sábado, 14 de junho de 2014

Quando a falta de autoridade é preenchida por quem sabe exerce-la

Vou contar uma historia, que de fato aconteceu, e comprova que falta autoridade no desempenho das funções de quem é autoridade neste pais.
Foi nos idos do final da década de 90.
Estava indo a uma reunião de trabalho em Aruja, pela via Dutra, naquele trecho que a estrada é bloqueada para acesso ou saída. Você acesa em São Paulo e so saia em Guarulhos.
Nos arredores do Shopping Guarulhos, onde era a fabrica da Olivetti, ao me aproximar, vejo o transito todo parado.
Literalmente parado.
Alguns motoristas já desciam dos carros.
Fiquei preocupado. Tinha um compromisso de negócios que não podia atrasar.
Como esse local é mais alto, deu para ver, adiante, uma fumaça na estrada.
Imaginei que fosse acidente de carros.
Pensei:
- Agora estou frito.... Vai chegar bombeiros, ambulância. Ate limpar tudo isso vou perder aqui algumas boas horas.
Fiquei irritado, pois não havia como sair de la.
Pensei:
- Entrei no mata burro. Como é possível fazer uma estrada que se acontecer algum problema, você não tem como sair.
Como não me restava outra alternativa, desci do carro e fui em direção ao acidente. Resolvi bancar o curioso.
Pensei:
- Vou ate la ver o acidente.
Caminhei mais do que um km.
La chegando, vi um cenário de bloqueio das pistas.
No sentido São Paulo ao Rio, havia um grupo de manifestantes, com faixas e cartazes, gritando palavras de ordem. Descobri que eram funcionários em greve da IDEROL, uma fabrica de carrocerias de caminhão de Guarulhos.
No sentido Rio a São Paulo, havia uma queima de pneus, cujo incêndio provocava a fumaça negra que vira ao longe.
E por todos os lados, via-se, com as luzes acessas e giroflex acionados dos  carros da policia militar, da policia rodoviária federal, de um caminhão dos bombeiros e ate duas ambulancias.
E um grande contingente de policiais, rodoviários federal, da policia militar e bombeiros so olhando.
Pensei:
- Que absurdo! Ficam todos esses policiais olhando e nada fazem.
Indignado com o que via, dirigi-me a um policial, que estava sobre uma divisória de concreto entre as pistas. Subi na peça de concreto e perguntei-lhe:
- Quem esta no comando da operação aqui?
Ele respondeu que era ele.
Identificou-se como tenente da Policia Militar.
Era baixinho, de origem oriental, mas cheio de medalhas.
Mantivemos um dialogo amistoso, mas eu já exercendo um papel de liderança  quando perguntei-lhe:
- Porque os bombeiros não apagam o incêndio? Isso é patrimônio publico! Esta sendo destruído. Custa caro para reparar.
Ele respondeu que não podia determinar que o incêndio fosse apagado, pois temia uma revolta dos manifestantes.
Nisso aproximou-se de nós um cinegrafista e auxiliares do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, que filmavam meu dialogo com o tenente.
Então eu disse ao tenente:
- Eu estou determinando. Apague o incêndio. 
Ele tentou contestar, perguntando se eu assumiria a responsabilidade.
Respondi que sim.
Empunhando voz de comando, disse:
- Isso é uma ordem. Apague o incêndio, ja. Mande os bombeiros apagarem.
Ele foi em direção aos bombeiros, repassou a ordem e imediatamente eles empunharam as mangueiras e apagaram o incêndio.
Ninguém se manifestou contra.
Senti-me fortalecido.
Perguntei-lhe:
- Quem é o comandante aqui de Guarulhos?
Ele disse o nome.
- Quero ele aqui agora. Chame-o pelo radio. Ele tem que estar presente aqui.
Completei:
- Chame a tropa de choque, também. Quero a desobstrução total e imediata da pista.
Ele foi ate uma viatura e falou pelo radio.
Nesta altura dos acontecimentos, os manifestantes percebendo que havia uma “autoridade” no comando, devem ter ficado receosos e começaram a se dispersar.
Os manifestantes que restaram, desocuparam a pista por iniciativa propria.
Ficaram no acostamento, no sentido São Paulo ao Rio.
Os pneus, já sem fogo, foram removidos da pista.
O movimento acabou.
Em poucos minutos chegou o Comandante da Policia Militar de Guarulhos, junto com a tropa de choque, na pista sentido Rio a São Paulo.
O comandante foi logo cercado pela liderança do movimento. E junto com o grupo foi para o acostamento da pista no sentido São Paulo ao Rio, para se reunir com os demais manifestantes.  
A tropa de choque ficou parada do outro lado da pista. Aguardando ordens.
Como estava tudo resolvido, pensei:
- Missão cumprida. Melhor ir embora daqui antes que o Comandante queira saber quem eu sou. Da de ele não gostar de um simples civil ter assumido o comando de uma operação da policia e querer me prender. Vou-me embora.
Quietinho, sumindo entre as pessoas, sem alardes, fui caminhando para meu carro.
Quando me aproximava de meu carro, o transito começou a fluir, obrigando-me a dar uma corridinha.
Entrei no carro e comecei a rir sozinho.
Ria muito.
Talvez uma reação de descontração do stress que experimentei.
Pensei:
- Comandei uma operação policial. Não acredito!
Eu mesmo não acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Deve ter virado historia para aqueles que presenciaram.
Os méritos da operação de desobstrução da Dutra devem ter ficado para o tenente. Pouco importa. Para mim o que valeu foi ter resolvido um problema.
Mas, porque contei tudo isso?
Para mostrar que hoje, e naquela época também, vivemos uma crise de autoridade.
As autoridades parecem que tem medo de exercer sua obrigação funcional.
Estão sempre aguardando outra autoridade superior para assumir a responsabilidade por ações que deveriam exercer.
E ninguém decide nada.
Não sei o que aquele tenente imaginou quem eu fosse.
Mas, uma coisa é certa. Ele identificou em mim uma autoridade superior e sentiu-se confortável para exercer seu papel.


4 comentários:

  1. Boa história, José Geraldo !!!!

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  2. É assim que as coisas acontecem neste país!!!!!

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  3. Chega de PT e Bolsonaro. Geraldo para Presidente. Poderoso é aquele que recebe o poder, não o que o impõe.

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