Capitulo XV – Reviravolta nas
negociações
Flavio estava sentado na cadeira
da Dra. Kátia.
Virou-se para mim, girando na
cadeira, com as pernas levantadas e disse:
- Zé a conta deu oitenta e cinco
mil, quinhentos e trinta e quatro reais e setenta e dois centavos.
- Puxa!Tudo isso?...Olha,
Flavio, até os centavos você cobra?
- Está bem, Zé. Vou arredondar para você. São oitenta e seis
mil.
- Hei! Espera ai. Você aumentou
o valor.
- Você não pediu para
arredondar?
- Sim! Mas, para baixo, meu.
- Eu só arredondo para cima.
Pensei: esse cara não é
fácil...quer ganhar sempre.
- Flavio, escuta ai. Isso é muito grana. Eu não tenho todo esse
dinheiro. – disse.
- Roberto...
Roberto, vem aqui. – chamou Flavio acenando
para ele.
- Pois não, senhor Flávio.
- Roberto,
teu pai não é o bam bam bam do Tribunal de Justiça? Desembargador, não é?
- Sim. Ele é desembargador e
presidente do Tribunal.
- Então...Liga para ele... Pede
para ele entrar na conta bancária do Zé.
- Sim, vou providenciar. E os
dados dele?
- Pega ai no prontuário dele.
Pensei: Ai, ai, ai. O que é que
esses caras vão aprontar?....Juiz entra na conta da gente “on line” e saca tudo.
Isso eu sei. E presidente do Tribunal... vai fazer a festa.
Roberto entrou
em uma sala, sentou-se em uma mesa.
Ouvi ele falar ao telefone:
- Oi pai, bom dia...Desculpe
ligar cedo... Não, pai, esta tudo bem comigo.... Não, pai. Não aconteceu nada. Fica
tranquilo, pai. Olha, so estou ligando porque surgiu um probleminha aqui...Não,
pai, não é nada comigo. Fica tranqüilo...Então, pai, é um probleminha aqui na empresa. Preciso de sua
ajuda. Coisa rápida. Preciso que você consulte a conta bancária de
um devedor aqui do Flavio... É... O Flávio do Medial... Tem um cara que
deve para ele e não quer pagar. Diz que não tem grana... É pai, devedor é tudo
igual. Alega sempre que não tem grana.
Tudo pilantra....Pois é, pai para não
pagar alegam tudo... Então, pai, preciso que você entre na conta bancaria dele...Sim,..
é isso mesmo. Preciso que voce veja o saldo bancário dele.
Pensei: Esse cara vai descobrir
quanto eu tenho no banco. Estou ferrado. Puta que te pariu! Esses caras são
foda. Mafiosos!
Enquanto o Flávio acompanhava
com Saschia o montante do meu débito no hospital, Roberto
continuava consultando, pelo telefone, o pai dele.
Ouvi Roberto
dizer:
- Como, pai?... Ele tem conta no
exterior?
- Zé...escondendo o leite, não
é? – falou Flávio rindo.
- Não! Eu não tenho conta no
exterior coisíssima nenhuma. Se encontrar alguma coisa, pode pegar tudo.
Pensei: Eles estão malucos. Não
tenho conta no exterior. Se eles acham que eu tenho então que peguem a de lá e
deixem a daqui quieta.
Lembrei que Paulo Maluf, político, certa
vez quando descobriram que ele tinha conta no exterior, afirmava que não tinha
conta e falou a mesma coisa. Então repeti:
- Pode pegar tudo. Eu dou
procuração.
Ri da coincidência de resposta,
até porque no meu caso, realmente eu não tenho conta bancária no exterior.
Pensei: Será que eles trocaram o
meu nome e estão entrando em conta de outra pessoa? So pode ser isso. Bem, melhor
para mim. Não pegam meu dinheiro. Depois a outra pessoa resolve.
- Não, Roberto.
Do exterior deixa quieto. Veja só aqui no Brasil. – falou Flávio. – Deixa a
conta lá de fora para ele.
- Então, pai, bloqueia tudo....
Inventa que ele está com uma execução sumaríssima... Sim, pai, a gente prepara
o documento... Está bem pai, a gente envia ainda agora pela manhã... Sim,
pai, a gente envia toda a documentação.
Fica tranquilo... Obrigado, pai...bom dia pra você também - disse Roberto no telefone.
Pensei: Agora perdi tudo. Mas,
que enrascada que eu me meti. Os caras entraram na minha conta bancária.
Bloquearam tudo. Como minha mulher vai pagar as contas de casa? Isso é uma
injustiça. Deram poder para os juízes... agora eles estão super poderosos. Isso
precisa acabar. Que loucura!
Estava inquieto. E preocupado. Precisava
avisar minha mulher do bloqueio da conta.
Pensei: Vou tentar avisar minha
mulher telefonando para minha casa, para ela tomar providencias junto ao meu
irmão, meu tio Paulo, Marilu. Eles
são da área e podem me ajudar.
- Flávio, eu preciso telefonar
para minha mulher – disse.
- Para que?
- Para pedir o cartão.
- Não precisa. Dá o numero que a
gente liga.
- É melhor eu falar...
- Que nada. Roberto, liga para
casa do Zé.
- Como é que a tua esposa se
chama, Zé?
- Cristina. – respondi.
- Então, Roberto,
liga para a dona Cristina e avisa que o Zé vai mandar alguém ai na casa dele,
para buscar o cartão de credito.
- E se ela perguntar do porque?
- Diz para ela que ele precisa pagar
uma divida... Depois, manda alguém ir la na casa dele buscar o cartão.
- Quem eu mando?
- Roberto,
manda a policia. Chama meus amigos lá na policia, meu.
Pensei: A coisa virou por
completo... Estava me achando esperto, mas esses caras...São mais espertos
ainda. Eles pensam em tudo. O
que é que eu faço agora?
- Flávio, encontrei mais umas
despesas, que não estavam contabilizadas. – disse Saschia.
- Zé a conta aumentou...
- Flávio, o que é que você quer
que eu faça?
- Pague.
- Não é isso que vou fazer?
Quanto agora deu a brincadeira?
- São mais dois mil e duzentos e
cincoenta reais. Do medicamento da
semana, não é Saschia?
- Acrescenta na conta. – disse.
Vi os raios do sol entrando pela
janela. A manhã chegou.
Eles não paravam de emitir
contratos, de fazer contas. Parecia um escritório de negócios.
Pensei: Quando eles vão parar?
Enquanto isso ninguém era
atendido pelos enfermeiros.
E aquela máquina continuava imprimindo papéis e
mais papéis.
De repente, escutei um barulho
infernal de sirenes, vindo do andar térreo do hospital.
Pensei: Eles chegaram! A policia
foi de manhã em minha
casa. O que é que os vizinhos vão pensar? E do jeito que o Flavio
é amigo da cúpula da policia civil, eles mandaram a “Garra”. Deve ter sido um
barulhão na minha rua.
Flávio e o Roberto sairam da
UTI, para recepcionar os policiais.
Escutei mais barulhos de sirenes
e brecadas, com os pneus cantando.
Como a televisão estava ligada,
vi que havia um repórter dentro de um helicóptero de uma emissora de televisão,
sobrevoando o hospital.
O reporter falava que havia
muitos veículos da “Garra” e da “Rota”.
Informava que havia uma disputa entre a policia civil e a militar em frente ao
hospital.
Pensei: É coisa do Luis. A
Cristina ou o Rodrigo devem ter
ligado para a casa dele, quando a Garra chegou em casa. Ele trabalha junto
ao comando da Policia Militar. Deve ter pedido para algum comandante, amigo
dele, chamar a Rota. Agora vai
neutralizar a força do Flávio. Empatou.
O barulho das sirenes não
parava. Estava um alvoroço.
Pensei: Será que o Flávio não
fica preocupado com toda essa bagunça bem na porta do hospital? Pega mal.
Passou-se uma meia hora e o
Flávio retornou com meu cartão de crédito na mão dele.
- A sua filha Michelle trouxe o cartão. –
disse o Flávio, abanando o cartão.
- Ela está ai? – perguntei.
- Está.
- Quero falar com ela.
- Não! Agora não. Depois. Ela
está em uma sala aguardando.
Flávio entregou meu cartão na
mão da Saschia e disse:
- Saschia passa o cartão do Zé.
Pensei: Puta que pariu! Eles
estão com meu cartão na mão. Atrás tem o código de segurança. Com esse código
eles podem sacar quanto quiserem. Sem assinatura! Não era para minha filha
entregar o cartão na mão deles. Que cagada que eu fiz. Devia ter dado o cheque.
Pelo menos era o valor combinado. Agora com meu cartão dando sopa... eles vão
fazer a festa.
Saschia me olhava com seus
olhinhos azuis, com uma cara de ingênua, mas eu sabia que ela era pilantra.
Fazia parte da gangue.
- Saschia, você já passou o
cartão? – perguntei.
- Já.
- Quanto deu?
- Cento e vinte mil e pouco.
- Saschia, era bem menos...
- Fala com o Flávio, Zé. Não
posso fazer nada. O valor é esse.
- Não! Era bem menos.
- É que eu descobri mais contas
para você pagar.
- Saschia, como assim? Que mais despesas você descobriu? Você já
tinha fechado um valor. Era bem menor.
- O valor é esse, Zé. O cartão
aceitou...eu passei...- concluiu ela.
Pensei: Que cambada de bandidos.
Ladrões. Assassinos. Saindo daqui eu vou lutar para botar todos na cadeia. Ah! Se vou. Custe o que custar.
Olhei para o canto direito e vi ao
longe que havia uma salinha, que eu não tinha observado antes.
Olhei melhor e como a porta
estava aberta, vi um vulto que parecia a minha filha Michelle, sentada, de
costas para mim.
Pensei: Ela está lá. Aguardando
eles devolverem meu cartão.
- Saschia, dá para voce devolver
o meu cartão, por favor.
- Não posso, Zé. Isso é com o
Flávio.
- Não... Sabe o que é? Minha
filha está ali fora, esperando... – disse apontando para a salinha onde tinha
visto minha filha.
- Zé, aguarda o Flávio voltar.
Ai ele resolve tudo isso.- respondeu ela, que continuou fazendo o seu trabalho.
Uma enfermeira percebeu que eu
estava olhando em direção da salinha onde estava minha filha. Rapidamente, ela fechou
um pouco a cortina lateral da minha cama, impedindo que eu continuasse vendo.
- Deixa aberta, por favor –
pedi.
- Não. Não pode. Tem que fechar.
- respondeu a enfermeira, puxando a cortina ainda mais.
Pensei: Aqui todo mundo obedece
ao Flávio. Que cambada. Ainda bem que agora vou sair daqui.
Tentei olhar para a salinha e vi
tirarem da sala uma mulher desmaiada.
Pensei: Ai, ai, ai, ai. O Flávio
vai estuprar a Michelle. E ela está grávida. Vai perder o bebe. O que eu é que
eu faço?... Não. Isso não vai acontecer. Melhor nem pensar... Eu mato esse desgraçado.
Eu mato...Não. Não, isso não vai acontecer. Pensamento positivo. Pensamento
positivo.
- Saschia. Por favor, onde está
minha filha? – perguntei assustado.
- Zé, não se preocupe. Está tudo
bem.
- Não está não. Saschia, por
favor, eu preciso falar com ela. Agora! Onde está o Flávio?
- Deu uma saidinha e já volta.
- Onde ele está?
- Como vou saber? Ele saiu e já
volta.
- Não. Não. Chama o Flávio.
Estava desesperado.
- Senhor José. O senhor está
muito agitado. Se o senhor não se comportar vou ser obrigada a amarrá-lo de
novo. – sentenciou Saschia.
Pensei: Amarrar? Não. Não
agüento. Vou ficar quieto.
Eu estava muito preocupado com
minha filha. Não podia fazer nada. Tentei levantar da cama. Mas, não conseguia
levantar. Bem que eu tentei.
Nisso vieram uns enfermeiros e
me amarraram.
O telefone tocava sem parar. Um
enfermeiro atendeu uma ligação e disse:
- Saschia é para você. Atende ao
telefone. É da família do senhor José..estão querendo falar com o sócio dele....
Sócio? – perguntou o enfermeiro intrigado.
- Pode deixar que eu resolvo,
obrigada.
- Alô! – atendeu Saschia. - Sim.
É da importadora... Não, ele não está. Está viajando. Está na Europa... Não, eu
não tenho outro telefone dele... O Senhor José? Sim, é sócio dele... Pelo que
eu sei, ele deve sim....Esses detalhes não sei informar... Até logo. – conclui e
desligou o telefone.
Pensei: Será que é a minha
família no telefone? Deve ser. Eles devem estar querendo confirmar se sou sócio
da importadora. É isso ai. Mas... Caramba. Ninguém desconfia que o mesmo numero
do telefone da importadora é o da UTI?... Oooo gente que não pensa direito.
Lembrei, então que fazia parte
do acordo minha saída da UTI. Com toda aquela confusão havia me esquecido.
- Saschia, e a minha saída da
UTI? – perguntei.
- Não, você não vai sair.
- Como assim? Lógico que vou
sair. Fazia parte do acordo com o Flávio. – respondi nervoso.
- Voce não pode sair. Você ainda
não está bem.
- Saschia, o Flávio prometeu. Eu
pagava e eu saia.
- Senhor José, fique calmo. É
para o seu bem. O senhor sabe que não está bem.
Pensei: Que filhos da puta!
Pegaram minha grana e não me libertaram. Seqüestradores desgraçados!
Vi que Saschia mexeu em um dos
refis no porta soro.
Pensei: Ela deve ter aumentado a
dose de dormonid para me dopar.
Dormi.
continua no próximo capitulo