sexta-feira, 27 de junho de 2014

Uma experiencia bio desagradavel - capitulo XIV

Capitulo XIV – O calculo do valor da extorsão

Flávio voltou para continuar nossa negociação.
Estava quase concordando com o pagamento em cheques, quando raciocinei melhor.
Pensei: Espera ai.... Não. Esse cara não é bobo, não. Eu dou os cheques na mão dele...o que é que ele vai fazer? Ele vai pegar os cheques e vai sair correndo para ir no banco. Chegando lá, ele desconta todos os cheques pré datados na hora.
Olhei para o Flavio para certificar-me de sua personalidade.
Pensei: Claro que ele vai fazer isso...Pelo menos tentar ele vai. Olha so o jeitão dele. Ele não é bobo. E vai conseguir Eu tenho crédito, cheque especial.  Assim não vou ter tempo de sustar os cheques.  Alem de que sustar cheque não é tão fácil assim. Vou precisar ir a uma delegacia de policia, fazer um boletim de ocorrência. Enquanto isso, ele vai lá no banco, todo bonitinho e desconta tudo. É isso ai. Não posso dar cheques na mão dele. De jeito nenhum!
Dei uma respirada profunda, para ajudar a ficar calmo, virei a cabeça para os lados, procurando encontrar uma solução.
Pensei: O melhor é pagar com meu cartão de crédito. Não é a vista. Não pago na hora. Ele também não consegue receber assim rapidamente. Demora uns dias. Com isso ganho mais tempo. Posso sair e com tranquilidade cancelo a operação. É isso mesmo. Esse desgraçado não vai receber nada.
Aliviado com minha solução, dei uma risadinha marota. Estava me sentindo esperto. 
Chamei o Flavio acenando com as mãos e disse:
- Olha Flávio, estive pensando...Sabe, acho melhor pagar com cartão de crédito.
- Como assim? – reagiu Flávio indignado.
- É que eu não uso talão de cheque. Pago tudo com cartão de crédito.
- Você está querendo me enrolar, é?
- Não! Que é isso, meu. Veja bem...
- Você já está me enrolando...
- Flavio me escuta, por favor. Se eu tiver que pagar com cheque, tem um problema.... Eu não tenho talão de cheque em casa. O que eu tinha , acabou. Não tem uma folha. Acabou. Eu não pedi outro. Eu não uso.
Flavio so me olhava, desconfiado.
Continuei:
- Flavio,  pode perguntar para minha mulher. Ela vai confirmar.
Flavio continuava me olhando, coçando o queixo.
Continuei:
- Flavio, veja so. Ela vai ter que ir até o banco para solicitar um talão... Isso demora, você sabe.
Pareceu que Flavio estava aceitando meus argumentos.
Continuei firme:
- Flavio, você quer ou não resolver isso rápido?... Eu quero...Ah! O cartão também parcela.
Ele pensou um pouco e disse:
- Está bem. Então manda ela trazer o cartão.
Pensei: Legal. Ele entrou na minha.
Sorri de satisfação. Senti que, de certa forma, estava conseguindo administrar bem o problema. Isso me tranqüilizou um pouco mais.
Pensei: Sou mais esperto do que ele imagina.
Estava tão empolgado com minha esperteza que continuei a negociação me sentindo por cima.
Disse:
- E o valor? A gente ainda não falou disso.
- Você paga a conta do hospital.
- Como assim? Pagar a conta do hospital?
- Você paga a conta do hospital, ué?
Eu não acreditei.
Pensei: Pagar a conta do hospital? Esse cara está maluco? Essa conta deve estar alta. E tem mais, ele vai receber do plano de saude!
- Mas, Flavio e o meu plano de saude? – perguntei.
- Ele também paga, oras bolas. Recebo duas vezes. – disse Flavio rindo.
Pensei: Que ganância! Filho de uma puta. Quer ganhar dos dois lados. Que bandido. Salafrário.
- Quanto isso dá?  - perguntei, aborrecido.
- Preciso calcular. – falou Flávio, caminhando.
- Flávio, olha, eu não tenho muito dinheiro. Vai com calma. Não sou milionário. – falei sério.
- Roberto, chama a Saschia para calcular o débito do Zé.
Pensei: Bem esta tudo certo, mas...sempre tem um mas....
Dei uma risadinha por lembrar da frase sempre tem um mas .
Pensei: Mas, minha mulher não vai trazer o cartão de crédito assim... sem uma razão. Tenho que justificar.
Acenei para o Flavio e disse:
- Flavio, tem outro probleminha... Agora preciso pensar em como justificar para minha mulher trazer o cartão de crédito aqui.
- Porra Zé! Tudo é problema para você. Assim vou desistir do negócio.
- Não! Que é isso, meu. Estamos conversando, cara.
- Então... continuamos falando do negócio?
- Sim! Lógico! – disse.
- Esta certo, Zé. Como você vai justificar para a patroa?
- Calma, Flávio. Preciso pensar... E o valor, você já tem?
- Não se preocupe que a Saschia está levantando o valor direitinho.
- Pede para ela pegar leve.  – disse.
- Zé, não muda o assunto. Como você vai justificar?
- Flávio, eu preciso pensar com muita calma. Não vai ser fácil minha mulher trazer o cartão, assim sem uma razão. Preciso ter uma boa desculpa.
- Então, Zé, pensa ai, enquanto termino de fechar a conta.
E saiu andando pela sala, satisfeito.
- Você vai dar grana para esses bandidos? – perguntou o italiano.
- Vou fazer o que? Não tenho outra saída. – respondi.
- Sorte sua que tem grana. No meu caso eles me matavam na hora.
- Mas, você também não morre. – disse rindo.
- Vaso ruim não quebra fácil. – respondeu ele, rindo também.
- É...a gente tem que rir para não chorar.  E o seu pau, como está?
- Dá para eu fazer xixi. Depois que sair dou um jeito. Ponho uma prótese. Sei lá.
 - Hei, vocês dois ai. Que tanto conversam? Parecem comadres. – falou um dos capatazes do Flávio.
Flávio voltou para o pé da minha cama e perguntou:
- Zé, já pensou na justificativa para a patroa?
- Já.
- Então manda.
- Sabe Flávio, vi na televisão que houve uma maxidesvalorização. Então...vou dizer que fiquei sócio de um negócio de importação, antes da cirurgia. Sabe como é, precisava ter um negócio. Estou sem emprego, você sabe.
- Esta certo, Zé, mas qual é a idéia?
- Então, a empresa tinha crédito lá fora. Comprou a mercadoria. Ficou de pagar depois que vendesse aqui no Brasil. Compramos faturado...
- Estou entendo. Mas, e ai?
- E ai que a minha empresa recebeu a mercadoria importada. Vendeu com base no valor do dólar antes da alta. Agora precisa pagar. Como não compramos dólares antes e o dólar subiu, ficamos no prejuízo. Entendeu?
- Entendi.
- Eu agora, como sócio, preciso integralizar minha parte no prejuízo. Que tal? – conclui.
- Boa! Gostei, Zé. Você tem cada idéia... Vou preparar o contrato dessa empresa e da divida. Comigo é tudo no papel. Preto no branco.
Havia uma máquina um tanto esquisita que imprimia os contratos. Eram várias folhas. Nunca tinha visto um contrato tão longo. Coisas de advogado. O Flávio é advogado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é bem vindo!
Agradeço sua participação.