou contra.
Senti-me fortalecido.
Perguntei-lhe:
- Quem é o comandante aqui de
Guarulhos?
Ele disse o nome.
- Quero ele aqui agora. Chame-o
pelo radio. Ele tem que estar presente aqui.
Completei:
- Chame a tropa de choque, também.
Quero a desobstrução total e imediata da pista.
Ele foi ate uma viatura e falou
pelo radio.
Nesta altura dos acontecimentos,
os manifestantes percebendo que havia uma “autoridade” no comando, devem ter
ficado receosos e começaram a se dispersar.
Os manifestantes que restaram,
desocuparam a pista por iniciativa propria.
Ficaram no acostamento, no sentido
São Paulo ao Rio.
Os pneus, já sem fogo, foram
removidos da pista.
O movimento acabou.
Em poucos minutos chegou o
Comandante da Policia Militar de Guarulhos, junto com a tropa de choque, na
pista sentido Rio a São Paulo.
O comandante foi logo cercado pela
liderança do movimento. E junto com o grupo foi para o acostamento da pista no
sentido São Paulo ao Rio, para se reunir com os demais manifestantes.
A tropa de choque ficou parada do
outro lado da pista. Aguardando ordens.
Como estava tudo resolvido, pensei:
- Missão cumprida. Melhor ir
embora daqui antes que o Comandante queira saber quem eu sou. Da de ele não
gostar de um simples civil ter assumido o comando de uma operação da policia e
querer me prender. Vou-me embora.
Quietinho, sumindo entre as
pessoas, sem alardes, fui caminhando para meu carro.
Quando me aproximava de meu carro,
o transito começou a fluir, obrigando-me a dar uma corridinha.
Entrei no carro e comecei a rir
sozinho.
Ria muito.
Talvez uma reação de descontração
do stress que experimentei.
Pensei:
- Comandei uma operação policial.
Não acredito!
Eu mesmo não acreditava no que
tinha acabado de acontecer.
Deve ter virado historia para
aqueles que presenciaram.
Os méritos da operação de
desobstrução da Dutra devem ter ficado para o tenente. Pouco importa. Para mim
o que valeu foi ter resolvido um problema.
Mas, porque contei tudo isso?
Para mostrar que hoje, e naquela
época também, vivemos uma crise de autoridade.
As autoridades parecem que tem
medo de exercer sua obrigação funcional.
Estão sempre aguardando outra
autoridade superior para assumir a responsabilidade por ações que deveriam
exercer.
E ninguém decide nada.
Não sei o que aquele tenente
imaginou quem eu fosse.
Mas, uma coisa é certa. Ele
identificou em mim uma autoridade superior e sentiu-se confortável para exercer
seu papel.
Boa história, José Geraldo !!!!
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirÉ assim que as coisas acontecem neste país!!!!!
ResponderExcluirChega de PT e Bolsonaro. Geraldo para Presidente. Poderoso é aquele que recebe o poder, não o que o impõe.
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