quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo V

Capitulo V –  O segredo da UTI

Na visita do dia seguinte, recebi a visita da minha mulher Cristina e da minha filha Michelle, que queriam saber como estava. Eu fazia sinais com a mão, indicando sim ou não, respondendo suas perguntas. Eu queria contar sobre a tentativa de assassinato que presenciara na noite anterior. Mas, não conseguia falar, pois estava entubado. Nem conseguia me concentrar para falar por mimica. Estava muito dopado e sonolento.
 Depois, apareceu minha irmã Sarah e meu irmão Luis. Como não conseguia falar, minha irmã Sarah levou um caderno de brochura e uma caneta para que eu escrevesse o que quisesse falar. Não consegui escrever. Começava, mas não terminava. Estava com muita sonolência.
Acabou a visita. Foram todos embora.
Pensei: Quando eu estiver melhor, vou escrever uma mensagem contando o que acontece aqui.
Como a minha irmã deixara o caderno e a caneta comigo, resolvi esconde-los sob a minha perna esquerda.
Cochilei. Quando acordei estava um pouco mais consciente.
Pensei: Vou escrever agora.
Passei a mão sob a minha perna e não encontrei nada. Algum enfermeiro havia retirado o caderno e a caneta de baixo da minha perna, quando eu cochilava.
Olhei ao redor e vi o caderno sobre o criado mudo à minha esquerda.
Fiz um movimento com os braços para chamar a atenção de quem passasse. Apareceu uma fisioterapeuta, de nome Fernanda, que me atendeu.
Apontei para o caderno.
Ela perguntou se eu queria o caderno. Respondi que sim, movimentando a cabeça para cima e para baixo. Ela entregou-me o caderno e a caneta.
Quando comecei a escrever apareceu uma enfermeira. Ao ver-me com uma caneta na mão, veio correndo a meu encontro, dizendo brava que eu não poderia portar uma caneta.
Tentei falar, mas não conseguia. Então, passei a gesticular demonstrando que queria escrever. A enfermeira disse que não podia. Que era muito perigoso e que poderia me machucar. Que não era permitido paciente algum usar caneta na UTI.
Como eu insistisse em escrever ela concordou, com a condição de que eu escrevesse, enquanto ela estivesse do meu lado.
Pensei: Será que ela quer ler o que vou escrever? Lógico que sim. Ela não quer que eu escreva sobre as tentativas de assassinato de ontem à noite. È isso. Por isso fica inventando um monte de coisas para impedir que eu escreva. É isso ai. Vou disfarçar.
Comecei a desenhar um avião.
A enfermeira perguntou se não iria escrevera algum recado para minha família. Respondi que não, movendo minha cabeça de um lado para o outro.
E continuei desenhando.
A enfermeira foi chamada para atender um paciente. Ela se afastou de mim.
Pensei: Agora escrevo.
E escrevi: Morte aqui chama a policia
Olhei para o lado e vi que o italiano me olhava.
- É um recado para sua família? – perguntou ele.
- Sim. – respondi.
Rasguei uma tira de papel com o texto escrito e enrolei.
Pensei: Onde escondo esse papel? Se deixar embaixo da minha perna vão encontrar. Não posso deixar ai.     
Procurei algum lugar para esconder a tira de papel, para entregar a minha familia, quando viessem visitar-me. Não encontrei nenhum lugar para esconder.
A enfermeira voltou.
Fechei a mão e escondi o pedaço de papel. Enfiei o braço dessa mão sob o lençol e fiquei quieto.
Ela perguntou se queria continuar desenhando. Respondi que não, movendo a cabeça. Ela pegou o papel e a caneta, que estavam sobre a cama e os colocou sobre o criado mudo.
Depois, foi embora.
Finalmente vi que havia na lateral da cama um pequeno buraco, onde introduzi o papel enrolado.
Dormi tranqüilo.                                                                                                                Quando acordei tentei conversar com o italiano do meu lado esquerdo.
Ele me contou que morava em São Caetano, tinha um pequeno negócio próprio e estava internado porque tinha tido um enfarte.
Disse que minha família veio me visitar, mas eu estava dormindo tão profundo que ninguém quis me acordar. Disse que avisara minha família que eu tinha um bilhete para entregar, mas ninguém encontrou nada.
Imediatamente, enfiei o dedo no buraco onde guardara o bilhete. Não encontrei o papel. Fiquei assustado.
Pensei: Eles acharam o papel com o meu recado. Desgraçados. Será que leram? Se leram que se dane. Não escrevi nada de mais... Agora já era. Mas, eles não podiam ter pego. Era meu... Eles vigiam tudo, aqui. Impressionante.
Perguntei ao italiano se ele vira alguém mexer nas minhas coisas. Ele disse que não vira nada. Perguntou sobre o que era o recado. Disse que era para alertar sobre as tentativas de morte daquela noite em que tentaram mata-lo. Perguntei se, realmente, ele não percebera que tentaram mata-lo, como ele afirmara para o diretor do hospital.
Surpreendentemente, ele me disse que tentaram matar ele sim e que isso não era a primeira vez. Que já tinham tentado outras vezes.
Um enfermeiro que estava próximo ouviu nossa conversa e repreendeu o italiano.
Não gostei do modo como ele falou com o italiano e disse-lhe:
- Olha, ele está falando uma coisa séria. Aqueles enfermeiros naquela noite tentaram matar ele sim. Ele acabou de confirmar.
O enfermeiro se aproximou de mim e disse:
- Pois então, voce sabia que esses dois ai, que voce está falando, foram demitidos? Por sua causa. Agora eles vão enfrentar dificuldades para arrumar novo emprego. Olha só o que você aprontou.
- Mas... Eu não tenho culpa. Eles é que estavam cometendo um crime. Eles deviam agradecer por não serem presos.
- Olha. Você não sabe de nada... Aqui na UTI é um entra e sai de paciente. O movimento é grande. Tem muita gente precisando entrar. Você sabe, a gente precisa desocupar os leitos para recebermos novos pacientes.
- Então... Vocês matam?
- Aqui muita gente morre. Todo dia. Não são todos que se recuperam.
- Então, vocês matam de verdade?
- Na verdade, a gente ajuda a natureza a resolver logo.- respondeu ele tranquilamente.  Mas, só aqueles em estado terminal. – concluiu.
- E por quê? – perguntei curioso.
- Ora, meu caro, o custo de uma UTI é muito alto. Você acha que os planos de saúde conseguem pagar todos os custos? Então a gente faz um reforço de caixa, matando, retirando os órgãos e vendendo.
- Mas... Mas, ninguém desconfia de nada? A família não percebe? – perguntei sem entender nada.
- Deixa eu te explicar. A gente tira os órgãos, fecha o corpo, veste uma bela roupa e entrega para a família o corpo dentro de um caixão, cheio de flores. Você acha que alguém vai tirar o corpo do caixão, tirar a roupa, só para ver se houve retirada de órgãos? – disse ele com um sorriso malandro.
- Que crime perfeito! – conclui estupefato.
Pensei: E agora o que é que eu faço? Tomei conhecimento de um crime e nada posso fazer. Estou entrevado na cama. Ou eu finjo que acho legal o que eles fazem e fico vivo, ou se eu demonstrar que estou contra, eles me matam!
Optei por me entrosar e disse confiante:
- Comigo tudo bem, não é?
- Depende.
- Como depende?  Você me contou todo o esquema. Achei genial. Fique tranqüilo que não vou contar para ninguém. Agora sou da sua turma. Quando sair daqui, vou até dar uma mãozinha para vocês. - disse 
- Você sabe... a gente ganha pouco como empregado. Então, temos que fazer um bico. A gente ganha pelo serviço de encaminhar o paciente. É a nossa parte.
Meu coração disparou. Senti medo e aflição.
Pensei: Calma. Calma. Muita calma. Não posso desesperar. Calma. Preciso agir com inteligencia... O que ele quer, afinal?... Calma. 
- Como assim? – perguntei.
- Se você estiver comigo está com Deus. Ninguém mexe com você.
Percebi que a conversa virou uma extorsão. Perguntei:
- Quanto você quer pra me deixar vivo?
- Você é que sabe.
- Está bem. Pode ser mil reais? – perguntei.
- É pouco...  Você pode mais. Você é doutor....  A gente vê que o senhor é patrão.
- Não é bem assim...
- Doutor! – falou rindo, com ar de deboche e respeito.
- Outra coisa... Eu não tenho dinheiro guardado aqui comigo.
- Eu sei. Peça para sua esposa trazer. Ela está aqui todos os dias, não está?
- Sim, está... Mas ela pode desconfiar. Se pedir muito ela pode por tudo a perder. Sabe como é mulher. Mil reais é muito dinheiro. Está bom, vai.
Como ele não falou nada, disse:
 - A gente é amigão, não é?
- Está bom! Milão... Mas para cada um. - propôs o enfermeiro.
- Como para cada um?
- É para mim e para outro colega que estamos protegendo você.
- Fechado, amanhã vou pedir para minha mulher trazer a grana. Vou dizer que é uma caixinha para vocês, que vocês estão me tratando muito bem. Aquelas coisas.
- Estamos aguardando... Estamos aguardando. Lembra que enquanto isso, a máquina não para. Agiliza. Agiliza...   
Pensei: Que situação! E agora mais pressão. Isso aqui parece um inferno!
Meu coração continuava bater forte. A emoção de passar por aquela situação constrangedora fora muito grande. Mesmo sabendo que consegui encontrar uma solução para o problema, precisava resolver esse problema o quanto antes, para ficar tranquilo.
Era de manhã. Minha esposa veio me visitar. Toda sorridente perguntou como estava. Eu nem quis muita conversa e fui logo dizendo:
- Olha, traz dois mil reais para eu dar de presente para uns enfermeiros.
Ela estranhou e disse:
- Como assim? Porque tudo isso?
- Você não entende. Eu preciso dar esse presente. Eles estão cuidando de mim.
- Mas, a gente só dá na saída. Você sabe disso. E muito menos. Acho muito, Ge
- Cris.. Tem que ser agora. Eu prometi. Não complica.
- A gente não tem esse dinheiro sobrando... O que está acontecendo? Fala para mim, amor.
- Nada. Está tudo bem.
- Você está estranho... Tem alguma coisa que você não quer me dizer.
- Eu não posso falar... Agora. - disse dissimulando e olhando para os lados para ver se não tinha ninguém ouvindo nossa conversa.
- Disfarça. – disse. - Tem gente olhando para nós.
- Como assim? – perguntou minha mulher.
- Aqui é um ambiente perigoso... Só posso falar isso. Traz a grana.... Logo.
- Como assim, perigoso? Não tem perigo nenhum. Você está na UTI. Todo mundo aqui está preocupado em ver você melhorar.
- Por favor, traz a grana.
Ela concordou e disse que meu irmão estava lá fora e queria me ver. Ela disse que iria sair para que ele pudesse entrar. Antes de sair reclamou das regras do hospital que só permitia um visitante por vez na UTI.
Demorou um pouco e apareceu meu irmão Luis.
Segundo relato dele eu olhava com os olhos esbugalhados, parecendo que havia consumido drogas.
- A Cris disse que você quer dar dinheiro para uns enfermeiros. Não precisa, não, Ge.
- Lu, eu preciso dar a grana. Se não, eles me matam!
- Você está imaginando coisas. – disse o Luis rindo.  - Aqui está todo mundo querendo ver você bem. Não tem nada disso.
- Não é assim, Lu.
- Você está viajando...
Pensei: Como viajando? Eu estou aqui dentro e sei de tudo. Ele está lá fora e não sabe de nada. Ele tem que acreditar em mim. Se não estou perdido.
- Se você não acredita em mim, pode ir embora. – disse irritado com a falta de compreensão dele.
- Ge, fica calmo. Você precisa relaxar para se recuperar logo e sair da UTI.
- Lu, é verdade... - insisti.
- Isso é sua imaginação.
Pensei novamente: Não é possível. Ele é tão inteligente e não quer acreditar que aqui dentro tem assassinato! Como é que pode?
Ele sorriu para mim e com um olhar amigo e disse:
- Relaxa. Está tudo bem.
- Lu, acredita em mim.
- Eu acredito, mas os remédios estão fazendo você viajar.
Pensei: Que remédio? Não estou tomando nenhum remédio. Estou bem. Ele é que cego! O pior cego é aquele que não quer ver! Ele não quer me ajudar.
Fiquei indignado com meu irmão. Não entendia o porque. Mas acreditava que ele não queria me ajudar.
            Fechei os olhos e dormi.

                                      continua no próximo capitulo
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