Capitulo XIV – O calculo do
valor da extorsão
Flávio voltou para continuar
nossa negociação.
Estava quase concordando com o
pagamento em cheques, quando raciocinei melhor.
Pensei: Espera ai.... Não. Esse
cara não é bobo, não. Eu dou os cheques na mão dele...o que é que ele vai
fazer? Ele vai pegar os cheques e vai sair correndo para ir no banco. Chegando
lá, ele desconta todos os cheques pré datados na hora.
Olhei para o Flavio para
certificar-me de sua personalidade.
Pensei: Claro que ele vai fazer
isso...Pelo menos tentar ele vai. Olha so o jeitão dele. Ele não é bobo. E vai
conseguir Eu tenho crédito, cheque especial. Assim não vou ter tempo de sustar os cheques. Alem de que sustar cheque não é tão fácil
assim. Vou precisar ir a uma delegacia de policia, fazer um boletim de
ocorrência. Enquanto isso, ele vai lá no banco, todo bonitinho e desconta tudo.
É isso ai. Não posso dar cheques na mão dele. De jeito nenhum!
Dei uma respirada profunda, para
ajudar a ficar calmo, virei a cabeça para os lados, procurando encontrar uma
solução.
Pensei: O melhor é pagar com meu
cartão de crédito. Não é a vista. Não pago na hora. Ele também não consegue
receber assim rapidamente. Demora uns dias. Com isso ganho mais tempo. Posso
sair e com tranquilidade cancelo a operação. É isso mesmo. Esse desgraçado não vai
receber nada.
Aliviado com minha solução, dei
uma risadinha marota. Estava me sentindo esperto.
Chamei o Flavio acenando com
as mãos e disse:
- Olha Flávio, estive
pensando...Sabe, acho melhor pagar com cartão de crédito.
- Como assim? – reagiu Flávio
indignado.
- É que eu não uso talão de cheque.
Pago tudo com cartão de crédito.
- Você está querendo me enrolar,
é?
- Não! Que é isso, meu. Veja bem...
- Você já está me enrolando...
- Flavio
me escuta, por favor. Se eu tiver que pagar com cheque, tem um problema.... Eu
não tenho talão de cheque em
casa. O que eu tinha , acabou. Não tem uma folha. Acabou. Eu
não pedi outro. Eu não uso.
Flavio so me olhava, desconfiado.
Continuei:
- Flavio, pode perguntar para minha mulher. Ela vai
confirmar.
Flavio continuava me olhando, coçando o queixo.
Continuei:
- Flavio, veja so. Ela vai ter
que ir até o banco para solicitar um talão... Isso demora, você sabe.
Pareceu que Flavio estava
aceitando meus argumentos.
Continuei firme:
- Flavio, você quer ou não
resolver isso rápido?... Eu quero...Ah! O cartão também parcela.
Ele pensou um pouco e disse:
- Está bem. Então manda ela trazer o cartão.
Pensei: Legal. Ele entrou na
minha.
Sorri de satisfação. Senti que,
de certa forma, estava conseguindo administrar bem o problema. Isso me
tranqüilizou um pouco mais.
Pensei: Sou mais esperto do que
ele imagina.
Estava tão empolgado com minha
esperteza que continuei a negociação me sentindo por cima.
Disse:
- E o valor? A gente ainda não
falou disso.
- Você paga a conta do hospital.
- Como assim? Pagar a conta do
hospital?
- Você paga a conta do hospital,
ué?
Eu não acreditei.
Pensei: Pagar a conta do
hospital? Esse cara está maluco? Essa conta deve estar alta. E tem mais, ele vai receber do plano de saude!
- Mas, Flavio e o meu plano de
saude? – perguntei.
- Ele também paga, oras bolas.
Recebo duas vezes. – disse Flavio rindo.
Pensei: Que ganância! Filho de
uma puta. Quer ganhar dos dois lados. Que bandido. Salafrário.
- Quanto isso dá? - perguntei, aborrecido.
- Preciso calcular. – falou
Flávio, caminhando.
- Flávio, olha, eu não tenho
muito dinheiro. Vai com calma. Não sou milionário. – falei sério.
- Ro berto,
chama a Saschia para calcular o débito do Zé.
Pensei: Bem esta tudo certo,
mas...sempre tem um mas....
Dei uma risadinha por lembrar da frase sempre tem um mas .
Pensei: Mas, minha mulher não
vai trazer o cartão de crédito assim... sem uma razão. Tenho que justificar.
Acenei para o Flavio e disse:
- Flavio ,
tem outro probleminha... Agora preciso pensar em como justificar para minha
mulher trazer o cartão de crédito aqui.
- Porra Zé! Tudo é problema para
você. Assim vou desistir do negócio.
- Não! Que é isso, meu. Estamos
conversando, cara.
- Então... continuamos falando do negócio?
- Sim! Lógico! – disse.
- Esta certo, Zé. Como você vai
justificar para a patroa?
- Calma, Flávio. Preciso pensar...
E o valor, você já tem?
- Não se preocupe que a Saschia
está levantando o valor direitinho.
- Pede para ela pegar leve. – disse.
- Zé, não muda o assunto. Como você vai justificar?
- Flávio, eu preciso pensar com muita
calma. Não vai ser fácil minha mulher trazer o cartão, assim sem uma razão.
Preciso ter uma boa desculpa.
- Então, Zé, pensa ai, enquanto
termino de fechar a conta.
E saiu andando pela sala,
satisfeito.
- Você vai dar grana para esses
bandidos? – perguntou o italiano.
- Vou fazer o que? Não tenho outra
saída. – respondi.
- Sorte sua que tem grana. No
meu caso eles me matavam na hora.
- Mas, você também não morre. –
disse rindo.
- Vaso ruim não quebra fácil. – respondeu
ele, rindo também.
- É...a gente tem que rir para
não chorar. E o seu pau, como está?
- Dá para eu fazer xixi. Depois
que sair dou um jeito. Ponho uma prótese. Sei lá.
- Hei, vocês dois ai. Que tanto conversam?
Parecem comadres. – falou um dos capatazes do Flávio.
Flávio voltou para o pé da minha
cama e perguntou:
- Zé, já pensou na justificativa
para a patroa?
- Já.
- Então manda.
- Sabe Flávio, vi na televisão
que houve uma maxidesvalorização. Então...vou dizer que fiquei sócio de um
negócio de importação, antes da cirurgia. Sabe como é, precisava ter um
negócio. Estou sem emprego, você sabe.
- Esta certo, Zé, mas qual é a
idéia?
- Então, a empresa tinha crédito
lá fora. Comprou a mercadoria. Ficou de pagar depois que vendesse aqui no
Brasil. Compramos faturado...
- Estou entendo. Mas, e ai?
- E ai que a minha empresa recebeu
a mercadoria importada. Vendeu com base no valor do dólar antes da alta. Agora
precisa pagar. Como não compramos dólares antes e o dólar subiu, ficamos no
prejuízo. Entendeu?
- Entendi.
- Eu agora, como sócio, preciso
integralizar minha parte no prejuízo. Que tal? – conclui.
- Boa! Gostei, Zé. Você tem cada
idéia... Vou preparar o contrato dessa empresa e da divida. Comigo é tudo no
papel. Preto no branco.
Havia uma máquina um tanto
esquisita que imprimia os contratos. Eram várias folhas. Nunca tinha visto um
contrato tão longo. Coisas de advogado. O Flávio é advogado.
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